Tudo Serto!


Depois das dicas dadas pelos meninos (Nando e Pablo) no ultimo ensaio, sobre o qual não escrevi a respeito, muitas coisas que já estavam claras para mim como problemas se tornaram transparentes.
- O estado do palhaço (a parte mais essencial);
- A precisão nas ações;
- O jogo vivenciado naquele momento;
- A limpeza na história, tirando o desnecessário;
- Mais situações relacionadas;
     e assim por diante...
... são centenas de coisas para arrumar. A casa está uma desordem, terei que fazer uma faxina!
E estou animada!
Entrei para a sala sozinha. No início, como não havia planejado, pensei em seguir o roteiro que seria se todos estivéssemos juntos, retornando ao treino, mas vi que meu corpo pedia outras coisas.
Alonguei, bem alongado. Meu corpo perdeu uns 50% da elasticidade de antes. Uffs.. Dá-lhe trabalho para conseguir de novo.
Aqueci, fiz 500 abdominais. Quase morri, mas consegui.
Treinei a base, que havia se perdido nos intermináveis dias em que fiquei sentada na cadeira do escritório. A partir daí deixei a coisa fluir e acabei treinando bastante o controle dos movimentos, subindo e descendo em espiral, cada vez mais lento. Não consegui fazer aquele tempo maravilhoso de 50 minutos, como a Ana Cristina Colla do Lume Teatro descreve em sua tese de doutorado "Caminhante, não há caminho. Só rastros", mas foi bom pelo tempo que fiquei parada.
Foi então que me veio uma ideia. Por que não colocar isso que acabei de fazer em meu espetáculo?
Os meninos pediram pra eu levantar material, e foi isso o que fiz. Fui elaborando, detalhe por detalhe, e quase uma sena surgiu. Com trilha sonora e tudo.
Achei tão orgânico o que aconteceu, espero que seja assim todos os dias.

Jô de Oliveira

Aborto



Não consegui...
Hoje não consegui ensaiar
Talvez o corpo, talvez a sala, talvez o sono... não sei, não saiu.
Sinto quase um alívio, misturado a uma sensação de perda, é como se tivesse abortado
Abortei uma missão
Pensando bem, acho que não foi nenhum motivo externo que me impediu, foi eu.
Ah que fracasso!
Tenho que encontrar formas para me motivar
Escrever mais sobre meu solo, limpar, organizar ou buscar novos figurinos e adereços. Estar mais envolvida, realimente inserida no processo.
Vou tentar.

Jô de Oliveira
Grupo Sonhus Teatro Ritual

Talvez tudo seja mais urgente, mas não mais importante..

O retorno é sempre muito difícil, não no sentido de relembrar e refazer o que já foi feito, mas no sentido de iniciar o retorno. Sempre aparecem outras coisas, talvez não tão importantes quanto, mas sempre mais urgentes.
Retornei hoje, para o meu solo, para o meu corpo, para o meu ofício. Sinto que apesar de difícil foi satisfatório, mas não tanto quanto estabeleci na meta. Fiz aquecimento, procurei coisas que estavam faltando, organizei figurinos, organizei espaço, escrevi... até que comecei!
Comecei!... e agora? O que fazer?
Fui fazendo, tentei não me apegar ao roteiro antigo, aos detalhes de movimentos, apenas foi fazendo o que meu corpo queria e tinha na memória.
De repente fui sentindo um alguém meio tímido, sem saber onde estava, com medo de tatear um lugar que a tanto tempo não visitava, esse alguém era Brida, minha personagem.
Quando ela foi aparecendo, fiquei tão contente, que queria por tudo filmar aquilo, mas a câmera não tinha bateria. Ahhh...
Mas continuei...
Brinquei com ela, seu jeito, seu andar, a fiz de boba, palhaça, ingênua. Como crianças, mas eu sempre observando e ela fazendo.
Descobrimos coisas novas, como o ventilador teimoso e cruel que não queria de modo algum entrar na bolsa dela, e ainda quis enforcá-la, amarrá-la e jogá-la no chão sujo e mofado do escritório. Parece mentira mas foi verdade.
Descobrimos o amor e que se pode fazer por ele, mesmo sem saber, às vezes desengonçada, às vezes sexy e às vezes masoquista. Para mostrar ao grande amor como ficaria bonita para o encontro, fizemos um streep tease. Pulamos em cima da mesa, nos arrastamos no chão, nos prendemos na cadeira, mas nunca perdemos a pose de gostosa, apesar dos desastres.
Mas chega o patrão para estragar a festa e temos que guardar tudo, do nosso jeito organizado. Luva na boca, sapato na sacola (um pé, pois o outro estava onde deveria estar, na sola), papeis espalhados no chão, ventilador dentro da bolsa, garrafa de café debaixo da cadeira.
Mas.. está Tudo Serto!!!

Jô de Oliveira
Grupo Sonhus Teatro Ritual