Encontro de Atores Criadores

Como na próxima semana haverá o VI Encontro de Atores Criadores organizado pelo Teatro Ritual, aproveito para postar uns textos sobre e para o ATOR.

Avante, nos entreguemos aos questionamentos e quem quiser, que invente outro...



É ator para todos os gostos!


POR QUE CADA ATOR É ÚNICO?
“Cada ator é fruto de um processo histórico e social,
é um ser único, alguém que dialoga com a sua realidade e com as referências que foram
construídas ao longo de suas experiências de vida”. (Robson Carlos Haderchpek)



QUE TIPO DE ARTISTA É UM ATOR? QUE TIPO DE ATOR É UM ARTISTA?
“A composição do personagem é um jogo de criação que aproxima o trabalho do ator ao do
artista, porque compor um personagem implica escolha, observação, procura, inspiração, controle”. (Jean Villar)


AQUELE QUE GOSTARIA DE SER TANTAS COISAS, FRÍVOLO APAIXONADO...
“Ser ator é ser superficial profundamente”(Fernanda Torres em entrevista recente)


RESPEITO À OBRA COMO UM TODO E À NATUREZA
OU HISTRIONISMO ACIMA DE TUDO?
“Tem a bondade de dizer aquele trecho do jeito que eu ensinei, com naturalidade. Se encheres a boca, como costumam fazer muitos dos nossos atores, preferiria ouvir meus versos recitados pelo pregoeiro público. Não te ponhas a serrar o ar com as mãos, desta maneira; sê temperado nos gestos, por que até mesmo na torrente e na tempestade - direi melhor - no turbilhão das paixões, é de mister moderação para torná-las maleáveis. Dói-me até ao fundo da alma ver um latagão de cabeleira reduzir a frangalhos uma paixão, a verdadeiros trapos, trovejar no ouvido dos assistentes, que, na maioria, só apreciam barulho e pantomima sem significado. Dá gana de açoitar o indivíduo que se põe a exagerar no papel de Termagante e que pretende ser mais Herodes do que ele próprio. Por favor, evita isso.
Também não é preciso ser mole demais; que a discrição te sirva de guia; acomoda o gesto à palavra e a palavra ao gesto, tendo sempre em mira não ultrapassar a modéstia da natureza, porque o exagero é contrário aos propósitos da representação, cuja finalidade sempre foi, e continuará sendo, como que apresentar o espelho à natureza; mostrando à virtude suas próprias feições, à ignomínia sua imagem e ao corpo e idade do tempo a impressão de sua forma. O exagero ou o descuido, no ato de representar, podem provocar riso aos ignorantes, mas causam enfado às pessoas judiciosas, cuja censura deve pesar mais em tua apreciação do que os aplausos de quantos enchem o teatro. Oh! Já vi serem calorosamente elogiados atores que, para falar com certa irreverência, nem na voz nem no porte mostravam nada de cristãos, ou de pagãos, ou de homens sequer, e que de tal forma rugiam e se pavoneavam, que eu ficava a imaginar terem sido eles criados por algum aprendiz da natureza, e pessimamente criados, tão abominável era a maneira por que imitavam a humanidade.
Faze uma reforma radical! Que os truões não digam mais do que aquilo que lhes compete, pois há deles que vão a ponto de rir, somente para provocarem riso aos parvos, até mesmo em passagens com algo merecedor de atenção. É sobremaneira vergonhoso revelar ambição estúpida por parte de quem se vale de semelhante recurso. Vai aprontar-te. (Hamlet falando aos atores, de William Shakespeare)

TRATA-SE DE UM PAPEL QUE MUDA DURANTE A HISTÓRIA?
“Intercessor entre o mundo da tragédia e a experiência das novas classes
ávidas de poder, mestre dos divertimentos dos príncipes e dos prazeres dos
reis, servidor incondicional dos públicos, modelo de paixões comunicáveis
mas longínquas, ídolo voluntariamente complacente, oficiante de uma arte
adaptada às proporções da existência cotidiana, criatura de uma participação
ativa que realiza uma fusão das consciências – o comediante muda de papel
com os tipos de sociedade. E não mudam somente o seu papel e a sua
função, mas muda também a substância humana”.( Jean Duvignaud )


SAGRADO OU PROFANO?
"O Teatro é um templo, onde o altar é o palco e o ator é o sacerdote; e onde a arte cênica é reverenciada através do aplauso dos fiéis espectadores"
(Dilson de Oliveira Nunes )


DEIDADE OU HUMANIDADE?
“Vocês, artistas, que fazem teatro em grandes casas, sob a luz de sóis postiços, ante a platéia em silêncio, observem de vez em quando esse teatro que tem na rua o seu palco: cotidiano, multifacetário, inglório, mas tão vivido e terrestre, feito da vida em comum dos homens – esse teatro que tem na rua o seu palco. (...) Oxalá possam vocês, artistas maiores, imitadores exímios, não ficar nisso abaixo deles! Não se afastarem, por mais que se aperfeiçoem na arte, desse teatro que tem na rua o seu palco!” (Brecht)

É UM ACUMULAR OU UM DEIXAR PARA TRÁS? É BUSCAR O NOVO OU RETORNAR ?
“Não educamos um ator, em nosso teatro, ensinando-lhe alguma coisa:
tentamos eliminar a resistência de seu organismo a este processo psíquico. O
resultado é a eliminação do lapso de tempo entre impulso interior e reação
exterior, de modo que o impulso se torna já uma reação exterior. Impulso e
ação são concomitantes: o corpo se desvanece, queima e o espectador assiste
a uma série de impulsos visíveis. Nosso caminho é uma via negativa, não
uma coleção de técnicas, e sim erradicação de bloqueios.” (Jerzy Grotowski)

Abs,
Andrea Pita.

Outro dia o Diego de Moraes disse...

Outro dia o Diego de Moraes disse que Wally, o Salomão falou:
“Chega de papo furado de que o sonho acabou. A vida é sonho, a vida é sonho, a vida é sonho...” Fui ver, era isso mesmo, num trailer do documentário sobre o cara.
Maravilhoso!
Diego, desculpe aí por não ter dado para incluir outras músicas suas no Cabaré “Pecadinho”. Ainda não deu e o Cabaré acaba agora neste fim de semana!
E lembro do Diego contando as histórias e fofocas do rock.
The dream is over, diria John Lennon, que na música negou Buda, negou Gita...
E lá veio Diego com “Capitô”: “antes de mais nada vou dizer quando foi que o sonho acabou. A carruagem já virou abóbora e na esquina capotou, capitô?”

E a vida é sem pontos finais mesmo , É mal estar da civilização e da sociedade do consumo,Talvez porque os EUA ficam pregando que a qualquer momento o Irã pode soltar uma bomba, Talvez porque petróleo não pára de ser derramado no mar, Porque flower power só se fôr de butique, Eu não tenho culpa, quando eu nasci o mundo já tava assim, o muro de Berlim já tinha caído não vou mudar nada mesmo, Tudo consumado no consumo - empresas dominando população pela alimentação e já não temos condições de saber por quantos lados estamos sendo dominados/comidos e para aliviar nos dopamos com drogas, religião e ou sexo, E engavetamos nossos sonhos, exercitando-os apenas em estados alucinatórios, e a potência é usada para quê? Nunca o homem viveu numa época tão profícua mas também nunca se tomou tanto anti-depressivo , Mundo sem rituais, apelando para eventos macabros, e mais excitantes à medida que mais macabros, pro grotesco fresquinho e surpreendente porém não original dos telejornais-bomba-de-cada-dia, Vivendo no meio de uma guerra onde as identidades são móveis, nunca se sabe pode-se mudar de opinião de um dia para o outro, Não se muda de partido? Não se muda de marido? O que é estável nos tempos atuais? O que fazer? Intelectuais sem papel de transformação, poetas sem poder de persuasão, e Diego pontua “...tantos séculos de evolução para acabar nessa situação: só um nome na lista telefônica!”

É isso, Diego, tá tudo no superobjetivo da peça! Se é que um espetáculo de variedades se presta a isso.


Gostaria de agradecer a todos que participaram da aventura e à oportunidade de dirigir este Cabaré dos meninos do Ritual. Que daqui a pouco vão pro Japão!

Deus os abençoe e os proteja, diz aqui a goiana maternal. Já a dionisíaca diz: que os atravessamentos potentes sejam bem vindos! E depois voltem, do oriente ao ocidente, do espírito à matéria, e que todos entendamos que um influencia inelutavelmente sobre o outro.

E aí, Diego? O que você diria sobre isso? E John Lennon, diria o quê?

Talvez o que os odientos de carteirinha de Yoko Onno não aprovassem.

Mas que a flecha do Oriente seja bem vinda ao coração do Brasil, nunca mais seremos os mesmos.

Corpos-espíritos-culturas diferentes nesta era da diversidade.

P.S. de Diego oferecendo a outra face: “O sonho não me sai do pensamento(...)Quero um refrão pra canção ser um ato de fé!”


Por enquanto, no sábado, só mais um Pecadinho!


Andrea Pita