Neste mês de março, o Teatro Ritual comemora seus 15 anos de existência, motivo pelo qual o blog disponibilizará entrevistas com o grupo ou com pessoas que foram importantes ao longo dessa trajetória. A primeira a ser entrevistada é Luz Marina de Alcântara, diretora do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte. A convivência entre Luz Marina e Nando começou ainda na época em que este era professor do Lyceu. Nando lutava pelo teatro na escola e, se fosse necessário, falava com os professores de matemática, português e outros para que houvesse uma avaliação conjunta e o teatro fosse levado a sério. Luz Marina, por outro lado, ocupava-se intensamente com a arte nas escolas do Estado, em suas quatro linguagens. O Teatro Ritual, desde que foi criado, sempre lutou para fazer acontecer. Nesse sentido, propunha cursos em Goiânia, em outras cidades ou Estados, trazia pessoas importantes às áreas para que o grupo e a cidade pudessem “reaprender” o teatro. Por sua vez, o Ciranda da Arte, como Centro de Estudo e Pesquisa, desde seu início congrega pessoas, professores ou artistas que acreditam na formação continuada como fundamental em um mundo em constante mudança e necessitado de maior humanização. A parceria não ocorreu por acaso. Nando e Luz Marina, ao longo desses anos, foram se reconhecendo cada vez mais: Nando leva muito a sério o projeto do Teatro Ritual, enquanto Luz Marina demonstra essenciais conhecimentos, valorizando e dando o suporte necessário para respaldar o projeto, tanto no Ciranda quanto fora dele.
Mas vamos à entrevista:
Andréa Pita: Luz Marina, pelo que me recordo, Nando disse que vocês se conheceram no “PCN com arte”, o primeiro projeto grande de formação de professores de arte no Estado, realizado em parceria com o governo federal. O projeto tinha vários módulos e professores de várias modalidades de arte participaram. Como foi isso?
Luz Marina: Antes do “PCN com arte”, assim que eu assumi a Subsecretaria Metropolitana, tentamos organizar todas as áreas da arte. Naquela época, entrei para coordenar os projetos de Coro e de Banda que já existiam nas escolas, mas assim que eu cheguei na Metropolitana, descobri que também havia um trabalho já começado nas escolas com teatro. Numa dessas escolas, que era o Lyceu, estava o Nando como professor de teatro e ele e outros colegas até tinham realizado alguns festivais envolvendo as escolas que participavam, que eram o Lyceu, o Pré-vestibular que hoje é o Pré- universitário, o Jardim América. No Pré-vestibular estava o Eduardo de Souza, no Jardim América estava o Adélcio e tinha o Júlio no Goiany Prates. A Secretaria já tinha esse projeto acontecendo em quatro escolas; isso foi mais ou menos em 1998, 1999, quando eu entrei na Metropolitana e, em 2000, nós realizamos o referido projeto. A Superintendência de Ensino Fundamental recebeu um projeto diretamente do MEC, para formação de professores da área de arte e esta formação se chamava “PCN com Arte”. E, nessa época, nós levamos para essa formação 120 professores do Estado; essa formação foi feita nas áreas específicas, com 30 professores de cada uma das áreas: 30 para Música, 30 para Dança, 30 para Artes Visuais, 30 para o Teatro e, essa turma, nesse momento do “PCN com Arte”, eu passei a conhecer melhor os professores que já estavam trabalhando na respectiva área nas escolas, não só em Goiânia, como também em todo o Estado. Esse projeto chegou, foi desenvolvido em 3 ou 4 estados. Foi um projeto, um piloto feito nessa formação. Os outros estados, que fizeram o “PCN com Arte”, foram Acre, Mato Grosso do Sul e Bahia. Foi um curso muito legal. Quem trabalhou com o teatro, juntamente aos professores, foi a Rô Reis, de Salvador. E ela deu um presente para os professores que fizeram a formação em teatro, que foi uma viagem, à Bahia, com estadia paga. Nesse sentido, a Secretaria da Educação bancou a viagem a Salvador, concedendo um ônibus. O evento que lá seria prestigiado era o Mercado Cultural, o qual acontece naquela capital. E nós estivemos, então, com os professores que fizeram o “PCN com Arte”, durante uma semana, neste evento. E aí houve uma integração maior entre os professores da área de teatro. Tanto é que o projeto de teatro se expandiu a partir dessa formação. Foi assim que eu conheci o Nando; nessa época, não tínhamos o Pablo conosco ainda. Pablo veio depois. Foi pelo Nando que nós o conhecemos, porque o Nando foi para formação e eu fiquei sabendo, posteriormente, que o Pablo também estava na cidade, embora não estivesse no hotel com nossa turma. Mas ele estava na cidade, acompanhando também a nossa formação.
A.P.: E o Pablo? Como você veio a conhecer melhor o trabalho dele? Parece que ele trabalhou um tempo na escola do Jardim Guanabara, onde conseguiu dois prêmios para o grupo da escola, ganhando para aquela unidade computadores, verba. E só depois que entrou para o Ciranda. Como se deu esse fato?
L.M.: Na Secretaria, em 2000, no final dessa formação, surgiu uma proposta da Superintendência que se chamava “Escola em Movimento”, a qual, atualmente, denominamos PRAEC. Na verdade, foi quando se criou o PRAEC, que eram os projetos que os professores desenvolviam no contraturno do aluno, com a finalidade de aprofundar o conhecimento discente na área. Então, nessa época vários professores de teatro foram contratados para as escolas, haja vista que não tínhamos, na rede, professor efetivo de teatro. Foi a partir daí que aconteceram as contratações e, assim, o Pablo foi enviado ao Colégio Jardim Guanabara. E ele fez um trabalho muito bacana, maravilhoso. Eles participaram de um concurso, que eu não me lembro bem, mas parece que era proposto pelo Banco do Brasil... Enfim, era um concurso feito diretamente com as escolas e era como um festival. O Colégio Guanabara participou e ganhou prêmios, no entanto, não sei detalhar com precisão. Desse modo, a partir do concurso ele foi mais direto com a escola, mas não por meio da Secretaria. Eles foram premiados e a partir de então eu conheci o trabalho do Pablo, que eu gosto muito, bastante mesmo. Portanto, o Ciranda da Arte foi resultado das formações que fizemos, no período compreendido entre 2000 a 2004, estivemos sempre trabalhando com os professores da área de arte, o qual resultou na criação de um Centro de Estudo e Pesquisa na área de Arte. Foi quando eu trouxe o Pablo e o Nando para fazerem parte de nossa equipe, para somarem esforços na formação dos professores e, posteriormente, eles se engajaram na área de produção artística, uma vez que nós também temos esse lado bem difundido no Ciranda, que são os grupos de produção. E, hoje, temos a “Trupe dos Cirandeiros”, da qual o Nando, o Pablo, a Ilka e a Jô fazem parte.
A.P.: Como se iniciou essa história do grupo de produção?
L.M.: Durante o momento da reorientação curricular, nós trabalhamos com os professores aqui de Goiânia, sobretudo com aqueles que têm mais acesso ao Ciranda da Arte. Mas, além disso, fizemos um trabalho com os professores do interior de todo o Estado de Goiás. E, nessa demanda da reorientação fora do Ciranda, centramos nosso trabalho em Pirenópolis; foi um momento que encontramos não dentro da reorientação, mas também dentro do pensamento de orientação dos professores, em Caldas Novas, para onde levamos o grupo de produção para se apresentar. Esse foi um momento muito importante para os professores que moram fora de Goiânia e que não têm muito acesso ao teatro, à arte, enfim. Muitos infelizmente não têm esse acesso e, desse modo, foi bastante enriquecedora a apresentação do Grupo de Produção, que pôde mostrar seu trabalho, seu trabalho de criação e também o resultado de seu trabalho. Percebemos, ademais, que isso motivava os professores a também buscarem formar seus grupos nos seus locais, nas suas cidades; funcionou, na verdade, como uma injeção de ânimo aos professores, o que contribuiu positivamente na efetivação desse trabalho.
A.P.:A partir de então, o Pablo chegou a coordenar o trabalho de teatro no Ciranda?
L.M.: O Pablo esteve na coordenação do teatro dentro dessa questão da formação dos professores. Quando nós começamos o Ciranda, em 2004, tínhamos um coordenador, que era o Adélcio. Daí, quando ele se mudou sentimos a necessidade de buscar o Pablo para a coordenação desse grupo. E em nenhum momento houve uma ruptura, porque o pensamento continuou, o pensamento do teatro na educação. A busca de compreensão desse processo de criação, voltado para a escola, não teve nenhuma quebra. O Pablo até, de certa forma, ampliou a possibilidade de as escolas participarem do projeto, concedendo a elas o apoio devido, nesse momento. E os diretores das escolas sempre buscam as apresentações de teatro, considerando que as crianças e os adolescentes gostam muito de assistir apresentações de teatro. Às vezes, fico questionando com os meninos do Coro que precisamos pensar um repertório para atender os jovens, já que nosso repertório está mais para o professor. Temos, sim, um trabalho voltado às crianças, porém não um mais direcionado aos jovens. Ainda nesse ano o Coro pretende disponibilizar um repertório que os atenda mais diretamente. Isso é muito importante. Mas o teatro cobre esse lado. Quando o evento da escola é para os alunos do ensino médio, a gente pensa logo no teatro, pois há uns quadros muito interessantes e que falam a linguagem dos jovens.
(A entrevista continua...)
Mas vamos à entrevista:
Andréa Pita: Luz Marina, pelo que me recordo, Nando disse que vocês se conheceram no “PCN com arte”, o primeiro projeto grande de formação de professores de arte no Estado, realizado em parceria com o governo federal. O projeto tinha vários módulos e professores de várias modalidades de arte participaram. Como foi isso?
Luz Marina: Antes do “PCN com arte”, assim que eu assumi a Subsecretaria Metropolitana, tentamos organizar todas as áreas da arte. Naquela época, entrei para coordenar os projetos de Coro e de Banda que já existiam nas escolas, mas assim que eu cheguei na Metropolitana, descobri que também havia um trabalho já começado nas escolas com teatro. Numa dessas escolas, que era o Lyceu, estava o Nando como professor de teatro e ele e outros colegas até tinham realizado alguns festivais envolvendo as escolas que participavam, que eram o Lyceu, o Pré-vestibular que hoje é o Pré- universitário, o Jardim América. No Pré-vestibular estava o Eduardo de Souza, no Jardim América estava o Adélcio e tinha o Júlio no Goiany Prates. A Secretaria já tinha esse projeto acontecendo em quatro escolas; isso foi mais ou menos em 1998, 1999, quando eu entrei na Metropolitana e, em 2000, nós realizamos o referido projeto. A Superintendência de Ensino Fundamental recebeu um projeto diretamente do MEC, para formação de professores da área de arte e esta formação se chamava “PCN com Arte”. E, nessa época, nós levamos para essa formação 120 professores do Estado; essa formação foi feita nas áreas específicas, com 30 professores de cada uma das áreas: 30 para Música, 30 para Dança, 30 para Artes Visuais, 30 para o Teatro e, essa turma, nesse momento do “PCN com Arte”, eu passei a conhecer melhor os professores que já estavam trabalhando na respectiva área nas escolas, não só em Goiânia, como também em todo o Estado. Esse projeto chegou, foi desenvolvido em 3 ou 4 estados. Foi um projeto, um piloto feito nessa formação. Os outros estados, que fizeram o “PCN com Arte”, foram Acre, Mato Grosso do Sul e Bahia. Foi um curso muito legal. Quem trabalhou com o teatro, juntamente aos professores, foi a Rô Reis, de Salvador. E ela deu um presente para os professores que fizeram a formação em teatro, que foi uma viagem, à Bahia, com estadia paga. Nesse sentido, a Secretaria da Educação bancou a viagem a Salvador, concedendo um ônibus. O evento que lá seria prestigiado era o Mercado Cultural, o qual acontece naquela capital. E nós estivemos, então, com os professores que fizeram o “PCN com Arte”, durante uma semana, neste evento. E aí houve uma integração maior entre os professores da área de teatro. Tanto é que o projeto de teatro se expandiu a partir dessa formação. Foi assim que eu conheci o Nando; nessa época, não tínhamos o Pablo conosco ainda. Pablo veio depois. Foi pelo Nando que nós o conhecemos, porque o Nando foi para formação e eu fiquei sabendo, posteriormente, que o Pablo também estava na cidade, embora não estivesse no hotel com nossa turma. Mas ele estava na cidade, acompanhando também a nossa formação.
A.P.: E o Pablo? Como você veio a conhecer melhor o trabalho dele? Parece que ele trabalhou um tempo na escola do Jardim Guanabara, onde conseguiu dois prêmios para o grupo da escola, ganhando para aquela unidade computadores, verba. E só depois que entrou para o Ciranda. Como se deu esse fato?
L.M.: Na Secretaria, em 2000, no final dessa formação, surgiu uma proposta da Superintendência que se chamava “Escola em Movimento”, a qual, atualmente, denominamos PRAEC. Na verdade, foi quando se criou o PRAEC, que eram os projetos que os professores desenvolviam no contraturno do aluno, com a finalidade de aprofundar o conhecimento discente na área. Então, nessa época vários professores de teatro foram contratados para as escolas, haja vista que não tínhamos, na rede, professor efetivo de teatro. Foi a partir daí que aconteceram as contratações e, assim, o Pablo foi enviado ao Colégio Jardim Guanabara. E ele fez um trabalho muito bacana, maravilhoso. Eles participaram de um concurso, que eu não me lembro bem, mas parece que era proposto pelo Banco do Brasil... Enfim, era um concurso feito diretamente com as escolas e era como um festival. O Colégio Guanabara participou e ganhou prêmios, no entanto, não sei detalhar com precisão. Desse modo, a partir do concurso ele foi mais direto com a escola, mas não por meio da Secretaria. Eles foram premiados e a partir de então eu conheci o trabalho do Pablo, que eu gosto muito, bastante mesmo. Portanto, o Ciranda da Arte foi resultado das formações que fizemos, no período compreendido entre 2000 a 2004, estivemos sempre trabalhando com os professores da área de arte, o qual resultou na criação de um Centro de Estudo e Pesquisa na área de Arte. Foi quando eu trouxe o Pablo e o Nando para fazerem parte de nossa equipe, para somarem esforços na formação dos professores e, posteriormente, eles se engajaram na área de produção artística, uma vez que nós também temos esse lado bem difundido no Ciranda, que são os grupos de produção. E, hoje, temos a “Trupe dos Cirandeiros”, da qual o Nando, o Pablo, a Ilka e a Jô fazem parte.
A.P.: Como se iniciou essa história do grupo de produção?
L.M.: Durante o momento da reorientação curricular, nós trabalhamos com os professores aqui de Goiânia, sobretudo com aqueles que têm mais acesso ao Ciranda da Arte. Mas, além disso, fizemos um trabalho com os professores do interior de todo o Estado de Goiás. E, nessa demanda da reorientação fora do Ciranda, centramos nosso trabalho em Pirenópolis; foi um momento que encontramos não dentro da reorientação, mas também dentro do pensamento de orientação dos professores, em Caldas Novas, para onde levamos o grupo de produção para se apresentar. Esse foi um momento muito importante para os professores que moram fora de Goiânia e que não têm muito acesso ao teatro, à arte, enfim. Muitos infelizmente não têm esse acesso e, desse modo, foi bastante enriquecedora a apresentação do Grupo de Produção, que pôde mostrar seu trabalho, seu trabalho de criação e também o resultado de seu trabalho. Percebemos, ademais, que isso motivava os professores a também buscarem formar seus grupos nos seus locais, nas suas cidades; funcionou, na verdade, como uma injeção de ânimo aos professores, o que contribuiu positivamente na efetivação desse trabalho.
A.P.:A partir de então, o Pablo chegou a coordenar o trabalho de teatro no Ciranda?
L.M.: O Pablo esteve na coordenação do teatro dentro dessa questão da formação dos professores. Quando nós começamos o Ciranda, em 2004, tínhamos um coordenador, que era o Adélcio. Daí, quando ele se mudou sentimos a necessidade de buscar o Pablo para a coordenação desse grupo. E em nenhum momento houve uma ruptura, porque o pensamento continuou, o pensamento do teatro na educação. A busca de compreensão desse processo de criação, voltado para a escola, não teve nenhuma quebra. O Pablo até, de certa forma, ampliou a possibilidade de as escolas participarem do projeto, concedendo a elas o apoio devido, nesse momento. E os diretores das escolas sempre buscam as apresentações de teatro, considerando que as crianças e os adolescentes gostam muito de assistir apresentações de teatro. Às vezes, fico questionando com os meninos do Coro que precisamos pensar um repertório para atender os jovens, já que nosso repertório está mais para o professor. Temos, sim, um trabalho voltado às crianças, porém não um mais direcionado aos jovens. Ainda nesse ano o Coro pretende disponibilizar um repertório que os atenda mais diretamente. Isso é muito importante. Mas o teatro cobre esse lado. Quando o evento da escola é para os alunos do ensino médio, a gente pensa logo no teatro, pois há uns quadros muito interessantes e que falam a linguagem dos jovens.
(A entrevista continua...)
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