Entrevista de Ilka Portela (por Andrea Pita)

A . P . :
Ilka, fala um pouco do que você faz no Teatro Ritual.

I. P. :
Tudo. (risos)

A . P . :
E mais um pouco...(risos)

I. P. : Bom, a gente tem um sistema de dividir funções no grupo. No ano passado eu tinha ficado responsável por agendar as apresentações do Ciranda da Arte. Marcava, cancelava, remarcava com os professores das modalidades, por exemplo. Esse ano eu coordenava a pessoa que cuidava da produção. Na parte de produção, eu também monto projetos com os meninos...a gente monta, manda pras leis. Agora que a gente tá sem ninguém na produção, voltou pra mim essa função de agendar apresentações. Sou atriz também, sou atriz não só produtora(risos). E nesse ano também estou puxando o treinamento. Quando entrei no grupo, geralmente quem dava os treinamentos era o Nando ou o Pablo, eles ficavam revezando entre si. Esse ano a gente tá com uma proposta diferente. Depois que a gente teve um intercâmbio com o Victor, eu e a Jô também começamos a assumir a batuta, a Jô puxou um mês de treinamento, eu tô puxando esse.

A . P . : E como é feito com os projetos?

I. P. : A gente já passou por várias fases dentro do grupo nessa parte de dividir os projetos. No início eu lembro que quando entrei não sabia montar projeto nem nada. Eu buscava orçamentos e fazia declarações. Depois os meninos foram ensinando a gente e comecei a aprender mais. A gente também começou a fazer um projetinho pessoal, com todos os requisitos de um projeto mesmo, como justificativa, metas, objetivos, estratégias de ação. Aos poucos então gente foi pegando outras funções, de por exemplo redigir mesmo um projeto. Eu geralmente pego esboços e vou montando em cima. Depois o Nando dá uma revisada, olha se precisa de alguma coisa, e aí a gente fecha.

A . P . : E como foi a criação desse projeto pessoal, tinha a ver com o seu solo?

I. P. : É que no início daquele ano a gente decidiu fazer um projeto pessoal pro ano inteiro. Lembro que no meu alguns dos objetivos eram montar um espetáculo solo e fazer um curso de inglês, porque até mesmo metas pessoais entravam dentro do projetinho. Foi meio frustrante porque poucas das metas e objetivos foram atingidos, mas ao mesmo tempo foi bom porque muitos dos objetivos que eu não consegui atingir foi porque eu alcancei outros que não estavam previstos antes. Foi frustrante, mas foi bom ao memo tempo...

A . P . : Já tinha perguntado isso pra Jô, e agora pergunto pra você, já que vocês entraram tão novas no grupo...em que você percebe que amadureceu?

I. P. : Na verdade eu vejo um amadurecimento meu, pessoal, em vários sentidos. Eu me olho no espelho e vejo outra pessoa completamente diferente...completamente! E a coisa não é só física, é mais profunda mesmo. Quando eu entrei no grupo, eu tava na minha adolescência e passando pra fase adulta. Eu tinha muitas questões, que hoje estão mais bem resolvidas. Estou mais organizada, mais equilibrada, me sinto mais madura e mais exigente também. Acho que isso acontece pelo convívio que tenho com os meninos...o Nando, por exemplo, tem uma coisa de ser perfeccionista e com a convivência, a gente vai pegando, se contaminando, assim como tem coisas da gente que eles pegam também. E aí o amadurecimento acontece a cada dia, com as trocas do que cada um tem de bagagem.

A . P . : Ilka, parece que você começou a fazer teatro com o Pablo, no Rui Barbosa, e aí depois começou a participar de uma montagem que o Nando estava fazendo no Lyceu. Em seguida passou também a participar de treinamentos diários que Nando e Pablo ofereciam. No entanto, você não participou da próxima montagem do grupo como atriz. Explica como foi acontecendo a entrada no grupo.

I. P. : Foi um embate pra mim. Quando os meninos me convidaram para fazer o espetáculo, eu lembro que eu tava na minha adolescência e com um monte de questões . Então eu travei num momento em que eu tinha que decidir ou montar o espetáculo ou não montar, ou estar no grupo ou não estar. Eu me vi diante de uma decisão a ser tomada e me senti tão fraca que desisti. Mas desiti do espetaculo, porque continuei acompanhando os meninos...as coisas da produção eu sempre perguntava em que podia ajudar. Eu tinha desistido do espetáculo inclusive porque tinha problemas também com a minha família - com relação a fazer teatro...com a minha mãe, por exemplo. Eu era muito nova , e minha mãe não tinha cortado o cordão umbilical ainda, tinha aquela coisa super protetora dos meus pais, de eu não poder dormir fora , de não chegar tarde em casa e que foi muito difícil de cortar. Então naquele momento eu não me senti preparada pra chegar nos meus pais e dizer: olha, é isso e pronto. E acho que eles também não estavam preparados pra isso. Mas continuei na produção, que foi um caminho mais tranquilo, mais orgânico de entrar no grupo, do que romper com tudo.
(A entrevista continua...)

Entrevista com Jô de Oliveira, do Grupo Teatro Ritual ( por Andrea Pita)

A.P. : Jô, como você entrou no Teatro Ritual? Como começou essa história?

J.O.: Então, começou assim...(rsrs). Na verdade não foi uma coisa oficial mesmo, ah, agora eu entrei. Foi um processo mais lento, sabe, quando eu vi eu tava, entendeu...eu comecei lá no Lyceu, fazendo aula com o Nando, eu não me lembro o ano, eu lembro que eu tinha 16 anos quando eu comecei a fazer teatro em Goiânia...foi quando eu fui pro Lyceu, e na verdade eu fui pro Lyceu justamente porque eu fiquei sabendo que lá tinha teatro, parece que era a única escola que tinha aula de teatro mesmo, que eu fiquei sabendo. Aí eu falei, eu vou pra lá.

A.P. : Você fazia teatro antes ou não?

J.O.: Eu tinha feito uma experiência e aí eu gostei demais sabe? Foi uma experiência de escola, feira de ciências, sabe? Aí eu gostei, eu falei nossa eu quero fazer teatro. Tentei montar um grupo na escola, só que o diretor não deixou, falou que ía fazer bagunça demais , não tinha espaço. Falei ah, então vou pruma escola que tem...aí eu descobri o Lyceu, eu fui com uma amiga minha né? E aí o Nando foi divulgando nas salas...eu entrei na turma. E aí eu ía fazendo as aulas...era depois da aula , depois do meio-dia, acabava a aula e aí do meio-dia às duas era a aula de teatro. Então a gente ficava lá a manhã inteira até duas horas sem comer. Se a gente levasse um lanche tudo bem, senão a gente ficava passando fome, né? Mas a gente adorava , às vezes ficava o dia inteiro lá, sabe? Chegava a galera a gente ficava lá...aí foi passando o tempo, a gente foi fazendo teatro e tal, e montou “Calabar”. Foi a primeira peça que eu montei com o Nando lá. A gente montou não lembro quando, eu tinha 17 anos, já tava no segundo ano, e eu adorei, sabe, eu falei ah, acho que eu vou fazer Artes Cênicas, porque eu descobri que tinha Artes Cênicas na Faculdade...até então eu tava em dúvida, aí montamos e apresentamos no Festival que o Teatro Ritual produzia na época, que era o Festival do Corpo Ritual na época. Foi bem na época que o Lume veio, na segunda edição, o Simi(Simioni, do grupo Lume) assistiu e aí ele gostou pra caramba. A gente apresentou lá no Teatro Goiânia, a gente ficou super assim, se achando importante(rsrs). Depois a gente fez uma temporada no Martim Cererê... tudo com o “Calabar”, e fez uma temporadinha lá no Goiânia Ouro também. Aí começaram os treinamentos do Teatro Ritual, os treinamentos do final de semana... e aí o Nando pegou e chamou a gente, a turma né? Quem quiser ir e tal, e aprofundar mais nos trabalhos que a gente faz – porque na escola era uma coisa mais básica, mais voltada pro espetáculo que a gente tava montando - então vamo que aí a gente faz um treinamento mais específico pro ator e tal, se vocês quiserem aprender. Eu falei então eu vou. Aí fui eu, a Ilka, o João Fernando, todos faziam parte da turma lá. Aí uns foram desistindo...outros ficando...outros desistindo, no final tavam eu, a Ilka e a Aline no treinamento, não sei se o Jonathan tava também. A gente ía todo sábado, treinava, fazia relatório e entregava, era toda uma coisa. E aí chegou o vestibular. A gente tava fazendo outra montagem, que era “O Santo e a Porca”. Nisso a Ilka e a Aline já tinham entrado no Teatro Ritual, se não me engano. Aí eu tava meio assim... não sei o que eu quero da minha vida...vou fazer o vestibular primeiro. Aí eu prestei, passei, fiz o segundo semestre, vi que tinha a galerinha que tinha os grupos na faculdade e pensei “nossa, o que eu vou fazer depois que sair daqui? acho que eu vou ter que arrumar um grupo”. E aí o Nando já tinha chamado pra fazer parte do Teatro Ritual. Eu fui entrando, fui participando... quando eles fizeram o terceiro festival eu participei - aquele que o Tadashi veio - fiz todas as oficinas do Festival de graça(rsrs). Fui entrando, sabe? E aí quando é fé já tava. No quarto Festival eu já tava na produção, aí participei da recepção dos atores, da montagem do espaço, e já tava mais na produção.

(a entrevista continua...)