PARABÉNS, TEATRO RITUAL!
E passamos por mais um Encontro de Atores-Criadores. Este ano na sua sexta
versão, já aconteceu de tudo nos outros anos: mostras de grupos de fora, homenagens a
grupos do estado, oficinas buscando intercâmbio artístico e até orientação do
empresariado sobre investimentos em projetos culturais.
Esse pessoal do Teatro Ritual é muito inquieto, é o que o diga Nando Rocha,
batalhador diário na estruturação do grupo e do trabalho a curto, médio e longo prazo.
Nando às vezes parece captar os talentos e os direcionar, e às vezes parece ir onde é a
fragilidade e dizer, você tem que aprender a fazer isso. Pablo com suas soluções
mediadoras e sábias e sempre pronto para o trabalho. Ilka a que se dispõe a se
comunicar com todos e a salvar a coisa onde quer que ela esteja. Jô que sai arrumando,
organizando, e dando ordem na casa e em quem estiver parado. E o grupo vai junto,
sempre acreditando, cada um com suas qualidades específicas também no trabalho de
ator.
Tenho sorte por poder sentir de perto essa busca constante e esse ambiente
aconchegante...de afeto, de amor. Briga todo mundo briga, até mesmo para resistir. Acho
mesmo que um dos lemas mais importantes do grupo é esse: Resistência!
Resistir muitas vezes não é bater de frente, é ir andando como a água, passando
por entre, ao redor...CRIATIVAMENTE...talvez por caminhos não antes trilhados. Mesmo
que o outro resista em ser amado, eu resisto a isso. E é um amor pela cidade, um amor
pelos colegas, uma vontade louca de compartilhar!
Parabéns, Teatro Ritual, por tudo!
Andrea Pita
ATOR-CRIADOR
Ator-criador me remete primeiro à Commedia dell´Arte. Diz-se que é o primeiro
momento na história em que há a profissionalização do ator. Ele vive disso e pronto.
Quem assistiu “A viagem do Capitão Tornado” de Ettore Scola, história de uma
troupe de Commedia dell´arte que perambula pela Europa, percebe o quanto a vida se
misturava com a arte e que os atores criavam repertório corporal, vocal e de piadas,
chistes e gags para as apresentações durante as longas viagens de carroça.
Lembro-me de Tiche Vianna na Unicamp falando desse momento quase lendário
que aconteceu nas feiras do século XV. O cara deixa de vender alimentos ou objetos e
passa a vender a si próprio, a sua habilidade com malabarismo, com acrobacia, de fazer
rir ... e sempre dar um jeito de chamar mais atenção que o outro da carroça ao lado. Daí a
arte – técnica - tinha de ficar cada vez mais interessante. E tinha de ser aprimorada, o que
levava tempo, levava a vida. A arte é longa, a vida é breve.
E dizem q determinadas famílias guardavam a 7 chaves os segredos da Commedia
italiana. Como nas famílias circenses, passava-se este saber, este conhecimento de pai
para filho. Talvez Dario Fo não fosse Dario Fo sem ter se casado com Franca Rame,
herdeira de uma dessas famílias dell´Arte. E não é que ele ganhou o Prêmio Nobel de
literatura com o livro “Manual Mínimo do Ator”, no qual ora fala das especificidades de
Pulcinella, ora descreve um lazzo, ora põe artifícios da Commedia em personagens de
outra procedência?
Dario Fo conseguiu através do livro tornar mais acessível aquele modus operandi,
ao qual não se chega somente através de roteiros nem de descrições psico-corporais de
tipos como Arlecchinno, Brighella, Pantallone...Afinal foram anos, séculos de construção
de conhecimento. Improvisações sobre improvisações, coleta de repertório, descoberta
dos momentos exatos de funcionamento das piadas, o risível onde não se imaginava, a
criação a partir do que deu errado – quem se lembra do momento de estréia do novo
Capitão Tornado no filme?
Os atores da Commedia não criavam numa sala de ensaio como hoje, mas no dia-
a-dia da vida andante. E roteiros e textos são simplórios diante de todo o arsenal técnico
de comicidade que eles desenvolveram. Penso que este pode ser considerado um tempo
mítico para os atores-criadores.
Andrea Pita
VI ENCONTRO DE ATORES-CRIADORES E EDUARDO OKAMOTO
Este ano o VI Encontro de Atores-Criadores fez uma parceria com Eduardo
Okamoto através do projeto “10 Anos por uma Escrita do Corpo”.
Indicado ao Prêmio Shell 2009 como Melhor Ator, seus espetáculos foram
apresentados em diversas cidades do país e também no exterior: Espanha, Suíça,
Kosovo, Marrocos. Mestre e doutor pela Unicamp, consegue aliar uma importante vida
artística com rigorosa reflexão intelectual a partir de uma pesquisa empírica de ator-
criador.
Okamoto já havia participado de outro encontro com espetáculo, mas este ano ele
trouxe 3 espetáculos, dois como ator e um como diretor, fez uma palestra-demonstração e
deu um workshop na Faculdade de Artes Cênicas da UFG.
Andrea Pita