No decorrer dessa Travessia que nós do Grupo Teatro Ritual estamos percorrendo, trabalhos maravilhosos e aprendizados preciosos estão surgindo a cada dia. Dentre as fontes de inspiração que contriburam para que isto ocorra, está o intercâmbio que realizamos com a dançarina americana Joan Lagge, em Seattle, nos EUA. Quero compartilhar aqui um pequeno texto das impressões que tive com um dos trabalhos realizados lá:
Exercício da pedra:
A pedra é o elemento que mais vive e irá viver na face da terra. Apesar de sempre estar no mesmo lugar (se não houver alguma interferência exterior), ela sempre está em transformação, de acordo com o ambiente em que se encontra, o tempo e os outros seres e elementos que a cercam. O corpo do butoh, é como essa pedra, não precisa fazer coisas para se transformar, somente estar a mercê do que vem exteriormente e interiormente. Há também o musgo que cobre essa pedra em certas partes do planeta. O musgo é um elemento vivo, que se alimenta e reproduz. Esse musgo causa interferências na pedra, que muda completamente sua transformação natural. Joan pediu para que dançássemos essa pedra em transformação, com todo o seu peso e tensão. E pediu para que percebêssemos, qual era a sensação de ter percorrido tempos e tempos a fio, carregando todas as lembranças do mundo em seu corpo. Vendo os ancestrais dos ancestrais nascerem e morrerem. Passando por todas as alegrias, tristezas e outros sentimentos que talvez somente elas conheçam. Em algum dos dias que fiz, não me recordo qual, consegui sentir meu corpo todo tensionado, uma sensação de que meus poros estavam mais sensíveis que tudo e percebiam todos os movimentos a sua volta, e a qualquer toque sentia um prazer e uma dor incalculáveis, como se vários falos estivessem entrando em cada um deles. Demorei um pouco para chegar a esse estado, todas as vezes que fazia o exercício somente mergulhava em minha imaginação, e fazia o que imaginava, não dançava as sensações do nada, do não saber o que é a vida de uma pedra no entanto, ser essa pedra. Logo depois Joan pedia para que sentíssemos o musgo que cobria a pedra. Como e seria ter uma vida em cima de mim, fazendo parte de mim, me trazendo outras sensações e prazeres, como dois amantes. A coisa fica mais leve nesse momento, ao menos para mim. Ao invés de sentir a paixão queimando meu corpo, passei a sentir o amor refrescando minha alma. Algo fresco que se espalhava por todo meu corpo e ao mesmo tempo áspero. Corria as mãos por minha pele e sentia que havia me transformado em um monstro, por fora. Após esse momento, do musgo, tentávamos estabelecer relações entre uns e outros, trocando as pedras que carregávamos em nossas mãos. A cada pedra que passava por mim, sentia o calor que o outro havia deixado, daí eu já não era mais a pedra, mas as sensações que ela sentia. Algumas vezes sentia o grupo um pouco disperso e logo me dispersava também. Formávamos um bolo que se transmutava a cada segundo. Um bolo de gente.
A pedra é o elemento que mais vive e irá viver na face da terra. Apesar de sempre estar no mesmo lugar (se não houver alguma interferência exterior), ela sempre está em transformação, de acordo com o ambiente em que se encontra, o tempo e os outros seres e elementos que a cercam. O corpo do butoh, é como essa pedra, não precisa fazer coisas para se transformar, somente estar a mercê do que vem exteriormente e interiormente. Há também o musgo que cobre essa pedra em certas partes do planeta. O musgo é um elemento vivo, que se alimenta e reproduz. Esse musgo causa interferências na pedra, que muda completamente sua transformação natural. Joan pediu para que dançássemos essa pedra em transformação, com todo o seu peso e tensão. E pediu para que percebêssemos, qual era a sensação de ter percorrido tempos e tempos a fio, carregando todas as lembranças do mundo em seu corpo. Vendo os ancestrais dos ancestrais nascerem e morrerem. Passando por todas as alegrias, tristezas e outros sentimentos que talvez somente elas conheçam. Em algum dos dias que fiz, não me recordo qual, consegui sentir meu corpo todo tensionado, uma sensação de que meus poros estavam mais sensíveis que tudo e percebiam todos os movimentos a sua volta, e a qualquer toque sentia um prazer e uma dor incalculáveis, como se vários falos estivessem entrando em cada um deles. Demorei um pouco para chegar a esse estado, todas as vezes que fazia o exercício somente mergulhava em minha imaginação, e fazia o que imaginava, não dançava as sensações do nada, do não saber o que é a vida de uma pedra no entanto, ser essa pedra. Logo depois Joan pedia para que sentíssemos o musgo que cobria a pedra. Como e seria ter uma vida em cima de mim, fazendo parte de mim, me trazendo outras sensações e prazeres, como dois amantes. A coisa fica mais leve nesse momento, ao menos para mim. Ao invés de sentir a paixão queimando meu corpo, passei a sentir o amor refrescando minha alma. Algo fresco que se espalhava por todo meu corpo e ao mesmo tempo áspero. Corria as mãos por minha pele e sentia que havia me transformado em um monstro, por fora. Após esse momento, do musgo, tentávamos estabelecer relações entre uns e outros, trocando as pedras que carregávamos em nossas mãos. A cada pedra que passava por mim, sentia o calor que o outro havia deixado, daí eu já não era mais a pedra, mas as sensações que ela sentia. Algumas vezes sentia o grupo um pouco disperso e logo me dispersava também. Formávamos um bolo que se transmutava a cada segundo. Um bolo de gente.
Ass: Jô de Oliveira
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