Estréia Espetáculo Força da Terra

ESPETÁCULO: A FORÇA DA TERRA
DIREÇÃO: Hugo Rodas
ESTREIA: 29 de julho de 2013
LOCAL: Centro Cultural UFG







O Espetáculo Força da Terra fará parte da Programação do 2º ALDEIA DIABO VELHO do SESC Goiás.

Sua estréia será no dia 29/07 no centro Cultural da UFG.

Venha prestigiar esse grande evento das artes que é o Aldeia Diabo Velho



Mais infromações: https://www.facebook.com/pages/Grupo-Sonhus-Teatro-Ritual/258651014171741


Espetáculo Força da Terra

05:32 Postado por . 0 comentários


O espetáculo é composto por três “sonhus”.


No início, o humor das coisas coisificadas, como diria Manoel de Barros, das formas tornando e ganhando ânima. A origem pura e ingênua, o coito brincado em circo. Do caos à ordem num ritual de preparação do território, permeado de memórias, ausências e humor: a celebração do estar aqui e agora prontos para viver e fazer história sobre a terra. A memória é como um filme.


No outro, recomeços. Novos caminhos brotam da terra. Natureza viva. No terceiro é realizada a passagem: coisa...bicho...homem...sociedade. O homem caminha pela terra faminto, descobre a amizade, o amor, copula, procria, e então constitui família e estabelece propriedades com a terra. Em um ato teatral, livremente inspirado no filme “Vidas Secas” de Nelson Pereira dos Santos os atores se lançam numa aventura performática de sonho, imagem, drama, sentimento e vida.

No encontro entre os atores Grupo Sonhus Teatro Ritual e a direção primorosa de Hugo Rodas, se concretiza a imersão na força da criação coletiva que tenta ser perene como a terra e imponente como a vida, viajando sem mapas com amor e sem medos por infinitos roteiros, deixando rastros de memória vivida, como pegadas na terra por onde existimos um dia.

05:29 Postado por . 0 comentários
Nelson Pereira dos Santos, um dos maiores diretores do cinema brasileiro, nasceu em São Paulo, 22 de outubro de 1928. Foi um dos precursores do movimento do Cinema novo.Considerado um dos mais importantes cineastas do país, seu filme Vidas Secas, baseado na obra de Graciliano Ramos, é um dos filmes brasileiros mais premiados em todos os tempos, sendo reconhecido como Obra Prima.


Nelson Pereira dos Santos conseguiu em Vidas Secas (1963) estampar com rara felicidade a cara do Brasil das décadas de 1930/40 e ser fiel ao livro de Graciliano no que o livro tem de essencial: mostrar a luta do camponês nordestino para sobreviver as agruras do tempo e superar as adversidades impostas por um sistema cruel, onde prevalece a força dos donos da terra.
O filme manteve a linguagem contida do livro, que neste ano completa 75 anos. Quase sem música, com poucos diálogos, mostra a dureza do sertão encravado na alma dos camponeses, sujeitos a um sistema que os desumaniza e os coloca em posição de inferioridade pela ignorância a que são submetidos. São analfabetos, de poucas palavras, sem grandes horizontes na vida. 
A película conseguiu captar a proposta do escritor em mostrar a aridez das relações humanas no sertão e aprofundar a interiorização dos personagens na busca de entender o que não conseguem pela vida que levam e são forçados a se submeter, numa relação dialética entre homem, natureza e o sistema explorador do trabalho. 
Vidas Secas, o filme, foi fiel, na letra e espírito, ao livro de Graciliano Ramos. A mesma concisão, secura, despojamento, poesia, o mesmo tempo – quase silêncio – dos personagens. Que naquela vida de gente-bicho praticamente não se fala, as pessoas também vão se secando internamente”, diz Helena Salem no livro Nelson Pereira dos Santos: o sonho possível do cinema brasileiro. O próprio diretor explica seu modo de trabalhar essa adaptação ao contar que alcançou “uma liberdade formal muito grande” nas filmagens, mas acrescenta que respeitou “integralmente as duas partes da carta”, qual sejam: “nunca desvirtuar o pensamento do autor, respeitar, portanto, a essência do livro, e a segunda parte, não só referente ao condicionamento histórico, mas fazendo o possível para não alterar a estrutura narrativa que o autor elaborou. Isso porque a forma de contar uma história é determinada pela maneira de pensar”, acentua. 
- Fragmento Texto site vermelho.org.br - 

Graciliano Ramos, nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892 Um dos maiores escritores brasileiros publicou clássicos da literatura nacional como Angústia, São Bernardo, Caetés, Infância, A Terra dos Meninos Pelados, Vidas Secas, entre muitos outros. 


"Q.Q.ISS?! As Aventuras de Pendú e Camí do Outro Lado da Lua e do Arco-Íris o mais recente espetáculo do Grupo Sonhus Teatro Ritual. Dirigida pelo mímico e dramaturgo Miquéias Paz (DF), a peça será apresentada 22/09 setembro, no Teatro Goiânia, para contar a história de dois espantalhos andarilhos que, na jornada pelo mundo, se deparam com as humanidades.




Um gostinho do espetáculo Q.Q.ISS?!
(Fotos Gilson P. Borges)


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Critica por Lídia Freitas no blog Opinião Ltda. na integra:



SEGUNDA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2012

Q.Q.ISS?!

Alguns dias atrás estive no aconchegante teatro do Cine ouro para o espetáculo “Q.Q.ISS?! As aventuras de Pendu e Cami do outro lado da lua e do arco-íris”.  É bem certo que o Grupo Sonhus Teatro Ritual já havia me convertido bem antes de abrirem as cortinas. Qualquer simpatizante de Pink Floyd não hesitaria 1 minuto diante da chance de ouvir em som 5.1 o The Dark side of the moon. Mais ainda quando a oportunidade está de mãos dadas com o clássico O mágico de Oz. E é por isso que fui ao teatro, ávida  por essa relação, velha conhecida do público. Mas o que ali se passou pela próxima hora e meia eu não poderia ter antecipado.  O mesmerizante baile de humanos e bonecos que tomou conta do palco despertou em mim no mínimo 24 tons de emoções. No coração dramático dessa narrativa estão dois espantalhos,(referência ao Mágico de Oz) que se libertam e partem em uma jornada de auto-descoberta e descoberta do mundo, ao som de The Dark side of the moon. A natureza profundamente filosófica do album é assunto que há algumas décadas povoa tanto mesas de bar quanto textos acadêmicos, partindo na maioria das vezes, de duas correntes teóricas populares: A especulativa e a levemente conspiratória. Uma ou outra, ou mesmo as tentativas mais acadêmicas de interpretar o álbum, levam sempre à conclusão de que a banda criou algo de caráter indubitavelmente universal e difícil de ser repetido. Talvez por isso mesmo seja sempre associado ao Mágico de Oz, obra igualmente triunfante sobre a passagem do tempo, trazendo questionamentos profundos que ainda são absolutamente atuais. E é essa universalidade que se faz presente no espetáculo Q.Q.ISS?!, através de cores e movimentos, do teatro do corpo, da arte circense e da representação mímica. A sutil criação de significados acontece através de uma apurada linguagem corporal dos atores e vai nos guiando quase que pela mão para reflexões sobre o ser e sobre a vida.
As canções do álbum The Dark side of the moon têm sido interpretadas como referência evidente ao ciclo da vida. Alguns estágios podem ser identificados nas principais faixas , e alguns deles estão visivelmente representados na jornada de Pendu e Cami. Considerando o que já foi dito sobre o assunto e algumas percepções pessoais, pode se dizer que a faixa Breath é uma referência clara ao nascimento do ser. Time seria a passagem do tempo na infância e juventude, o crescer. Money seria o trabalho. Us and them uma referência aos relacionamentos, à solidão e a diferença entre nós. E Brain Damage uma referência à loucura, ao inconsciente, à libertação e talvez até à morte. Assim, não é sem motivo que o espetáculo se inicia com Breath e com uma fantástica coreografia de Pendu, seguida pela tentativa de Cami de libertá-lo, de trazê-lo ao “nascimento”. O nascer é doloroso, envolve se libertar fisicamente do útero materno ( no caso de Pendu, sair do tronco), aprender a se manter em pé e posteriormente aprender a caminhar, atividades que Pendu representa, auxiliado por Cami. O espantalho Cami é um mentor e um provocador. Sua subversão o fez deixar sua roça e fugir para descobrir o que há do outro lado do mundo.  Assim, Cami e o novo amigo seguem na jornada da vida. Ao som de Time e The great gig in the sky, Pendu aprende a enfrentar seus medos (espantar os pássaros que pousam sobre ele) e aprende ainda a compreender a dor do outro. O cachorro gigante que se apresenta inicialmente como predador e tenta atacá-los, acaba se mostrando apenas uma criatura ferida. Quer machucar porque está machucado, quer atacar porque foi atacado. No entanto, quando ajudado pelos espantalhos, o animalzinho se torna dócil, pede agrados e por fim vai embora. Depois de enfrentar as intempéries e outras adversidades de uma jornada de fuga, os dois chegam ao que seria o outro lado da lua, mas se surpreendem ao constatar que lá ninguém se importa com eles, e todos parecem seguir uma dura rotina de trabalho. Ao som de Money, eles coreografam o trabalho na linha de produção em série e as atividades solitárias em que se envolvem os homens quando vão para casa ( T.V, computador, masturbação, etc). A vida do outro lado da lua não é tão glamurosa quanto imaginaram, e assim se prova o velho ditado de que a grama sempre parece mais verde do outro lado da rua. Nesse novo espaço eles também se envolvem em conflitos de relacionamento. Encantam-se com uma mulher (representada por uma boneca inflável) e brigam por ela, levando-a a morte. Depois do trágico desfecho, Cami começa a mostrar sinais de que não está mesmo seduzido pelo local e de que continuará sua jornada de procura por um lugar melhor, mas Pendu já não está disposto a seguí-lo. Sem resultado para sua negociação, Cami parte para o desconhecido sozinho, e Pendu está novamente preso. O espetáculo se encerra da mesma forma como começou, com a passagem do tempo e a imagem de um Pendu inerte. O The Dark Side of the Moon passa uma vez e meia durante o espetáculo, e as cortinas se fecham após o final deMoney.
Q.Q.ISS?!, apesar das tendências de divulgação no sentido da comédia, mostrou-se um espetáculo plural. Tragicômico, reflexivo e entretenedor, tudo ao mesmo tempo. Salvas as devidas proporções, o espetáculo segue o ensinamento Beckettiano e nos incomoda com suas perguntas existenciais, faz uma crítica feroz à sociedade, ao mesmo tempo em que nos fascina com uma narrativa inteligente e divertida.

Opinião Ltda.: Q.Q.ISS?!

Deem uma olhada no comentário desse blog sobre a estréia do espetáculo Q.Q.ISS?! Do Outro Lado da Lua e do Arco-Íris!!!

Opinião Ltda.: Q.Q.ISS?!: Alguns dias atrás estive no aconchegante teatro do Cine ouro para o espetáculo “Q.Q.ISS?! As aventuras de Pendu e Cami do outro lado d...


Genteeeeee olha nós INTERNACIONAL!!!!!! =D


TRAVESSIA PARTE III – ÊXODO EM BRASÍLIA!!



No dia 09 de Junho o Grupo Sonhus Teatro Ritual participará da Mostra Internacional de Mímica no Plínio Marcos, em Brasília (DF), com o espetáculo “Travessia Parte III – Êxodo”. A Mostra Internacional de Mímica promove, entre os dias 7 e 10 de junho, o encontro de sete espetáculos do Brasil e da América Latina, no Teatro Plínio Marcos, em Brasília. Artistas com diferentes processos de criação apresentam um breve panorama do desenvolvimento da mímica no país e no exterior. A iniciativa busca investigar o desenvolvimento dos diversos modos de se expressar através da mímica. A Mostra Internacional de Mímica integra o projeto de Ocupação do Complexo Cultural Funarte para o Teatro Plínio Marcos e tem o apoio da Secretaria de Educação do Distrito Federal.



Dia 9, às 21h
Travessia – Parte III – Êxodo
Com o Teatro Ritual (GO)
Classificação indicativa: 12 anos
Dois homens e duas crianças estão no mesmo barco, rumando ao desconhecido. Abaixo deles, toda a profundeza do rio imenso de suas almas. Acima, todo o encantamento do céu sob suas cabeças. À frente, o mistério de suas existências exposto à ambição do rótulo, do gênero, da dualidade do sexo à ambivalência vida e morte. O grupo Teatro Ritual trata dos paradoxos que existem no elo entre o texto, a palavra e as ações físicas, as fragilidades e as forças desta tríade.

Confira toda a programação completa no link abaixo:

http://www.funarte.gov.br/teatro/mostra-internacional-de-mimica-no-plinio-marcos-em-brasilia-df/

11:57 Postado por . 0 comentários

OLHA! OLHA! NOVO ESPETÁCULO!!!!!



Q.Q.ISS?! AS AVENTURAS DE PENDU E CAMI DO OUTRO LADO DA LUA E DO ARCO-ÍRIS
 
 Pendu é um espantalho que está preso em sua rotina de trabalho: cuidar da plantação. Muito tempo se passou sem que ele se movesse. Num inusitado dia, conhece Camí, um espantalho andarilho fugido de sua roça para percorrer o mundo. Curiosos com as possibilidades de mover as pernas Pendu e Camí partem juntos se aventurando em uma incrível jornada em busca do desconhecido. Uma divertida aventura cômico visual, que utiliza linguagens como a mímica, o teatro de bonecos, a máscara e o palhaço, em situações inusitadas que os espantalhos Pendú e Camí enfrentam para abordar a curiosidade que move a humanidade.
HOMENAGEM A BANDA PINK FLOYD E AO FILME MÁGICO DE OZ DIRIGIDO NO CINEMA POR VICTOR FLEMING
Os espantalhos se aventuram embalados pela trilha do álbum The Dark Side of The Moon, obra prima do grupo britânico Pink Floyd, que trata das pressões da vida, como tempo, dinheiro, loucura e morte. O espetáculo faz referencia ao fenômeno conhecido por The Dark Side of The Rainbow, efeito de origem misteriosa na cultura popular mundial, que consiste na reprodução simultânea do álbum do Pink Floyd com o filme O Mágico de Oz de 1939, revelando diversos momentos em que uma obra corresponde a outra. O espetáculo mergulha nessa experiência de sinestesia não causal, mas de sincronicidade de sentidos e significados para o deleite do publico que acompanhará as aventuras de dois espantalhos ao som progressivo do Pink Floyd.

Classificação: LIVRE

- dia 16 (sábado) ás 21h e
- dia 17 (domingo) ás 20h.

Apresentação beneficente. Você doa o quanto puder. Contribuição minima de R$2,00.

MAIS INFOS: www.teatroritual.com.br ou fone (62) 3208-6880

Aberto edital de concurso para seleção de videos de curta duração

O Laboratório Cultura Viva, um projeto realizado pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, junto com o Ministério da Cultura/Secretaria  de Cidadania Cultural e com a Fundação Universitária José Bonifácio, abre concurso para seleção de videos de curta duração para a Revista Lab Cultura Viva.
Essas instituições visam a produção, exibição, difusão, formação, pesquisa e experimentação em audiovisual em multimídia dos Pontos e Pontões de Cultura, estimulando a participação dos Pontos de Cultura.
As inscrições vão até o dia 02 de abril de 2012.
Para mais informações: http://labculturaviva.org/node/1047

Tudo Serto!


Depois das dicas dadas pelos meninos (Nando e Pablo) no ultimo ensaio, sobre o qual não escrevi a respeito, muitas coisas que já estavam claras para mim como problemas se tornaram transparentes.
- O estado do palhaço (a parte mais essencial);
- A precisão nas ações;
- O jogo vivenciado naquele momento;
- A limpeza na história, tirando o desnecessário;
- Mais situações relacionadas;
     e assim por diante...
... são centenas de coisas para arrumar. A casa está uma desordem, terei que fazer uma faxina!
E estou animada!
Entrei para a sala sozinha. No início, como não havia planejado, pensei em seguir o roteiro que seria se todos estivéssemos juntos, retornando ao treino, mas vi que meu corpo pedia outras coisas.
Alonguei, bem alongado. Meu corpo perdeu uns 50% da elasticidade de antes. Uffs.. Dá-lhe trabalho para conseguir de novo.
Aqueci, fiz 500 abdominais. Quase morri, mas consegui.
Treinei a base, que havia se perdido nos intermináveis dias em que fiquei sentada na cadeira do escritório. A partir daí deixei a coisa fluir e acabei treinando bastante o controle dos movimentos, subindo e descendo em espiral, cada vez mais lento. Não consegui fazer aquele tempo maravilhoso de 50 minutos, como a Ana Cristina Colla do Lume Teatro descreve em sua tese de doutorado "Caminhante, não há caminho. Só rastros", mas foi bom pelo tempo que fiquei parada.
Foi então que me veio uma ideia. Por que não colocar isso que acabei de fazer em meu espetáculo?
Os meninos pediram pra eu levantar material, e foi isso o que fiz. Fui elaborando, detalhe por detalhe, e quase uma sena surgiu. Com trilha sonora e tudo.
Achei tão orgânico o que aconteceu, espero que seja assim todos os dias.

Jô de Oliveira

Aborto



Não consegui...
Hoje não consegui ensaiar
Talvez o corpo, talvez a sala, talvez o sono... não sei, não saiu.
Sinto quase um alívio, misturado a uma sensação de perda, é como se tivesse abortado
Abortei uma missão
Pensando bem, acho que não foi nenhum motivo externo que me impediu, foi eu.
Ah que fracasso!
Tenho que encontrar formas para me motivar
Escrever mais sobre meu solo, limpar, organizar ou buscar novos figurinos e adereços. Estar mais envolvida, realimente inserida no processo.
Vou tentar.

Jô de Oliveira
Grupo Sonhus Teatro Ritual

Talvez tudo seja mais urgente, mas não mais importante..

O retorno é sempre muito difícil, não no sentido de relembrar e refazer o que já foi feito, mas no sentido de iniciar o retorno. Sempre aparecem outras coisas, talvez não tão importantes quanto, mas sempre mais urgentes.
Retornei hoje, para o meu solo, para o meu corpo, para o meu ofício. Sinto que apesar de difícil foi satisfatório, mas não tanto quanto estabeleci na meta. Fiz aquecimento, procurei coisas que estavam faltando, organizei figurinos, organizei espaço, escrevi... até que comecei!
Comecei!... e agora? O que fazer?
Fui fazendo, tentei não me apegar ao roteiro antigo, aos detalhes de movimentos, apenas foi fazendo o que meu corpo queria e tinha na memória.
De repente fui sentindo um alguém meio tímido, sem saber onde estava, com medo de tatear um lugar que a tanto tempo não visitava, esse alguém era Brida, minha personagem.
Quando ela foi aparecendo, fiquei tão contente, que queria por tudo filmar aquilo, mas a câmera não tinha bateria. Ahhh...
Mas continuei...
Brinquei com ela, seu jeito, seu andar, a fiz de boba, palhaça, ingênua. Como crianças, mas eu sempre observando e ela fazendo.
Descobrimos coisas novas, como o ventilador teimoso e cruel que não queria de modo algum entrar na bolsa dela, e ainda quis enforcá-la, amarrá-la e jogá-la no chão sujo e mofado do escritório. Parece mentira mas foi verdade.
Descobrimos o amor e que se pode fazer por ele, mesmo sem saber, às vezes desengonçada, às vezes sexy e às vezes masoquista. Para mostrar ao grande amor como ficaria bonita para o encontro, fizemos um streep tease. Pulamos em cima da mesa, nos arrastamos no chão, nos prendemos na cadeira, mas nunca perdemos a pose de gostosa, apesar dos desastres.
Mas chega o patrão para estragar a festa e temos que guardar tudo, do nosso jeito organizado. Luva na boca, sapato na sacola (um pé, pois o outro estava onde deveria estar, na sola), papeis espalhados no chão, ventilador dentro da bolsa, garrafa de café debaixo da cadeira.
Mas.. está Tudo Serto!!!

Jô de Oliveira
Grupo Sonhus Teatro Ritual

Entrevista com Sandro di Lima (por Andrea Pita)

A . P .: Os atores do Grupo Teatro Ritual te consideram como seu primeiro mestre, por lhes apresentar - Nando tinha 16 anos e Pablo 14 - uma outra postura diante do teatro e novos autores para eles ainda desconhecidos como Eugênio Barba, Grotowski e Artaud. Você indicou seus livros e logo estes se tornaram referência para seus trabalhos. Como você vê essa influencia?

S. L.: Na escola, o professor de teatro é professor de encenação, de interpretação, de dramaturgia, de análise de texto, e de todas as linguagens complementares que fazem acontecer o espetáculo. Se você não pensa na perspectiva do espetáculo, é muito difícil você manter o interesse do adolescente e a continuidade dele no projeto. E se você não dispõe de uma fruição de fato, se você não dispõe do requinte dos espetáculos, você tem que construir uma referência, senão o aluno acaba tendo apenas as referências do que assistiu. Pra sair da teledramaturgia, da novela, ou do cinema fácil e tudo o mais, você tem que possibilitar um outro olhar pra ele, e seduzí-lo pra esse outro olhar. E você tem que se valer mesmo de algumas magias que o teatro felizmente proporciona, como os encenadores do séc XX, os trabalhos que foram feitos e mostrar pra eles que aquelas perguntas internas deles em relação às próprias angústias fazem parte da escrita de um punhado de autores e encenadores que fazem um trabalho de desvendamento humano. Então eu acho que colocar eles próximos a esses autores, o Ibsen e tudo o mais, mesmo eles sendo muito novos, dá a eles uma perspectiva de alteridade. Ter o outro, ter o teatro mesmo não como um teatro fácil, só da piada, da blag fácil, mas um teatro em que ele consegue tomar algo pra si próprio e que o faz ter vontade de responder pras outras pessoas algumas questões que estão no eixo da nossa existência e no nosso sentido de humanidade. Eu acho que eles pegaram essa fase do trabalho realizado na Escola Técnica, que era uma fase muito boa mesmo.

A . P .: Sandro, você acompanhou fases anteriores do teatro goiano, depois foi Secretário da Cultura, teve todo um movimento das leis de incentivo no país...Como você vê o Teatro Ritual hoje no cenário goiano?

S. L.: Em Goiânia eu assisti a uma trajetória de grupos da década de 70, 80. Por motivos e saturações diversas, esses grupos se esgotaram na virada do século. Grupos importantes como o Exercício, o Laboratório, o Grupo Canopus, vários grupos. E assisti ao mesmo tempo uma retomada do teatro e da dança em Goiás com novos grupos como o Ritual, o Trupicão, o Nu Escuro e outros grupos na cidade. Essa época da virada do século foi extremamente pródiga de novos grupos teatrais. No final dos anos 90 e na virada, você pode ver que tem muitos grupos com idade muito parecida, e eu tenho uma honra enorme de ter alunos em vários grupos desses e em alguns desses que eu citei. São grupos que têm uma profunda inquietação com a qualidade de busca e de pesquisa, e ao mesmo tempo uma força da continuidade que move, que alimenta essa saga íngreme, ladeira acima, escorregadia, que é sustentar um grupo de teatro em Goiânia, e sustentar com isso várias dimensões como ter um conjunto de pessoas próximas que acredita, buscar apoios e patrocínios e estabelecer uma figura jurídica do grupo, concorrer aos editais, às leis e tudo o mais. E pra você colocar no palco algo que tem capacidade de dizer pras pessoas, tem que ter nos bastidores uma estrutura de produzir material pra ser apresentado nos festivais, pra fazer circuitos e tudo o mais, ou seja, é uma empreitada de fôlego. As pessoas menos encorajadas ou que se fragilizam diante das dificuldades às vezes renunciam e aí prevalecem aquelas que têm mesmo uma musculatura, uma força de acreditar que aquilo é possível de fazer. E esses grupos, além de inovar na linguagem, mantém o teatro como uma linguagem viva e atual em Goiânia, ensejando novas pessoas, novos sonhos, a estar em cena, e a estar em cena no palco e fora do palco. Eu realmente não sei dizer qual que é o mais complexo, o mais complicado, dentro ou fora do palco, o que eu posso dizer é que um grupo como o Teatro Ritual faz parte hoje do patrimônio cultural da cidade, e é um grupo tão novo, com pessoas tão novas. Eu me lembro nos primeiros festivais “Goiânia em Cena”, do Pablo apresentando nas ruas, nas praças, nos pontos de ônibus, levando o festival pra vários lugares, então eu me lembro muito bem do grande esforço que os meninos tem, e aí quando eu falo meninos, falo também dos meninos do Trupicão, falo dos meninos do Antropos, dos meninos do Nu Escuro, porque são meus meninos, vão ser e serão sempre. Então eu acho que eu levo muito a sério, respeito muito e tenho muita admiração pelo trabalho, pela consistência e insistência, é o tipo de resistência que é bacana pra cidade.

A . P .: Você assistiu o espetáculo Travessia – Parte 1: A Partida e Travessia – Parte 2: De Tão Longe Venho Vindo, com Nando e Pablo numa experiência com o butoh, que impressão você teve desses trabalhos?

S. L.: Tive a oportunidade de assistir aos espetáculos, Travessia I e II. Foi uma grata surpresa a intensidade da busca e a qualidade da realização do espetáculo numa área tão arriscada, que é o Teatro Oriental. Muita gente boa já buscou nessa fonte tão prodigiosa e nem sempre encontrou bons resultados de palco. O Grupo Teatro Ritual cumpre com uma atuação respeitável e um fôlego exuberante um caminho árduo, íngreme e sinuoso. O resultado é de encher os olhos e demonstra uma fase muito amadurecida do grupo. No nosso contexto, onde predomina muitas vezes o teatro fácil e superficial, é muito interessante acompanhar um grupo que procura temas, linguagens e experimentações que lhes dê uma cara e construam uma identidade. Claro que se trata de uma identidade difusa e diversa, que além de estar em ebulição, estará sempre em permanente construção. Esse diálogo com o improvável faz muito bem à cidade e ao estado. O grupo teve ainda a capacidade de manter curtas temporadas dentro e fora do estado, assegurando uma longevidade ao projeto e permitindo seu aprimoramento em pleno processo de exibição. Aliás, uma característica das Artes Cênicas, que dada sua dimensão celebrativa, é capaz de se reinventar em pleno vôo.

A . P .: Que conselho você pode deixar aos atores do Grupo?

S. L.: Olha, eu não sei, não vou dar conselho não.

A . P .: Pôxa, dá conselho, já que você chama eles de meninos, você pode dar conselho...

S. L.: Ouvir mesmo a eles próprios e fazer as travessias.

Entrevista de Ilka Portela (por Andrea Pita)

A . P . :
Ilka, fala um pouco do que você faz no Teatro Ritual.

I. P. :
Tudo. (risos)

A . P . :
E mais um pouco...(risos)

I. P. : Bom, a gente tem um sistema de dividir funções no grupo. No ano passado eu tinha ficado responsável por agendar as apresentações do Ciranda da Arte. Marcava, cancelava, remarcava com os professores das modalidades, por exemplo. Esse ano eu coordenava a pessoa que cuidava da produção. Na parte de produção, eu também monto projetos com os meninos...a gente monta, manda pras leis. Agora que a gente tá sem ninguém na produção, voltou pra mim essa função de agendar apresentações. Sou atriz também, sou atriz não só produtora(risos). E nesse ano também estou puxando o treinamento. Quando entrei no grupo, geralmente quem dava os treinamentos era o Nando ou o Pablo, eles ficavam revezando entre si. Esse ano a gente tá com uma proposta diferente. Depois que a gente teve um intercâmbio com o Victor, eu e a Jô também começamos a assumir a batuta, a Jô puxou um mês de treinamento, eu tô puxando esse.

A . P . : E como é feito com os projetos?

I. P. : A gente já passou por várias fases dentro do grupo nessa parte de dividir os projetos. No início eu lembro que quando entrei não sabia montar projeto nem nada. Eu buscava orçamentos e fazia declarações. Depois os meninos foram ensinando a gente e comecei a aprender mais. A gente também começou a fazer um projetinho pessoal, com todos os requisitos de um projeto mesmo, como justificativa, metas, objetivos, estratégias de ação. Aos poucos então gente foi pegando outras funções, de por exemplo redigir mesmo um projeto. Eu geralmente pego esboços e vou montando em cima. Depois o Nando dá uma revisada, olha se precisa de alguma coisa, e aí a gente fecha.

A . P . : E como foi a criação desse projeto pessoal, tinha a ver com o seu solo?

I. P. : É que no início daquele ano a gente decidiu fazer um projeto pessoal pro ano inteiro. Lembro que no meu alguns dos objetivos eram montar um espetáculo solo e fazer um curso de inglês, porque até mesmo metas pessoais entravam dentro do projetinho. Foi meio frustrante porque poucas das metas e objetivos foram atingidos, mas ao mesmo tempo foi bom porque muitos dos objetivos que eu não consegui atingir foi porque eu alcancei outros que não estavam previstos antes. Foi frustrante, mas foi bom ao memo tempo...

A . P . : Já tinha perguntado isso pra Jô, e agora pergunto pra você, já que vocês entraram tão novas no grupo...em que você percebe que amadureceu?

I. P. : Na verdade eu vejo um amadurecimento meu, pessoal, em vários sentidos. Eu me olho no espelho e vejo outra pessoa completamente diferente...completamente! E a coisa não é só física, é mais profunda mesmo. Quando eu entrei no grupo, eu tava na minha adolescência e passando pra fase adulta. Eu tinha muitas questões, que hoje estão mais bem resolvidas. Estou mais organizada, mais equilibrada, me sinto mais madura e mais exigente também. Acho que isso acontece pelo convívio que tenho com os meninos...o Nando, por exemplo, tem uma coisa de ser perfeccionista e com a convivência, a gente vai pegando, se contaminando, assim como tem coisas da gente que eles pegam também. E aí o amadurecimento acontece a cada dia, com as trocas do que cada um tem de bagagem.

A . P . : Ilka, parece que você começou a fazer teatro com o Pablo, no Rui Barbosa, e aí depois começou a participar de uma montagem que o Nando estava fazendo no Lyceu. Em seguida passou também a participar de treinamentos diários que Nando e Pablo ofereciam. No entanto, você não participou da próxima montagem do grupo como atriz. Explica como foi acontecendo a entrada no grupo.

I. P. : Foi um embate pra mim. Quando os meninos me convidaram para fazer o espetáculo, eu lembro que eu tava na minha adolescência e com um monte de questões . Então eu travei num momento em que eu tinha que decidir ou montar o espetáculo ou não montar, ou estar no grupo ou não estar. Eu me vi diante de uma decisão a ser tomada e me senti tão fraca que desisti. Mas desiti do espetaculo, porque continuei acompanhando os meninos...as coisas da produção eu sempre perguntava em que podia ajudar. Eu tinha desistido do espetáculo inclusive porque tinha problemas também com a minha família - com relação a fazer teatro...com a minha mãe, por exemplo. Eu era muito nova , e minha mãe não tinha cortado o cordão umbilical ainda, tinha aquela coisa super protetora dos meus pais, de eu não poder dormir fora , de não chegar tarde em casa e que foi muito difícil de cortar. Então naquele momento eu não me senti preparada pra chegar nos meus pais e dizer: olha, é isso e pronto. E acho que eles também não estavam preparados pra isso. Mas continuei na produção, que foi um caminho mais tranquilo, mais orgânico de entrar no grupo, do que romper com tudo.
(A entrevista continua...)

Entrevista com Jô de Oliveira, do Grupo Teatro Ritual ( por Andrea Pita)

A.P. : Jô, como você entrou no Teatro Ritual? Como começou essa história?

J.O.: Então, começou assim...(rsrs). Na verdade não foi uma coisa oficial mesmo, ah, agora eu entrei. Foi um processo mais lento, sabe, quando eu vi eu tava, entendeu...eu comecei lá no Lyceu, fazendo aula com o Nando, eu não me lembro o ano, eu lembro que eu tinha 16 anos quando eu comecei a fazer teatro em Goiânia...foi quando eu fui pro Lyceu, e na verdade eu fui pro Lyceu justamente porque eu fiquei sabendo que lá tinha teatro, parece que era a única escola que tinha aula de teatro mesmo, que eu fiquei sabendo. Aí eu falei, eu vou pra lá.

A.P. : Você fazia teatro antes ou não?

J.O.: Eu tinha feito uma experiência e aí eu gostei demais sabe? Foi uma experiência de escola, feira de ciências, sabe? Aí eu gostei, eu falei nossa eu quero fazer teatro. Tentei montar um grupo na escola, só que o diretor não deixou, falou que ía fazer bagunça demais , não tinha espaço. Falei ah, então vou pruma escola que tem...aí eu descobri o Lyceu, eu fui com uma amiga minha né? E aí o Nando foi divulgando nas salas...eu entrei na turma. E aí eu ía fazendo as aulas...era depois da aula , depois do meio-dia, acabava a aula e aí do meio-dia às duas era a aula de teatro. Então a gente ficava lá a manhã inteira até duas horas sem comer. Se a gente levasse um lanche tudo bem, senão a gente ficava passando fome, né? Mas a gente adorava , às vezes ficava o dia inteiro lá, sabe? Chegava a galera a gente ficava lá...aí foi passando o tempo, a gente foi fazendo teatro e tal, e montou “Calabar”. Foi a primeira peça que eu montei com o Nando lá. A gente montou não lembro quando, eu tinha 17 anos, já tava no segundo ano, e eu adorei, sabe, eu falei ah, acho que eu vou fazer Artes Cênicas, porque eu descobri que tinha Artes Cênicas na Faculdade...até então eu tava em dúvida, aí montamos e apresentamos no Festival que o Teatro Ritual produzia na época, que era o Festival do Corpo Ritual na época. Foi bem na época que o Lume veio, na segunda edição, o Simi(Simioni, do grupo Lume) assistiu e aí ele gostou pra caramba. A gente apresentou lá no Teatro Goiânia, a gente ficou super assim, se achando importante(rsrs). Depois a gente fez uma temporada no Martim Cererê... tudo com o “Calabar”, e fez uma temporadinha lá no Goiânia Ouro também. Aí começaram os treinamentos do Teatro Ritual, os treinamentos do final de semana... e aí o Nando pegou e chamou a gente, a turma né? Quem quiser ir e tal, e aprofundar mais nos trabalhos que a gente faz – porque na escola era uma coisa mais básica, mais voltada pro espetáculo que a gente tava montando - então vamo que aí a gente faz um treinamento mais específico pro ator e tal, se vocês quiserem aprender. Eu falei então eu vou. Aí fui eu, a Ilka, o João Fernando, todos faziam parte da turma lá. Aí uns foram desistindo...outros ficando...outros desistindo, no final tavam eu, a Ilka e a Aline no treinamento, não sei se o Jonathan tava também. A gente ía todo sábado, treinava, fazia relatório e entregava, era toda uma coisa. E aí chegou o vestibular. A gente tava fazendo outra montagem, que era “O Santo e a Porca”. Nisso a Ilka e a Aline já tinham entrado no Teatro Ritual, se não me engano. Aí eu tava meio assim... não sei o que eu quero da minha vida...vou fazer o vestibular primeiro. Aí eu prestei, passei, fiz o segundo semestre, vi que tinha a galerinha que tinha os grupos na faculdade e pensei “nossa, o que eu vou fazer depois que sair daqui? acho que eu vou ter que arrumar um grupo”. E aí o Nando já tinha chamado pra fazer parte do Teatro Ritual. Eu fui entrando, fui participando... quando eles fizeram o terceiro festival eu participei - aquele que o Tadashi veio - fiz todas as oficinas do Festival de graça(rsrs). Fui entrando, sabe? E aí quando é fé já tava. No quarto Festival eu já tava na produção, aí participei da recepção dos atores, da montagem do espaço, e já tava mais na produção.

(a entrevista continua...)

Entrevista de Nando Rocha, fundador do Teatro Ritual(por Andrea Pita)

A . P. : Nando, qual o ideário do Teatro Ritual e como é alimentar esse ideário
sobre qual ideário o Teatro Ritual foi formado

N. R. :Pra mim, e acredito que a gente tenta estender isso pra todos os integrantes, é de criar um teatro transcendental, um teatro que transforme as pessoas de alguma forma, que ela entre numa sala de espetáculo de uma forma e saia de outro, saia transformada. Uma coisa que move muito a gente é o desejo de transcender os nossos próprios limites, as nossas deficiências, as nossas fraquezas, as nossas limitações, que possa transcendê-las, tranpô-las com o corpo e que isso de certa forma se transforme numa estética, numa forma de arte, o que pode ser conferido nos espetáculos da Trilogia Travessia, onde eu e o Pablo estamos ali lidando com várias questões pessoais, a gente tenta então universalizar e dividir essas questões através do nosso corpo, da nossa expressão, da nossa energia. Então o que a gente procura, o que nos move a continuar pesquisando é um desejo de encontrar uma nova forma de comunicação com as pessoas, uma comunicação que vá além do verbo, vá além da retórica, além do discurso pra chegar mais próximo de um contato energético, um contato mais tácito com as pessoas, que perpasse os sentidos, a energia, a fisicalidade, e através da fisicalidade chegar nesses outros canais de comunicação.

A . P. : Como você se interessou por teatro? Como tudo começou?

N. R. : Eu no início queria muito fazer cinema, era o meu sonho fazer cinema, sou um apaixonado por cinema...ainda sou um cinéfilo, um amante mesmo da sétima arte. Eu quando pequeno tinha o que, uns dez anos, eu brincava vendo - meu pai não tinha condições de comprar uma câmera - então eu olhava no espelho, olhava pelo espelho vários movimentos de câmera, angulações e tal, imaginando, brincando de cinema com um espelhinho. Com o tempo eu fui percebendo que estudar cinema era uma coisa cara e impossível de acontecer naquela época em Goiânia, eu teria que me mudar pra outra cidade, teria que haver um investimento da minha família pra eu poder morar noutra cidade, pagar um curso e aprender. Então eu fui aos poucos descobrindo a possibilidade do teatro, na escola, com alguns amigos, professores e comecei a experimentar de forma muito autodidata, sem instrução, sem saber como fazer direito. Então a gente juntava os amigos, escrevia, desde o início eu escrevia textos, os meus próprios textos, porque eu não sabia nem onde conseguir os textos teatrais...a gente escrevia o texto, ía e fazia de forma completamente amadorística na escola, e foi daí que tudo começou, essa centelha foi explodindo. Aos poucos eu fui conhecendo, eu ía nas bibliotecas, e lia um autor e outro. O primeiro foi Stanislavski, tinha livros dele aqui em Goiânia...é importante frisar que aqui em Goiânia no final da década de 80 e início da década de 90, tinha uma deficiência muito grande de informação sobre o teatro nas bibliotecas, tinha poucos livros e não tinha uma faculdade de artes cênicas aqui. Os cursos que tinham eram os cursos livres de teatro, e eram no Veiga Valle, que eu saiba, no Centro Livre de Artes - isso eu to chutando - mas eu sei que sempre tinha no Veiga Valle, e sei que tinha no Cefet, com o Sandro di Lima. Tirando isso tinham os grupos que faziam teatro, que eu não conhecia também, que fui conhecendo bem aos poucos. Logo eu conheci o Samuel Baldani, que dava aula na Católica e através dele conheci o Eduardo de Souza, que fazia parte da Casa do Teatro, e lá foi minha primeira experiência assim com aula de teatro. A gente fazia teatro intuitivamente, devia ser terrível mas era uma coisa espontânea, um menino de 12, 13, 14 anos, brincando de fazer teatro na escola, com os amigos. E logo eu comecei a estudar Stanislavski, destrinchei “A preparação do Ator”, inclusive eu desenhava meus estudos, transpunha pra desenho, porque eu gostava muito de desenhar nessa época de infância - inclusive eu achei que ía enveredar pras artes visuais, pras artes plásticas, mas uma professora no Veiga Valle me fez desistir disso também. Eu comecei a fazer aula, e a desenvolver uma técnica que ela tava ensinando e a metodologia dela era através da observação de um vaso...a gente pintava vários vasos, flores e tal, só que eu era muito impaciente, aprendia mais rápido e já fazia e queria ir pra frente, e ela não queria, queria que eu acompanhasse a turma e começou a ser um pouco autoritária, de forma que assustou e eu saí, parei de desenhar, e fui começando a brincar de fazer teatro. De lá pra cá fui estudando, estudando, aprendendo, fazendo cursos...eu lembro que a primeira oficina que eu fiz de teatro foi no Martim Cererê com o Mauri de Castro, que foi uma experiência incrível. Eu já tinha estudado exercícios de teatro em livros e já tinha tentado aplicar em mim mesmo e em colegas de teatro na escola, e aí eu ter um professor e fazer uma oficina com ele foi muito bom. Lembro que ele parecia uma pessoa mística, tinha uma técnica de pegar na gente e dar choque, e aquilo me impressionou assim, não sei como que ele faz mas ele falava “vou te dar o choque você quer?” E eu: “Vai, dá o choque”, e aí ele me dava o choque. Já foi minha primeira experiência com energia(rsrs), energia física no próprio corpo. Até hoje não sei, tenho que descobrir com o Mauri fazia isso, que eu não aprendi.

A . P.: O que em teatro te entusiasmou quando você assistiu?

N. R. : O primeiro espetáculo que eu vi, que mexeu comigo, que eu pensei é isso que eu quero fazer, foi o “Martim Cererê” do Marcos Fayad. Eu assisti no Teatro Goiânia, era uma remontagem já, porque ele montou bem antes, quando eu era bem novinho, depois ele remontou na década de 90 e eu assisti. Era um teatro físico pra mim, não sabia o que era, não conhecia esse termo, mas eram vários atores fazendo índios e não tinha uma fala...eu lembro até hoje assim de como eu me emocionei, de como eu me arrepiei, de ver aquela sequência de cenas, de como ele construiu aquilo. Os atores faziam círculos e faziam rituais de índios e tal, depois o espetáculo foi evoluindo até chegar na urbanidade, na cidade e tal, aí começavam a entrar os textos, mas a maior parte do espetáculo era assim físico, era uma representação mais visual, pelo menos foi o que ficou na minha memória, o que marcou, e eu não conhecia o Marcos Fayad, não sabia quem era, nada...devia ter 15, 16 anos e foi uma experiência assim marcante, das primeiras coisas que eu vi. Depois fui abrindo meus horizontes pra outras referências, até que surgiu o Lume, que foi completamente arrebatador pra mim. Eu lembro que lá em Campinas eu assisti um espetáculo do lado da Ana Cristina do Zabriskie, o “La Scarpetta”, que era um solo de palhaço do Ricardo Pucceti. Eu fiquei completamente arrebatado, porque era o tipo de teatro que eu queria fazer desde sempre, era mais que teatro, não sabia se devia chamar aquilo de teatro, pra mim era um ritual, próximo do que eu queria fazer. Era esse o objetivo de colocar esse nome de Teatro Ritual, pra que fosse uma celebração, um encontro transcendente, e isso eu senti mesmo com o Lume. Entre a pessoa que tão no palco e as pessoas que tão assistindo, era como se eu testemunhasse um ato xamânico, de cura de alguma forma, que resumia tudo o que eu gostaria de fazer um dia no teatro, então pra mim foi uma experiência fantástica ver pela primeira vez...depois a gente trouxe eles aqui, eu vi todos os espetáculos e o trabalho deles me encantou profundamente, deu uma inspiração enorme, sabe, pra gente, o suprassumo assim do que a gente busca. E aí depois eu vi muitas outras coisas de espetáculos de mímica, espetáculos fora daqui , né, em São Paulo, na Itália, na Alemanha a gente viu umas performances também, em Brasília a gente viu um espetáculo de mímica com um grupo que se chama Black Sky White, o espetáculo se chamava “Bertrand Toys”, “Os brinquedos de Bertrand”, que era um espetáculo um pouco sombrio, causava sensações profundas na platéia. Eu gosto disso, eu gosto de espetáculos que mexem com as sensações, provocam sensações boas ou ruins, mas que interferem em alguma coisa, que eu não assisto confortavelmente da poltrona.
(a entrevista continua...)

Entrevista com Pablo Angelino, integrante e co-fundador do Grupo Teatro Ritual (por Andrea Pita)

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A.P.: Pablo, como você começou no teatro e como foi esse momento em que você e Nando se conheceram? E a formação do Teatro Ritual?

P.A.: Eu era aluno do Lyceu, o Nando tinha uns amigos e eles começaram a fazer trabalhos com o teatro. A maioria dos trabalhos eles faziam apresentações e isso começou a fazer um burburinho na escola. Então eu já gostava de fazer teatro, já fazia teatro na escola em que eu estudava antes
e tava procurando onde tava o meio cultural, o meio artístico da escola. Então
na minha turma tinha a Tâmara, que foi uma pessoa importante nesse momento. Ela era uma amiga comum e disse ah tem o pessoal aqui na escola, o Ruber e o Nando que fazem teatro. A gente foi apresentado e eles tinham um projeto de montar um espetáculo, que falava sobre a coisa da Aids na época, e aí tinha um monte de gente envolvida. Eu achei isso uma coisa muito interessante, o texto era uma coisa muito legal, chamava-se “Pelos gritos do sangue”, escrito pelo Nando e pelo Ruber. Eu me identifiquei. Tinha a idéia de um cara contrair a doença mas ele achava que aí ele era um vampiro, idéia super-louca. Isso me seduziu, falei ótimo, achei minha turma aqui. Só que a gente começou os ensaios, tinha uma galera assim de 30 pessoas que não fazia teatro, uma zona. A galera chegava no auditório pra ensaiar e colocava o “Raimundos” e começava a dançar e trocar idéia. E aí eu pensei, ué mas e aí, cadê a coisa acontecendo? A gente ía ensaiar na casa do Miguel, que o Miguel morava perto da escola na época. Na verdade não era um ensaio, era uma celebração, era uma farra. Resultado: não saiu o espetáculo. Eu lembro até que o menino que fazia o personagem principal – teve um teste lá pra seleção do elenco e tal - e esse menino que fazia o personagem principal que era portador de aids, era portador de aids na vida real e ele falou isso. E aí ficou um clima porque ninguém tava preparado, aquela coisa, todo mundo na curtição e não sei o quê e aí o cara assume ai eu sou portador de aids . Enfim, faltou ali um método e o que era pra acontecer não aconteceu, ficou aquela coisa dos amigos se encontrando no final de semana, e aí rolou toda uma frustração, né... então eu falei não era essa galera que eu queria fazer teatro porque eles são mais a fim da curtição e tal. Me distanciei deles e fiquei com uma certa mágoa também,porque eu queria muito fazer a coisa e senti que eles não tavam prontos pra conduzir. Logo surgiu uma professora de teatro na escola, a Adriana Araújo, ela era do Guará. Aí ela tinha um contato com algum professor lá do Lyceu e rolou a coisa dos PRAECS, dos projetos nas escolas, e ela passou na minha sala. Quando ela passou, ela falou - olha eu vim aqui pra chamar pro curso de teatro não sei o que...Quando ela saiu eu lembro que o professor que tava lá, que era um professor de Biologia muito descolado que eu respeitava muito, soltou a frase, falou gente aproveita essa oportunidade porque numa escola pública ter um professor de teatro assim, podendo fazer de graça não é sempre, não é em qualquer escola. E realmente não era. Então eu juntei uma galera que tava lá, meus amigos, falei vamu vir hoje à tarde. Nós fomos, aí ela veio com todo um método que ela tava fazendo no Guará, estudando no Guará, na época tinha o Lau, a Karine Frattari, eles tavam fazendo o “Auto da Compadecida”, tavam treinando muito teatro físico, então ela tava estendendo isso pros alunos da escola. Ela traz essa técnica teatral - e até então eu sempre fiz teatro intuitivamente, vi que os meninos também faziam com essa intuição, e chega a Adriana colocando uma técnica né - técnicas vocais, técnicas corporais que ela trazia da Universidade Católica, do trabalho que ela fazia com o Samuel Baldani. Isso me encantou, adorava ir pras aulas e tal, então eu comecei a fazer parte desse grupo que era o grupo da Professora Adriana na escola, e tinha o grupo do Nando, o “Ritual Cia Cênica ' na época, e a gente meio que tinha uma rixa assim na escola, que era uma coisa super saudável na época, uma concorrência saudável, porque eu tinha passado pelo grupo Ritual, onde tava surgindo essa idéia de ritual, e tinha visto que não tinha essa metodologia, essa técnica e tava estudando com a Adriana e vi que tinha uma coisa mas o que aconteceu foi que o Nando e o Ruber começaram a organizar essa história do grupo, tiraram um monte de gente da história e ficaram fazendo teatro o Nando, o Ruber e a Maira praticamente. Eles começaram a estabelecer essa formação do grupo na época, e eu fazia teatro com a Adriana. Então tinha esses dois grupos na escola: o oficial, que uma professora coordenava e tal, e tinha o grupo dos alunos, que eles tinham uma liberdade ali na escola. E aí logo rolou uma história de eles precisarem substituir um ator, num espetáculo que eles tavam montando, o Nando e o Ruber, que era já a idéia do Ritual, então eles tavam ensaiando o espetáculo. Eles tinham essa autonomia na escola, até cobravam ingressos dos alunos, o que funcionava meio como um salário, era uma coisa bem interessante como a coisa começou a se estabelecer e que parte dessa época...mas eles começaram a fazer uma peça que se chamava “Pintou um clima”, que era uma peça sobre os adolescentes que se conhecem numa festa e tal e aí depois tinha um casamento... e aí o que aconteceu foi que a atriz principal inflamou a garganta, uma faringite, e ela fazia parte de uma seita, uma religião em que não podia tomar remédio. E aí no dia da apresentação, a mãe dela liga falando olha ela não vai poder ir hoje, não vai poder que ela tá com a garganta inflamada e ela não pode tomar antibiótico... e os alunos já tavam fazendo uma fila pra entrar e assistir o espetáculo. Daí eles foram, o Nando e o Ruber, lá na minha sala e falaram – olha, tem um personagem que é uma ponta, se você puder fazer...que aí a gente coloca um ator, que era o Ruber, pra fazer o personagem dela e você faz o padre, que só aparece no final. Foi dito e feito, o Ruber se traveste de mulher e faz o personagem principal que a Maira fazia, e eu fiz o final. Peguei o texto rapidinho e montei uma coisa, pra ajudar eles né? E o Ruber falou depois que ele sonhava que isso ía acontecer, e aconteceu de fato, e aí eu achei super interessante isso tudo, achei interessante pegar assim o personagem e montar, pegar as técnicas que eu tinha aprendido lá com a Adriana, de projeção vocal e tal. Aí a gente começa a estreitar a relação de novo. Depois do “Pintou um clima”, pintou um climão, a Maira não foi e tal e aí ela teve que se afastar, então eles pensaram em montar um espetáculo, o Ruber e o Nando, e aí me convidaram pra participar. Era “Os Tufos”, que eram três personagens estraterrestres que estavam decidindo o futuro da humanidade, e eles íam escolher se o mundo ía acabar, se o mundo não ía acabar, rolava aquela coisa do ano 2000, da virada do milênio... então o espetáculo chamava “Tufos, o destino do homem após o ano 2000”, uma coisa assim. E tinha umas idéias super legais que me inspiravam pra caramba, e aí eu fui e entrei nessa história, comecei a ensaiar com eles e aí que a minha história com os meninos, o Nando, o Ruber e o Teatro Ritual começa a se estreitar um pouco mais, com essa montagem dos “Tufos”. É também um momento em que o curso infelizmente acaba, o curso que eu fazia lá com a Adriana. O contrato dela vence, aí ela me chama pra participar do Grupo Guará. Aí eu começo a frequentar o Guará, mas não mais como aluno da Adriana, mas como um estagiário, vendo e fazendo parte dos treinamentos...o Lau Carvalho na época puxava umas coisas super bacanas, muito legais, e aí fui me tornando mais independente de professor.

A.P.: Quando você deu apoio pro Nando no Lyceu, ele já era professor? Como isso se dava?

P.A.: Era uma coisa muito interessante porque a gente saiu do Lyceu e aí a gente se formou e tal, mas a gente ainda teve uma abertura porque o diretor que entrou no Lyceu, ele super queria que a história do teatro continuasse ali. A Adriana, que era a professora... bom, houve uma fatalidade, ela foi assassinada pelo namorado e tal...mas ele queria que continuasse o professor de teatro e o Nando, como já encabeçava a história do grupo ali, propôs pro diretor, o Miguel, e ele falou “claro, pode continuar por aqui” e a gente meio que continuou com a sede do grupo lá no Lyceu. A gente saiu do Lyceu durante um ano foi quando a gente se formou. Aí ficou no Jaó, na casa do Nando.
Depois o Nando foi contratado pelo Lyceu e a gente voltou pra lá. Eu saí do grupo Guará, e nisso meio que tava só eu e o Nando tocando a história do grupo... o Ruber foi atrás de uma história pessoal e tal, a Maira também... então a gente não tinha atores, tinha várias idéias e tal. Então quando o Nando começa a dar aula, a gente vê esse potencial de de repente trazer esses alunos que faziam aula com o Nando, e aí a gente escolheu umas pessoas para montarem um espetáculo com o grupo. Então durante as aulas eu meio que acessorava o Nando... ele dava as aulas mas eu sempre tava acessorando ele, e das aulas a gente foi convidando os alunos, por exemplo o Paulinho...a gente foi convidando eles para fazer parte do Teatro Ritual. Então aí fica bem misturado a questão do Nando como professor e eu como esse estagiário, esse acessor dele dentro do Lyceu e essa ponte que era esse grupo de alunos para o Teatro Ritual, as coisas começam a caminhar um pouco juntos ali. A gente dava aula de manhã, tinha um horário que as turmas da escola inteira íam para fazer teatro...era muita gente na época, o Lyceu tinha muito aluno, a gente tinha que dividir todo mundo em umas duas ou três turmas, e a gente dava aula o dia inteiro pra elas... e ainda tinha um horário que era um horário pro grupo e que a gente convidava alunos dessas três turmas pra participar de um núcleo comum, que era o núcleo de produção, que era o Teatro Ritual.

A.P.:
E aí depois você também passou a ser professor, não é? Queria que falasse um pouco disso, e de quando você montou as peças com os alunos e houve prêmios na história...

P.A.:
Essa história da educação vai...então, quê que acontece...eu não era professor efetivamente, o Nando tinha um contrato lá no Lyceu e eu não, então eu auxiliava ele, e essa coisa do professor de teatro na escola não era formal...aí paralelamente tá rolando na cidade a coisa da estruturação na educação da coordenação de artes no Estado, que era o Ciranda da Arte. Então quando o Ciranda tá nascendo e descobre o trabalho do Nando lá no Lyceu, então eles falaram ó vc é o professor de teatro aqui, e tem o professor de dança, o de música, então vamos unir esses professores e fazer uma reorientação, uns cursos... e aí começa a ter a coisa dos PCNs e isso tudo a Luz Marina coordenando. A idéia do Ciranda da Arte, que nasce, que surge dessa coordenação dos professores de arte, então começa, o que foi muito importante. Então o Nando começa a fazer esses cursos de formação, que eram muito interessantes, o PCN com Arte, a idéia dos PCN, os Parâmetros Currriculares Nacionais. Pra escola os parâmetros em arte eram muito interessantes...eu achava muito legal, porque a gente dava aula assim muito intuitivamente e aí saber que tinham esses parâmetros que estavam sendo implantados nas escolas chamou muito a atenção...então o pessoal deu cursos pra esses professores e aí levava esses professores pra outras cidades por exemplo Goiás Velho, Pirinópolis, e eu sempre que podia dava um jeito de ir também, não para fazer o curso regularmente porque eu ainda não era professor, mas já tava me aproximando dessa idéia, desse meio que eram os professores de arte. A Luz Marina a gente conheceu num desses “PCN com Arte” e aí estavam ampliando a coisa dos PRAECS com o projeto de teatro, o projeto de dança, o projeto de música, o projeto de artes visuais...começou a criar esse fôlego e aí surgiram duas escolas, o Rui Brasil e a Guanabara, e aí quando ela propôs pra eu pegar, eu “ôpa é agora”...peguei as duas escolas e comecei a desenvolver o projeto lá. O Nando continuou no Lyceu, e aí a gente se divide um pouco, o Nando no Lyceu, e eu fui pra outras escolas. Isso na verdade meio que ampliou a idéia da gente de estar sempre observando esses alunos e os que se destacavam , os que tinham uma vocação maior a gente convidava pra continuarem com a gente a história do Teatro Ritual. Quando eu vou pro Rui Brasil e o Guanabara, são dois universos completamente diferentes, o que era muito interessante porque era uma escola de periferia num bairro super afastado, uma realidade social super precária, muito carente e o Rui Brasil, que era numa área nobre da cidade, no Setor Oeste, que tinha um perfil de alunos um pouco mais ricos. Então eram universos muito diferentes, e isso tudo me instigava bastante...achava muito interessante trabalhar com essa diversidade, e aí eu tive a idéia num determinado momento de tentar fazer uma ponte entre esses dois universos, do Setor Oeste com o Jardim Guanabara. Comecei a misturar esses alunos, trazer estes mais carentes que nem sequer vinham ao centro nem pra passear. Quando eles vinham pro centro de Goiânia, era como se fosse pra outra cidade, eu botava tudo num ônibus e trazia eles pra cá e a turma daqui levava pra lá. Obviamente foi um período muito fértil né, a gente produziu muita coisa interessante e os projetos dessas duas escolas se destacaram muito, porque a diversidade era muito grande, alunos tinham muita vontade de fazer as coisas e eu muito apaixonado, porque também entrei na faculdade nesse mesmo período... então via muita coisa da faculdade e minha cabeça foi se abrindo muito,. Foi um período realmente muito interessante, a gente fez uns trabalhos nessas duas escolas que se destacaram bastante, e consequentemente os trabalhos começam a se destacar no Ciranda da Arte... nas mostras dos alunos as pessoas achavam muito interessante o tanto de aluno, porque as pessoas tinham muita dificuldade de reunir o grupo pra fazer teatro fora do horário de aula e tinha que dar almoço pra esses meninos, enfim...então eu levei toda a experiência que eu tive no Lyceu com o Nando e a coisa da universidade mais essa relação com a diversidade cultural e social, e isso tudo foram cinco anos de intenso trabalho nas escolas...

( A entrevista continua...)

Entrevista com Luz Marina Alcântara (por Andrea Pita):

Neste mês de março, o Teatro Ritual comemora seus 15 anos de existência, motivo pelo qual o blog disponibilizará entrevistas com o grupo ou com pessoas que foram importantes ao longo dessa trajetória. A primeira a ser entrevistada é Luz Marina de Alcântara, diretora do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte. A convivência entre Luz Marina e Nando começou ainda na época em que este era professor do Lyceu. Nando lutava pelo teatro na escola e, se fosse necessário, falava com os professores de matemática, português e outros para que houvesse uma avaliação conjunta e o teatro fosse levado a sério. Luz Marina, por outro lado, ocupava-se intensamente com a arte nas escolas do Estado, em suas quatro linguagens. O Teatro Ritual, desde que foi criado, sempre lutou para fazer acontecer. Nesse sentido, propunha cursos em Goiânia, em outras cidades ou Estados, trazia pessoas importantes às áreas para que o grupo e a cidade pudessem “reaprender” o teatro. Por sua vez, o Ciranda da Arte, como Centro de Estudo e Pesquisa, desde seu início congrega pessoas, professores ou artistas que acreditam na formação continuada como fundamental em um mundo em constante mudança e necessitado de maior humanização. A parceria não ocorreu por acaso. Nando e Luz Marina, ao longo desses anos, foram se reconhecendo cada vez mais: Nando leva muito a sério o projeto do Teatro Ritual, enquanto Luz Marina demonstra essenciais conhecimentos, valorizando e dando o suporte necessário para respaldar o projeto, tanto no Ciranda quanto fora dele.

Mas vamos à entrevista:

Andréa Pita: Luz Marina, pelo que me recordo, Nando disse que vocês se conheceram no “PCN com arte”, o primeiro projeto grande de formação de professores de arte no Estado, realizado em parceria com o governo federal. O projeto tinha vários módulos e professores de várias modalidades de arte participaram. Como foi isso?

Luz Marina: Antes do “PCN com arte”, assim que eu assumi a Subsecretaria Metropolitana, tentamos organizar todas as áreas da arte. Naquela época, entrei para coordenar os projetos de Coro e de Banda que já existiam nas escolas, mas assim que eu cheguei na Metropolitana, descobri que também havia um trabalho já começado nas escolas com teatro. Numa dessas escolas, que era o Lyceu, estava o Nando como professor de teatro e ele e outros colegas até tinham realizado alguns festivais envolvendo as escolas que participavam, que eram o Lyceu, o Pré-vestibular que hoje é o Pré- universitário, o Jardim América. No Pré-vestibular estava o Eduardo de Souza, no Jardim América estava o Adélcio e tinha o Júlio no Goiany Prates. A Secretaria já tinha esse projeto acontecendo em quatro escolas; isso foi mais ou menos em 1998, 1999, quando eu entrei na Metropolitana e, em 2000, nós realizamos o referido projeto. A Superintendência de Ensino Fundamental recebeu um projeto diretamente do MEC, para formação de professores da área de arte e esta formação se chamava “PCN com Arte”. E, nessa época, nós levamos para essa formação 120 professores do Estado; essa formação foi feita nas áreas específicas, com 30 professores de cada uma das áreas: 30 para Música, 30 para Dança, 30 para Artes Visuais, 30 para o Teatro e, essa turma, nesse momento do “PCN com Arte”, eu passei a conhecer melhor os professores que já estavam trabalhando na respectiva área nas escolas, não só em Goiânia, como também em todo o Estado. Esse projeto chegou, foi desenvolvido em 3 ou 4 estados. Foi um projeto, um piloto feito nessa formação. Os outros estados, que fizeram o “PCN com Arte”, foram Acre, Mato Grosso do Sul e Bahia. Foi um curso muito legal. Quem trabalhou com o teatro, juntamente aos professores, foi a Rô Reis, de Salvador. E ela deu um presente para os professores que fizeram a formação em teatro, que foi uma viagem, à Bahia, com estadia paga. Nesse sentido, a Secretaria da Educação bancou a viagem a Salvador, concedendo um ônibus. O evento que lá seria prestigiado era o Mercado Cultural, o qual acontece naquela capital. E nós estivemos, então, com os professores que fizeram o “PCN com Arte”, durante uma semana, neste evento. E aí houve uma integração maior entre os professores da área de teatro. Tanto é que o projeto de teatro se expandiu a partir dessa formação. Foi assim que eu conheci o Nando; nessa época, não tínhamos o Pablo conosco ainda. Pablo veio depois. Foi pelo Nando que nós o conhecemos, porque o Nando foi para formação e eu fiquei sabendo, posteriormente, que o Pablo também estava na cidade, embora não estivesse no hotel com nossa turma. Mas ele estava na cidade, acompanhando também a nossa formação.

A.P.: E o Pablo? Como você veio a conhecer melhor o trabalho dele? Parece que ele trabalhou um tempo na escola do Jardim Guanabara, onde conseguiu dois prêmios para o grupo da escola, ganhando para aquela unidade computadores, verba. E só depois que entrou para o Ciranda. Como se deu esse fato?

L.M.: Na Secretaria, em 2000, no final dessa formação, surgiu uma proposta da Superintendência que se chamava “Escola em Movimento”, a qual, atualmente, denominamos PRAEC. Na verdade, foi quando se criou o PRAEC, que eram os projetos que os professores desenvolviam no contraturno do aluno, com a finalidade de aprofundar o conhecimento discente na área. Então, nessa época vários professores de teatro foram contratados para as escolas, haja vista que não tínhamos, na rede, professor efetivo de teatro. Foi a partir daí que aconteceram as contratações e, assim, o Pablo foi enviado ao Colégio Jardim Guanabara. E ele fez um trabalho muito bacana, maravilhoso. Eles participaram de um concurso, que eu não me lembro bem, mas parece que era proposto pelo Banco do Brasil... Enfim, era um concurso feito diretamente com as escolas e era como um festival. O Colégio Guanabara participou e ganhou prêmios, no entanto, não sei detalhar com precisão. Desse modo, a partir do concurso ele foi mais direto com a escola, mas não por meio da Secretaria. Eles foram premiados e a partir de então eu conheci o trabalho do Pablo, que eu gosto muito, bastante mesmo. Portanto, o Ciranda da Arte foi resultado das formações que fizemos, no período compreendido entre 2000 a 2004, estivemos sempre trabalhando com os professores da área de arte, o qual resultou na criação de um Centro de Estudo e Pesquisa na área de Arte. Foi quando eu trouxe o Pablo e o Nando para fazerem parte de nossa equipe, para somarem esforços na formação dos professores e, posteriormente, eles se engajaram na área de produção artística, uma vez que nós também temos esse lado bem difundido no Ciranda, que são os grupos de produção. E, hoje, temos a “Trupe dos Cirandeiros”, da qual o Nando, o Pablo, a Ilka e a Jô fazem parte.

A.P.: Como se iniciou essa história do grupo de produção?

L.M.: Durante o momento da reorientação curricular, nós trabalhamos com os professores aqui de Goiânia, sobretudo com aqueles que têm mais acesso ao Ciranda da Arte. Mas, além disso, fizemos um trabalho com os professores do interior de todo o Estado de Goiás. E, nessa demanda da reorientação fora do Ciranda, centramos nosso trabalho em Pirenópolis; foi um momento que encontramos não dentro da reorientação, mas também dentro do pensamento de orientação dos professores, em Caldas Novas, para onde levamos o grupo de produção para se apresentar. Esse foi um momento muito importante para os professores que moram fora de Goiânia e que não têm muito acesso ao teatro, à arte, enfim. Muitos infelizmente não têm esse acesso e, desse modo, foi bastante enriquecedora a apresentação do Grupo de Produção, que pôde mostrar seu trabalho, seu trabalho de criação e também o resultado de seu trabalho. Percebemos, ademais, que isso motivava os professores a também buscarem formar seus grupos nos seus locais, nas suas cidades; funcionou, na verdade, como uma injeção de ânimo aos professores, o que contribuiu positivamente na efetivação desse trabalho.

A.P.:A partir de então, o Pablo chegou a coordenar o trabalho de teatro no Ciranda?

L.M.: O Pablo esteve na coordenação do teatro dentro dessa questão da formação dos professores. Quando nós começamos o Ciranda, em 2004, tínhamos um coordenador, que era o Adélcio. Daí, quando ele se mudou sentimos a necessidade de buscar o Pablo para a coordenação desse grupo. E em nenhum momento houve uma ruptura, porque o pensamento continuou, o pensamento do teatro na educação. A busca de compreensão desse processo de criação, voltado para a escola, não teve nenhuma quebra. O Pablo até, de certa forma, ampliou a possibilidade de as escolas participarem do projeto, concedendo a elas o apoio devido, nesse momento. E os diretores das escolas sempre buscam as apresentações de teatro, considerando que as crianças e os adolescentes gostam muito de assistir apresentações de teatro. Às vezes, fico questionando com os meninos do Coro que precisamos pensar um repertório para atender os jovens, já que nosso repertório está mais para o professor. Temos, sim, um trabalho voltado às crianças, porém não um mais direcionado aos jovens. Ainda nesse ano o Coro pretende disponibilizar um repertório que os atenda mais diretamente. Isso é muito importante. Mas o teatro cobre esse lado. Quando o evento da escola é para os alunos do ensino médio, a gente pensa logo no teatro, pois há uns quadros muito interessantes e que falam a linguagem dos jovens.


(A entrevista continua...)