Oficina de Butoh com o Teatro Ritual
Não foi muito tempo, mas foi interessante ter um gostinho do Butoh,
uma dança japonesa que foi pesquisada pelo Teatro Ritual para a
criação da Trilogia Travessia.
A oficina aconteceu nos dias 21 e 22 de agosto de 2010. As pessoas
presentes tiveram oportunidade de experienciar exercícios de Joan
Laage, Natsu Nakagima, Tadashi Endo e Yoshito Ohno, mestres com os
quais o Teatro Ritual fez cursos e conviveu.
Na oficina, a princípio Nando deu uma localizada no que era o Butoh.
Depois da segunda guerra mundial, com a explosão das bombas atômicas
no Japão, este teve que se entregar aos aliados, havendo uma abertura
forçada para o ocidente. Kazuo Ohno e Hijikata foram dois japoneses
que viajaram pela Europa após a guerra, onde tiveram contato com as
vanguardas artísticas. A experiência viva da guerra e este intercâmbio
artístico teriam desencadeado a criação do Butoh, que a princípio era
apresentado nas ruas e diante de bares.
Se o Butoh tem uma técnica específica? Pablo explica que não, mas que
Natsu Nakagima dava exercícios muito técnicos. Quadris, joelhos
flexionados, andar quase sem tirar o pé do chão, o olhar morto,
encaixe da coluna na báscula. Pablo continua dizendo que não existiria
uma técnica para aprender a dança, pois trata-se de uma dança pessoal,
mas há toda uma tradição por trás, que não é possível esquecer que seu
nascimento se deu no mesmo berço do Teatro Nô e do Kyogen,
absolutamente rigorosos em termos corporais.
De qualquer forma, a preparação corporal no Butoh é importantíssima já
que é uma dança que muitas vezes parece conter um silêncio em termos
de movimento. Eugênio Barba, ao falar do Teatro Antropológico,
menciona um importante princípio de muitos teatros orientais: quanto
mais movimento menos energia, quanto mais energia menos movimento. No
Butoh, quando o movimento é micromuscular, o bailarino/performer parece estar
parado mas exala movimento e energia. Isto lembra que fazer do modo
mais difícil, do modo que dê mais trabalho para o bailarino/performer é o modo
mais eficiente de atingir o estado do Butoh. Como não se enganar, eis
a missão difícil, e por que não, prazeiroza, pois a sensação final é a
de missão cumprida.
E no entanto, não há uma técnica específica. Basta ver Kazuo Ohno em
alguns vídeos para cinema em que ele dança ignorando essas qualidades.
Na oficina, houveram alguns exercícios que remetiam a essa liberdade,
como por exemplo exercícios que se serviam do imaginário. Um deles foi
imaginar-se como uma criança num jardim repleto de flores, primeiro
como criança, depois como se você fosse o jardim, flores com olhos por
todo o corpo ou vermes e pedras...quantas camadas de seres nós fomos e
somos?
A racionalidade desiste de dominar e a técnica parece se plasmar
num intenso atravessamento de camadas do inconsciente.
Andrea Pita.
Não foi muito tempo, mas foi interessante ter um gostinho do Butoh,
uma dança japonesa que foi pesquisada pelo Teatro Ritual para a
criação da Trilogia Travessia.
A oficina aconteceu nos dias 21 e 22 de agosto de 2010. As pessoas
presentes tiveram oportunidade de experienciar exercícios de Joan
Laage, Natsu Nakagima, Tadashi Endo e Yoshito Ohno, mestres com os
quais o Teatro Ritual fez cursos e conviveu.
Na oficina, a princípio Nando deu uma localizada no que era o Butoh.
Depois da segunda guerra mundial, com a explosão das bombas atômicas
no Japão, este teve que se entregar aos aliados, havendo uma abertura
forçada para o ocidente. Kazuo Ohno e Hijikata foram dois japoneses
que viajaram pela Europa após a guerra, onde tiveram contato com as
vanguardas artísticas. A experiência viva da guerra e este intercâmbio
artístico teriam desencadeado a criação do Butoh, que a princípio era
apresentado nas ruas e diante de bares.
Se o Butoh tem uma técnica específica? Pablo explica que não, mas que
Natsu Nakagima dava exercícios muito técnicos. Quadris, joelhos
flexionados, andar quase sem tirar o pé do chão, o olhar morto,
encaixe da coluna na báscula. Pablo continua dizendo que não existiria
uma técnica para aprender a dança, pois trata-se de uma dança pessoal,
mas há toda uma tradição por trás, que não é possível esquecer que seu
nascimento se deu no mesmo berço do Teatro Nô e do Kyogen,
absolutamente rigorosos em termos corporais.
De qualquer forma, a preparação corporal no Butoh é importantíssima já
que é uma dança que muitas vezes parece conter um silêncio em termos
de movimento. Eugênio Barba, ao falar do Teatro Antropológico,
menciona um importante princípio de muitos teatros orientais: quanto
mais movimento menos energia, quanto mais energia menos movimento. No
Butoh, quando o movimento é micromuscular, o bailarino/performer parece estar
parado mas exala movimento e energia. Isto lembra que fazer do modo
mais difícil, do modo que dê mais trabalho para o bailarino/performer é o modo
mais eficiente de atingir o estado do Butoh. Como não se enganar, eis
a missão difícil, e por que não, prazeiroza, pois a sensação final é a
de missão cumprida.
E no entanto, não há uma técnica específica. Basta ver Kazuo Ohno em
alguns vídeos para cinema em que ele dança ignorando essas qualidades.
Na oficina, houveram alguns exercícios que remetiam a essa liberdade,
como por exemplo exercícios que se serviam do imaginário. Um deles foi
imaginar-se como uma criança num jardim repleto de flores, primeiro
como criança, depois como se você fosse o jardim, flores com olhos por
todo o corpo ou vermes e pedras...quantas camadas de seres nós fomos e
somos?
A racionalidade desiste de dominar e a técnica parece se plasmar
num intenso atravessamento de camadas do inconsciente.
Andrea Pita.
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