TEATRO RITUAL em treinamento com Victor de Seixas (foto: Andrea Pita)
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Teatro Ritual em treinamento com Victor de Seixas (foto: Andrea Pita)
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Fantasma, de Victor de Seixas
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Há algumas semanas atrás escutei em uma palestra sobre Jerry Grotowski, uma frase a qual ele dizia: “o exercício para o ator e como escovar os dentes, e muito bom para ele, mas necessariamente não vai fazer-lhe mais expressivo”, retornando da tumba pela boca de outra pessoa, Grotowski veio me assombrar, fiquei com esta frase na cabeça durante vários dias, porque? Atualmente dedico a maior parte do meu tempo, posso dizer até alguns anos de minha vida, exclusivamente a aprender a fundo à mímica corporal dramática, técnica essa desenvolvida por Etienne Decroux, e hoje ensinada por poucos de seus ex-assistentes, uma técnica baseada em intensos exercícios físicos e repetição de formas e movimentos pela imitação, parei e comecei a perguntar a mim mesmo: estaria eu apenas a “escovar os meus dentes?”.
O cérebro humano tem a tendência à “automatizar” movimentos físicos repetidos com freqüência, para facilitar nossas vidas, usando menos energia e concentração em práticas cotidianas deixando espaço para outras funções mais utilidade, por isso depois de três anos trabalhando duro, repetindo centenas de vezes seqüências de movimentos, formas e outros exercícios eu me tornei na escola para meus professores um “bom mímico”, isto é não penso mais antes de fazer os exercícios propostos, sinto uma melhora na minha coordenação, tenho mais controle sobre meus movimentos, consigo isolar os diferentes músculos para diferentes ações, enfim, tenho mais controle sobre meus movimentos e minha movimentação no espaço, mais isso não significa que eu tenha me tornado um mais expressivo.
Um pianista depois de dedicar anos repetindo escalas e estudando por várias vezes exercícios repetitivos e às vezes monótonos, não pensa antes de pressionar a tecla do piano, e muito menos faz isso com dificuldade, para ele é automático o movimento de suas mãos em relação à posição das teclas do piano, mas este fato não o faz menos expressivo, dentro do movimento “automático” ele tem várias maneiras de tocar a mesma nota, mudando completamente o resultado final imprimindo sua interpretação a obra.
O que vai diferenciar os movimentos “automáticos” e “orgânicos”, será então a sua relação com o que você está fazendo ou tentando expressar, o velho chavão de “estar presente” no momento, dando um sentido lógico ou abstrato, mas importante dando um sentido ao movimento.
Quando o ator treina fisicamente sem ser para um espetáculo ou show, não é sempre possível manter a organicidade, como um músico iniciante treinando com seu instrumento, ele provavelmente deseja se aprimorar para tocar em público está aprimorando sua técnica para depois compor ou interpretar músicas de outro autor, mas primeiro ele precisa que seus movimentos se tornem “automáticos” em relação ao instrumento, isto é repetir, repetir, para depois aplicar sua interpretação pessoal, e da mesma forma o ator depois de qualquer treino técnico tem que no final aplicar os resultados de seu treino de uma forma expressiva, pois senão o exercício corre o risco de se tornar apenas uma ginástica.
Dentro do treino que estou agora, muitos alunos no desejo de aprovação pelo núcleo social da escola se dedicam na tentativa de se tornar um “bom mímico” aos olhos dos professores ou do pequeno meio social a sua volta, criando uma armadilha sem saída, os que não conseguem a aprovação desejada, tem sua auto-estima destruída, mesmo tendo ganho muito expressivamente com a técnica, e os que por ventura conseguem o reconhecimento desejado, tornando-se “bons mímicos”, quando se terminado o processo de estudos, afastados deste pequeno meio social, a escola, ficam perdidos, pois o que o “bom mímico” faz com esta técnica, sem a estrutura hierárquica da escola? A tendência é cair em uma mistificação de Decroux e da técnica como algo sagrado e hermético, esvaziando o objetivo principal que e aprimorar a expressividade do ator.
Para se trabalhar com qualquer técnica física para o ator, há a necessidade de manter os objetivos fundamentais claros, sem mistificações ou elitismos, que é aprimorar sua expressividade, depois entrando outra questão tão importante se não a mais importante de todas, que é o que você quer dizer através da técnica que esta estudando.
De nada adianta um pianista virtuoso com um repertório pobre, nada adianta ter uma técnica estupenda, uma voz maravilhosa se não temos nada a dizer, e isso muita gente esquece esvaziando qualquer técnica, linha ou teoria, pois a escolha do caminho dentro do teatro tem que estar em função da nossa ideologia, não para enobrecimento ou status por ter estudado esta linha ou outra, mas para melhorar o meio de expressão, e assim dizer mais claramente o que pensamos…
(Gentilmente cedido por Victor de Seixas, escrito em abril de 2004.)
O cérebro humano tem a tendência à “automatizar” movimentos físicos repetidos com freqüência, para facilitar nossas vidas, usando menos energia e concentração em práticas cotidianas deixando espaço para outras funções mais utilidade, por isso depois de três anos trabalhando duro, repetindo centenas de vezes seqüências de movimentos, formas e outros exercícios eu me tornei na escola para meus professores um “bom mímico”, isto é não penso mais antes de fazer os exercícios propostos, sinto uma melhora na minha coordenação, tenho mais controle sobre meus movimentos, consigo isolar os diferentes músculos para diferentes ações, enfim, tenho mais controle sobre meus movimentos e minha movimentação no espaço, mais isso não significa que eu tenha me tornado um mais expressivo.
Um pianista depois de dedicar anos repetindo escalas e estudando por várias vezes exercícios repetitivos e às vezes monótonos, não pensa antes de pressionar a tecla do piano, e muito menos faz isso com dificuldade, para ele é automático o movimento de suas mãos em relação à posição das teclas do piano, mas este fato não o faz menos expressivo, dentro do movimento “automático” ele tem várias maneiras de tocar a mesma nota, mudando completamente o resultado final imprimindo sua interpretação a obra.
O que vai diferenciar os movimentos “automáticos” e “orgânicos”, será então a sua relação com o que você está fazendo ou tentando expressar, o velho chavão de “estar presente” no momento, dando um sentido lógico ou abstrato, mas importante dando um sentido ao movimento.
Quando o ator treina fisicamente sem ser para um espetáculo ou show, não é sempre possível manter a organicidade, como um músico iniciante treinando com seu instrumento, ele provavelmente deseja se aprimorar para tocar em público está aprimorando sua técnica para depois compor ou interpretar músicas de outro autor, mas primeiro ele precisa que seus movimentos se tornem “automáticos” em relação ao instrumento, isto é repetir, repetir, para depois aplicar sua interpretação pessoal, e da mesma forma o ator depois de qualquer treino técnico tem que no final aplicar os resultados de seu treino de uma forma expressiva, pois senão o exercício corre o risco de se tornar apenas uma ginástica.
Dentro do treino que estou agora, muitos alunos no desejo de aprovação pelo núcleo social da escola se dedicam na tentativa de se tornar um “bom mímico” aos olhos dos professores ou do pequeno meio social a sua volta, criando uma armadilha sem saída, os que não conseguem a aprovação desejada, tem sua auto-estima destruída, mesmo tendo ganho muito expressivamente com a técnica, e os que por ventura conseguem o reconhecimento desejado, tornando-se “bons mímicos”, quando se terminado o processo de estudos, afastados deste pequeno meio social, a escola, ficam perdidos, pois o que o “bom mímico” faz com esta técnica, sem a estrutura hierárquica da escola? A tendência é cair em uma mistificação de Decroux e da técnica como algo sagrado e hermético, esvaziando o objetivo principal que e aprimorar a expressividade do ator.
Para se trabalhar com qualquer técnica física para o ator, há a necessidade de manter os objetivos fundamentais claros, sem mistificações ou elitismos, que é aprimorar sua expressividade, depois entrando outra questão tão importante se não a mais importante de todas, que é o que você quer dizer através da técnica que esta estudando.
De nada adianta um pianista virtuoso com um repertório pobre, nada adianta ter uma técnica estupenda, uma voz maravilhosa se não temos nada a dizer, e isso muita gente esquece esvaziando qualquer técnica, linha ou teoria, pois a escolha do caminho dentro do teatro tem que estar em função da nossa ideologia, não para enobrecimento ou status por ter estudado esta linha ou outra, mas para melhorar o meio de expressão, e assim dizer mais claramente o que pensamos…
(Gentilmente cedido por Victor de Seixas, escrito em abril de 2004.)
Durante o treinamento do Teatro Ritual com Victor Seixas foram dedicados alguns momentos para o convívio com a neutralidade. Cada um dos atores punha um pano branco cobrindo a cabeça e empreendiam exercícios de improvisação dentro de alguma situação ou com regras específicas. Resolvi então relembrar o que para mim é crucial no tema.
A questão da neutralidade parece ter sido considerada importante para o trabalho do ator ocidental a partir de Copeau. Em 1913 este já havia lançado em manifesto sua posição contrária ao naturalismo. Contra a parafernália de janelas, balcões, armários, camas que entulhavam o espaço cênico naturalista e impediam a expressão corporal do ator, Copeau pregava o “palco nu”. Depois da Primeira Guerra Mundial, com a fundação da École du Vieux Colombier, começa a usar máscaras neutras, um verdadeiro achado na preparação para a atuação nos palcos dos novos tempos(1).
Nas máscaras neutras, os traços costumam ser regulares, não realísticos e trazem a ausência de emoção. Como a abundância de detalhes não é legível à distância, os contornos da máscara devem ser precisos. O trabalho do escultor unido ao do ator pode dar relevância a determinadas angulações, oferecendo assim diferenciadas facetas à expressão.
O peso da máscara deve ser moderado e é importante que dure. Existem, por exemplo, modelos de papier machê e de couro. Em relação a esta última, é considerada de melhor qualidade pois se adequa melhor ao rosto com o decorrer do tempo. Como se diz: não se veste uma máscara, se “calça” uma máscara, tal deve ser integração máscara-rosto-interpretação. Um importante confeccionador foi Sartori, que fez máscaras neutras para Lecoq, frequentemente com par de linhas que definia o nariz e que continuavam para cima formando a linha das sobrancelhas, parecendo abstratas para quem as via (2).
Nos processos com a máscara geralmente os aprendizes/alunos são informados com relação ao ritual de respeito para com ela. Deve-se, por exemplo, evitar pôr a mão diretamente na máscara, devendo-se segurá-la pelo topo, pela base ou pelos lados, mas nunca no nariz ou nos olhos. Para colocar ou retirar a máscara, deve-se virar de costas para o público. Falar com a máscara inteira sobre o rosto, nem pensar, é preciso que o ator retire a máscara para fazê-lo.
Mas o que seria a neutralidade propiciada através do trabalho com a máscara neutra? Trata-se da busca do ator de libertar-se de seus próprios hábitos, de seus movimentos corriqueiros, do mecanismo no qual de alguma forma alicerçou sua personalidade - seja por influência genética, da cultura, das pressões sociais ou de sua estrutura psicológica.
A princípio, poder-se-ia pensar que o trabalho com a máscara deixe o ator tranquilo, já que ele se sentiria escondido, o que se descobre ser um engano em seguida. Ao esconder o rosto, a máscara tira a parte do corpo na qual o ator está mais acostumado a se apoiar, de modo que este se sente como que nu, exposto de uma forma como talvez nunca tenha experimentado antes.
No início do processo com a máscara, é comum que o ator imponha um caráter ao movimento, que desenvolva formas estereotipadas e faça gestos condicionados, o que muitas vezes acontece sem que ele o perceba. Se o peito, por exemplo, estiver involuntariamente afundado, poderá expressar fadiga ou astúcia, e se expandido, orgulho. Exercícios de consciência corporal são por isso extremamente necessários. Na Vieux Colombier Copeau usava acrobacia, ballet clássico e método rítmico de Dalcroze. Hoje em dia a educação somática também pode e deve contribuir muito neste sentido. A preparação corporal ajuda no condicionamento, numa melhor desenvoltura das articulações do corpo, na abertura para as sensações despertadas pelo movimento do corpo no espaço, ajudando o ator a perceber a importância do corpo todo na atuação.
A “via negativa” também é uma metodologia comumente escolhida por professores que trabalham com a máscara e consiste em dizer aos alunos não o que fazer, mas o que não devem fazer. Assim, o ator é sempre obrigado a superar um obstáculo, a achar outra saída. Desprotegido e só possuindo o corpo para se expressar, o ator tem as qualidades de seus movimentos percebida por todos e por ele mesmo, consciência essa que vai aumentando com o tempo. Como não existem modelos, o ator deve descobrir a neutralidade nele mesmo. E como cada corpo e história pessoal são diferentes, as neutralidades são diferentes.
Ao contrário do que muitos pensam para a neutralidade, silêncio e imobilidade correspondem apenas a determinados momentos na máscara neutra. Esta pode permitir grande velocidade e várias qualidades de movimento dentro de um exercício de improvisação. No entanto, é preciso calma e receptividade para pôr a máscara. Lecoq, por exemplo, fazia com que o ator ficasse olhando a máscara por 8 dias, antes de colocá-la, talvez prática inspirada no teatro oriental (3), onde em algumas tradições ao ator é dado inclusive o trabalho de achar a árvore da qual retirará a sua máscara.
Assim, silêncio, imobilidade, neutralidade dentro de si seriam qualidades imprescindíveis para este momento inicial, antes de colocar e ao colocar a máscara. Deve-se permitir que respiração, pensamento e atitude sejam mudados pela máscara. Já no estado de neutralidade como um todo, é preciso que reine a economia - todo movimento gratuito deve ser eliminado, pois é um erro de distração provocado pela ansiedade. Tomam lugar energia e ritmo no espaço e tempo apropriados que determinada ação requer. O ator deixa que apareça o movimento ao invés de ele mesmo aparecer.
Alguns falam da percepção de uma segunda pessoa no corpo familiar. Despido, o ator tem apagada a sua persona social através do estado de atenção e consciência que mantém durante o uso da máscara neutra. Este já não pensa no que fará no momento seguinte, movimento tão comumente captado pelo público quando assiste a uma apresentação. A perda da persona social ajuda na desinibição e nada mais impediria o ator de estar completamente livre numa improvisação. Desse modo, o despojamento do “palco nu” de Copeau se transfere para o uso da máscara.
No Teatro Nô é importante o palco vazio e despojado como o jardim de um templo Zen. Aos poucos esse palco vai sendo povoado por deuses e espíritos, vozes, sons, presenças invisíveis e visíveis. Como uma xícara que não pode estar cheia para ser receptáculo. A metáfora do palco vazio, que em Copeau seria o “palco nu”, deve ser transferida para o ator, que precisa se despojar de suas próprias opiniões, pois só um espírito livre e vazio é receptivo. E assim, paradoxalmente, o que poderia parecer redundar num vazio tedioso se torna um vazio pleno e a capacidade expressiva do ator se multiplica.
Obs: Beth Lopes comentou em sua tese de doutorado a respeito das máscaras, que estas podem provocar transes. Diz que uma vez pôs uma máscara de Pantaleão e saiu pela rua, quase se perdendo de si mesma e de sua persona social. A importância dos rituais que demonstrem respeito para com a máscara e seu uso podem ajudar muito a evitar esse tipo de situação, pois colaboram inclusive para diferenciar bem o momento em que se põe e o momento em que se tira uma máscara. Para evitar mal-entendidos, preconceitos e erros no uso e também ter a preparação adequada com a máscara neutra, é extremamente importante a presença de um condutor minimamente preparado para tal.
(1) A máscara neutra era usada por Copeau como preparação para atuação no teatro não mascarado.
Pode-se também utilizar a máscara neutra como preparação para uso de máscaras expressivas, a exemplo da meia-máscara de Commedia dell´Arte e a chamada “menor máscara do mundo”, o nariz do clown/palhaço.
(2) Entre as máscaras neutras, a de Mazzone-Clementi era mais “metafísica” e abstrata , sendo definida apenas por uma linha central , outra nas sobrancelhas, um olho em forma de círculo e outro com forma de triângulo.
Máscaras neutras também chegam a ser usadas em cena, a exemplo das máscaras das tragédias encenadas por Saint Denis.
(3) Para Copeau, um dos três elementos fundamentais para a recuperação da arte do ator era o estudo do teatro japonês - Nô e Kabuki. Os outros dois eram o espaço do teatro grego e a improvisação da Commedia Dell’Arte.
A questão da neutralidade parece ter sido considerada importante para o trabalho do ator ocidental a partir de Copeau. Em 1913 este já havia lançado em manifesto sua posição contrária ao naturalismo. Contra a parafernália de janelas, balcões, armários, camas que entulhavam o espaço cênico naturalista e impediam a expressão corporal do ator, Copeau pregava o “palco nu”. Depois da Primeira Guerra Mundial, com a fundação da École du Vieux Colombier, começa a usar máscaras neutras, um verdadeiro achado na preparação para a atuação nos palcos dos novos tempos(1).
Nas máscaras neutras, os traços costumam ser regulares, não realísticos e trazem a ausência de emoção. Como a abundância de detalhes não é legível à distância, os contornos da máscara devem ser precisos. O trabalho do escultor unido ao do ator pode dar relevância a determinadas angulações, oferecendo assim diferenciadas facetas à expressão.
O peso da máscara deve ser moderado e é importante que dure. Existem, por exemplo, modelos de papier machê e de couro. Em relação a esta última, é considerada de melhor qualidade pois se adequa melhor ao rosto com o decorrer do tempo. Como se diz: não se veste uma máscara, se “calça” uma máscara, tal deve ser integração máscara-rosto-interpretação. Um importante confeccionador foi Sartori, que fez máscaras neutras para Lecoq, frequentemente com par de linhas que definia o nariz e que continuavam para cima formando a linha das sobrancelhas, parecendo abstratas para quem as via (2).
Nos processos com a máscara geralmente os aprendizes/alunos são informados com relação ao ritual de respeito para com ela. Deve-se, por exemplo, evitar pôr a mão diretamente na máscara, devendo-se segurá-la pelo topo, pela base ou pelos lados, mas nunca no nariz ou nos olhos. Para colocar ou retirar a máscara, deve-se virar de costas para o público. Falar com a máscara inteira sobre o rosto, nem pensar, é preciso que o ator retire a máscara para fazê-lo.
Mas o que seria a neutralidade propiciada através do trabalho com a máscara neutra? Trata-se da busca do ator de libertar-se de seus próprios hábitos, de seus movimentos corriqueiros, do mecanismo no qual de alguma forma alicerçou sua personalidade - seja por influência genética, da cultura, das pressões sociais ou de sua estrutura psicológica.
A princípio, poder-se-ia pensar que o trabalho com a máscara deixe o ator tranquilo, já que ele se sentiria escondido, o que se descobre ser um engano em seguida. Ao esconder o rosto, a máscara tira a parte do corpo na qual o ator está mais acostumado a se apoiar, de modo que este se sente como que nu, exposto de uma forma como talvez nunca tenha experimentado antes.
No início do processo com a máscara, é comum que o ator imponha um caráter ao movimento, que desenvolva formas estereotipadas e faça gestos condicionados, o que muitas vezes acontece sem que ele o perceba. Se o peito, por exemplo, estiver involuntariamente afundado, poderá expressar fadiga ou astúcia, e se expandido, orgulho. Exercícios de consciência corporal são por isso extremamente necessários. Na Vieux Colombier Copeau usava acrobacia, ballet clássico e método rítmico de Dalcroze. Hoje em dia a educação somática também pode e deve contribuir muito neste sentido. A preparação corporal ajuda no condicionamento, numa melhor desenvoltura das articulações do corpo, na abertura para as sensações despertadas pelo movimento do corpo no espaço, ajudando o ator a perceber a importância do corpo todo na atuação.
A “via negativa” também é uma metodologia comumente escolhida por professores que trabalham com a máscara e consiste em dizer aos alunos não o que fazer, mas o que não devem fazer. Assim, o ator é sempre obrigado a superar um obstáculo, a achar outra saída. Desprotegido e só possuindo o corpo para se expressar, o ator tem as qualidades de seus movimentos percebida por todos e por ele mesmo, consciência essa que vai aumentando com o tempo. Como não existem modelos, o ator deve descobrir a neutralidade nele mesmo. E como cada corpo e história pessoal são diferentes, as neutralidades são diferentes.
Ao contrário do que muitos pensam para a neutralidade, silêncio e imobilidade correspondem apenas a determinados momentos na máscara neutra. Esta pode permitir grande velocidade e várias qualidades de movimento dentro de um exercício de improvisação. No entanto, é preciso calma e receptividade para pôr a máscara. Lecoq, por exemplo, fazia com que o ator ficasse olhando a máscara por 8 dias, antes de colocá-la, talvez prática inspirada no teatro oriental (3), onde em algumas tradições ao ator é dado inclusive o trabalho de achar a árvore da qual retirará a sua máscara.
Assim, silêncio, imobilidade, neutralidade dentro de si seriam qualidades imprescindíveis para este momento inicial, antes de colocar e ao colocar a máscara. Deve-se permitir que respiração, pensamento e atitude sejam mudados pela máscara. Já no estado de neutralidade como um todo, é preciso que reine a economia - todo movimento gratuito deve ser eliminado, pois é um erro de distração provocado pela ansiedade. Tomam lugar energia e ritmo no espaço e tempo apropriados que determinada ação requer. O ator deixa que apareça o movimento ao invés de ele mesmo aparecer.
Alguns falam da percepção de uma segunda pessoa no corpo familiar. Despido, o ator tem apagada a sua persona social através do estado de atenção e consciência que mantém durante o uso da máscara neutra. Este já não pensa no que fará no momento seguinte, movimento tão comumente captado pelo público quando assiste a uma apresentação. A perda da persona social ajuda na desinibição e nada mais impediria o ator de estar completamente livre numa improvisação. Desse modo, o despojamento do “palco nu” de Copeau se transfere para o uso da máscara.
No Teatro Nô é importante o palco vazio e despojado como o jardim de um templo Zen. Aos poucos esse palco vai sendo povoado por deuses e espíritos, vozes, sons, presenças invisíveis e visíveis. Como uma xícara que não pode estar cheia para ser receptáculo. A metáfora do palco vazio, que em Copeau seria o “palco nu”, deve ser transferida para o ator, que precisa se despojar de suas próprias opiniões, pois só um espírito livre e vazio é receptivo. E assim, paradoxalmente, o que poderia parecer redundar num vazio tedioso se torna um vazio pleno e a capacidade expressiva do ator se multiplica.
Obs: Beth Lopes comentou em sua tese de doutorado a respeito das máscaras, que estas podem provocar transes. Diz que uma vez pôs uma máscara de Pantaleão e saiu pela rua, quase se perdendo de si mesma e de sua persona social. A importância dos rituais que demonstrem respeito para com a máscara e seu uso podem ajudar muito a evitar esse tipo de situação, pois colaboram inclusive para diferenciar bem o momento em que se põe e o momento em que se tira uma máscara. Para evitar mal-entendidos, preconceitos e erros no uso e também ter a preparação adequada com a máscara neutra, é extremamente importante a presença de um condutor minimamente preparado para tal.
(1) A máscara neutra era usada por Copeau como preparação para atuação no teatro não mascarado.
Pode-se também utilizar a máscara neutra como preparação para uso de máscaras expressivas, a exemplo da meia-máscara de Commedia dell´Arte e a chamada “menor máscara do mundo”, o nariz do clown/palhaço.
(2) Entre as máscaras neutras, a de Mazzone-Clementi era mais “metafísica” e abstrata , sendo definida apenas por uma linha central , outra nas sobrancelhas, um olho em forma de círculo e outro com forma de triângulo.
Máscaras neutras também chegam a ser usadas em cena, a exemplo das máscaras das tragédias encenadas por Saint Denis.
(3) Para Copeau, um dos três elementos fundamentais para a recuperação da arte do ator era o estudo do teatro japonês - Nô e Kabuki. Os outros dois eram o espaço do teatro grego e a improvisação da Commedia Dell’Arte.
Um quarteto francês está inevitavelmente associado com a mímica hoje em dia, são quatro artistas que têm trabalhado diferentemente daqueles que os precederam. São quatro artistas notáveis com reputação internacional, são contemporâneos e dois ainda estão em atividade. É ainda mais notável que o trabalho de cada um tomou uma direção própria diferente das demais. E mais surpreendentemente ainda é que os quatro derivaram da mesma fonte.
No início dos anos 20 foi aberta em Paris a Vieux Columbier, uma escola de treinamento para atores. O Diretor Jacques Copeau tinha o que foi para a época uma abordagem revolucionária; ele rejeitava o então popular naturalismo estrito em favor do impressionismo, um movimento compartilhado por vários outros diretores tais como Gordon Craig, Adolph Appia e Nicolai Evreinoff. O Impressionismo abriu as portas para o teatro não-literal, não-realista, para um teatro mais físico, da fantasia, dos sonhos e da metáfora.
O programa de Copeau incluía estudos com máscaras, expressividade corporal, clown, commedia dell'arte, acrobacia, dança, música/movimento, identificação animal, e a atuação muda. Ele enfatizou o ensino da comédia e do Coro Grego da antigüidade (teatro não-realista épico e farsesco) como importantes objetivos no desenvolvimento de atores capazes de atuação coletiva em estilos físicos.
Depois que a Vieux Columbier fechou, duas importantes escolas nasceram de sua experiência, de Charles Dullin e a de Jean Daste, que funcionaram como elos no desenvolvimento do Grande Quarteto Francês:
Etienne Decroux
Fez sua matrícula na Vieux Columbier em 1923, Etienne Decroux ocupou-se com uma visão voltada para a mímica durante suas aulas, e desenvolveu um estilo pessoal e original de movimento.A sua mímica busca resgatar figuras de Rodin; e daí derivou uma forma mais plástica, a qual foi denominada Mímica Corporal. Um intelectual e teórico, seu treino corporal baseava-se, por um lado, no que os dançarinos modernos chamam de isolação, com as seções do corpo movimentando-se numa seqüência prescrita, e por outro lado, na física, estudando a compensação necessária para manter o corpo em equilíbrio quando o centro gravitacional é deslocado.
Decroux tentou envolver outros alunos na sua companhia de mímica, porém os alunos de teatro não se mostraram muito interessados. Quando a Vieux Columbier fechou em 1924, Decroux passou a lecionar na escola de teatro de Charles Dullin, a Atellier. Jean-Louis Barrault juntou-se a esta escola também, e os dois trabalharam juntos por dois anos, produzindo vários números de mímica em conjunto ou separados.
A primeira contribuição de Decroux foi como professor na referida escola. Os seus espetáculos enquanto tais, não foram muito importantes, e mesmo esses espetáculo eram tratados por ele mesmo como ensaios. Muitos deles eram apresentados em estúdios para pequenas platéias convidadas. Ele mesmo trabalhou como ator, notavelmente, com Barrault no Les Enfants du Paradis, representando o pai de Deburau, e em outros filmes também. Decroux abriu a sua própria escola em 1941, e desenvolveu uma teoria para endossar o seu sistema. O seu trabalho teve efeitos contundentes em artistas como Barrault e Marcel Marceau, embora eles tenham posteriormente seguido seus próprios passos.
Decroux já foi chamado o pai da mímica moderna, o que na verdade significa dizer que ele é o pai do seu próprio estilo; havia e há outros estilos de mímica moderna que não estão relacionados ao seu. Além da sua contribuição enquanto professor, a sua influência sobre Barrault e Marceau criou um tremendo ímpeto para a mímica na França, espalhando-se a seguir por todo o mundo. O seu trabalho continua a estimular e inspirar muitos artistas da mímica.
Jean-Louis Barrault
Jean-Louis Barrault foi um ator, diretor, professor, escritor e teórico. Seu interesse pela mímica foi uma parte do seu amor pelo teatro como um todo. Ele foi para a escola de Dullin em 1931 sem um centavo, e foi cativado pela mímica já na sua primeira aula com Decroux, e os dois trabalhariam juntos por dois anos, vivendo frugalmente a base de peixe defumado, uva passa, alface, e frutas. Eles inicialmente trabalharam uma "mímica objetiva", utilizando ilusão e objetos imaginários, como até hoje se faz, mas foi a "mímica subjetiva" que passou a ser o estudo final, estudando os estados de ânimo, corporais, e emoções. A invenção do andar no lugar de perfil levou muitos outros a desenvolver outras ilusões de movimento no lugar.
Além das suas gloriosas experiências de juventude, Barrault é muito mais conhecido pelo seu papel de Jean Gaspard Deburau no filme Les Enfants du Paradis. O filme introduziu o que era considerado o estilo de pantomima de Deburau, Barrault consultou para tanto o mímico Georges Wague, tornando esse estilo um sinônimo da mímica para grandes platéias. Ironicamente, os dois atuaram no filme muito depois de haver perdido o interesse pelo estilo da pantomima-arlequina (pantomime-harlequinade).
A ênfase de Barrault durante seus primeiros anos, e pelo resto da sua vida, foi sobre os aspectos físicos da atuação, e ele incorporou a mímica em seus processos altamente imaginativos de produção de espetáculos. Na peça "Rabelais," 1968, seus atores utilizavam a mímica para representar o nascimento de Gargantua, animais, a forma e o movimento do navio, e realizou diversas seqüências de mímica com narração.
Marcel Marceau
Marcel Marceau dispensa uma apresentação da sua importância e influência. Ele literalmente criou um público para a mímica no seu tempo, e também fomentou o desejo de ser mímico de inúmeros artistas. Marceau atraiu tanto o público de teatro nas suas tournes desde 1949, como o público popular através das suas diversas aparições na televisão. Seu caminho para a fama foi meteórico, apresentando-se no mundo todo em poucos anos.
Para a maioria do público mímica está associada diretamente ao trabalho de Marceau. Ele próprio assume a Chaplin uma grande influência no seu trabalho entre outros, como o próprio Decroux, quem fora seu professor na escola de Dullin em 1946. A maquiagem de Pierrô e o estilo anedótico de Deburau(pelo que se sabe dele) são toques franceses, e o seu personagem (Bip) é Chaplinesco e clownesco. Marceau criou também outros estilos de pantomima, como a mímica abstrata e mímica elíptica.
Como praticamente primeiro e certamente mais conhecido mímico nos Estados Unidos, ele serviu de modelo para muitos aspirantes a mímico. Além disso, o público passou a esperar (exigir) por números semelhantes aos de Marceau, e alguns artistas encontram dificuldades em terem outros estilos aceitos pelo público. Na realidade, nenhum estilo pode ser mantido como sagrado, e o próprio Deburau foi acusado de falta de fé no seu próprio trabalho. Se falarmos em imitação, a resposta de Marceau é que os alunos deveriam imitar a sua técnica, porque deste modo a forma artística seria preservada; a partir daí eles deveriam desenvolver sua própria caraterização, seus próprios conceitos. Ele chama este processo de "imitação com continuação"; pois os alunos devem continuar pelos seus próprios caminhos artísticos.
Jacques Lecoq
Jacques Lecoq é primariamente um professor, às vezes diretor, e tem o conceito mais amplo de mímica dentre os quatro. Ele chamou a sua escola em Paris de Escola Internacional de Teatro e inclui muitas técnicas diferentes do treino físico, sem pretender perpetuar a mímica numa forma definida, estruturada, convencional. Lecoq vê a mímica de duas maneiras: como uma forma artística em constante transformação, e como uma fonte de confiança para diversas formas dramáticas, para a dança, música, arquitetura, literatura, entre outras. Emboras integrantes dessas categorias profissionais se vejam atraídos por essa escola, a maioria dos alunos é constituída por mímicos, atores e diretores.
Lecoq na juventude era um atleta e paramédico para atletas; seu interesse pela mímica teve origem em um grupo de estudos, no qual foi pupilo de um notável professor de educação física. Durante uma apresentação com o seu grupo em Grenoble, Lecoq foi visto por Jean Daste que prontamente o convidou para integrar a sua companhia. Atuou como ator na trupe e foi encarregado do treino físico. Depois disso, foi para Itália onde lecionou na Universidade de Teatro Pádua e no Piccolo Teatro di Milano; após alguns anos voltou a Paris e abriu sua escola em 1956.
Essas são as origens da mímica de hoje em dia. Os quatro, formados dentro da ótica de Copeau, são diferentes em suas contribuições para a mímica: o estilo e a técnica meticulosa de Decroux, a integração da mímica com o teatro falado de Barrault, Os sketches e as abstrações simbólicas de Marceau, e a preocupação abrangente de Lecoq com o movimento.
Provavelmente a maioria dos mímicos e professores de mímica hoje em dia tem origem direta ou indiretamente nas fontes francesas. O Grande Quarteto Francês deram início a uma onda de interesse crescente pela mímica moderna, uma onda que nós estamos encantados em poder seguir e que ainda não foi exaurida.
Com a gentil permissão de Victor de Seixas,
Vejam mais no site http://www.mimicas.com/
No início dos anos 20 foi aberta em Paris a Vieux Columbier, uma escola de treinamento para atores. O Diretor Jacques Copeau tinha o que foi para a época uma abordagem revolucionária; ele rejeitava o então popular naturalismo estrito em favor do impressionismo, um movimento compartilhado por vários outros diretores tais como Gordon Craig, Adolph Appia e Nicolai Evreinoff. O Impressionismo abriu as portas para o teatro não-literal, não-realista, para um teatro mais físico, da fantasia, dos sonhos e da metáfora.
O programa de Copeau incluía estudos com máscaras, expressividade corporal, clown, commedia dell'arte, acrobacia, dança, música/movimento, identificação animal, e a atuação muda. Ele enfatizou o ensino da comédia e do Coro Grego da antigüidade (teatro não-realista épico e farsesco) como importantes objetivos no desenvolvimento de atores capazes de atuação coletiva em estilos físicos.
Depois que a Vieux Columbier fechou, duas importantes escolas nasceram de sua experiência, de Charles Dullin e a de Jean Daste, que funcionaram como elos no desenvolvimento do Grande Quarteto Francês:
Etienne Decroux
Fez sua matrícula na Vieux Columbier em 1923, Etienne Decroux ocupou-se com uma visão voltada para a mímica durante suas aulas, e desenvolveu um estilo pessoal e original de movimento.A sua mímica busca resgatar figuras de Rodin; e daí derivou uma forma mais plástica, a qual foi denominada Mímica Corporal. Um intelectual e teórico, seu treino corporal baseava-se, por um lado, no que os dançarinos modernos chamam de isolação, com as seções do corpo movimentando-se numa seqüência prescrita, e por outro lado, na física, estudando a compensação necessária para manter o corpo em equilíbrio quando o centro gravitacional é deslocado.
Decroux tentou envolver outros alunos na sua companhia de mímica, porém os alunos de teatro não se mostraram muito interessados. Quando a Vieux Columbier fechou em 1924, Decroux passou a lecionar na escola de teatro de Charles Dullin, a Atellier. Jean-Louis Barrault juntou-se a esta escola também, e os dois trabalharam juntos por dois anos, produzindo vários números de mímica em conjunto ou separados.
A primeira contribuição de Decroux foi como professor na referida escola. Os seus espetáculos enquanto tais, não foram muito importantes, e mesmo esses espetáculo eram tratados por ele mesmo como ensaios. Muitos deles eram apresentados em estúdios para pequenas platéias convidadas. Ele mesmo trabalhou como ator, notavelmente, com Barrault no Les Enfants du Paradis, representando o pai de Deburau, e em outros filmes também. Decroux abriu a sua própria escola em 1941, e desenvolveu uma teoria para endossar o seu sistema. O seu trabalho teve efeitos contundentes em artistas como Barrault e Marcel Marceau, embora eles tenham posteriormente seguido seus próprios passos.
Decroux já foi chamado o pai da mímica moderna, o que na verdade significa dizer que ele é o pai do seu próprio estilo; havia e há outros estilos de mímica moderna que não estão relacionados ao seu. Além da sua contribuição enquanto professor, a sua influência sobre Barrault e Marceau criou um tremendo ímpeto para a mímica na França, espalhando-se a seguir por todo o mundo. O seu trabalho continua a estimular e inspirar muitos artistas da mímica.
Jean-Louis Barrault
Jean-Louis Barrault foi um ator, diretor, professor, escritor e teórico. Seu interesse pela mímica foi uma parte do seu amor pelo teatro como um todo. Ele foi para a escola de Dullin em 1931 sem um centavo, e foi cativado pela mímica já na sua primeira aula com Decroux, e os dois trabalhariam juntos por dois anos, vivendo frugalmente a base de peixe defumado, uva passa, alface, e frutas. Eles inicialmente trabalharam uma "mímica objetiva", utilizando ilusão e objetos imaginários, como até hoje se faz, mas foi a "mímica subjetiva" que passou a ser o estudo final, estudando os estados de ânimo, corporais, e emoções. A invenção do andar no lugar de perfil levou muitos outros a desenvolver outras ilusões de movimento no lugar.
Além das suas gloriosas experiências de juventude, Barrault é muito mais conhecido pelo seu papel de Jean Gaspard Deburau no filme Les Enfants du Paradis. O filme introduziu o que era considerado o estilo de pantomima de Deburau, Barrault consultou para tanto o mímico Georges Wague, tornando esse estilo um sinônimo da mímica para grandes platéias. Ironicamente, os dois atuaram no filme muito depois de haver perdido o interesse pelo estilo da pantomima-arlequina (pantomime-harlequinade).
A ênfase de Barrault durante seus primeiros anos, e pelo resto da sua vida, foi sobre os aspectos físicos da atuação, e ele incorporou a mímica em seus processos altamente imaginativos de produção de espetáculos. Na peça "Rabelais," 1968, seus atores utilizavam a mímica para representar o nascimento de Gargantua, animais, a forma e o movimento do navio, e realizou diversas seqüências de mímica com narração.
Marcel Marceau
Marcel Marceau dispensa uma apresentação da sua importância e influência. Ele literalmente criou um público para a mímica no seu tempo, e também fomentou o desejo de ser mímico de inúmeros artistas. Marceau atraiu tanto o público de teatro nas suas tournes desde 1949, como o público popular através das suas diversas aparições na televisão. Seu caminho para a fama foi meteórico, apresentando-se no mundo todo em poucos anos.
Para a maioria do público mímica está associada diretamente ao trabalho de Marceau. Ele próprio assume a Chaplin uma grande influência no seu trabalho entre outros, como o próprio Decroux, quem fora seu professor na escola de Dullin em 1946. A maquiagem de Pierrô e o estilo anedótico de Deburau(pelo que se sabe dele) são toques franceses, e o seu personagem (Bip) é Chaplinesco e clownesco. Marceau criou também outros estilos de pantomima, como a mímica abstrata e mímica elíptica.
Como praticamente primeiro e certamente mais conhecido mímico nos Estados Unidos, ele serviu de modelo para muitos aspirantes a mímico. Além disso, o público passou a esperar (exigir) por números semelhantes aos de Marceau, e alguns artistas encontram dificuldades em terem outros estilos aceitos pelo público. Na realidade, nenhum estilo pode ser mantido como sagrado, e o próprio Deburau foi acusado de falta de fé no seu próprio trabalho. Se falarmos em imitação, a resposta de Marceau é que os alunos deveriam imitar a sua técnica, porque deste modo a forma artística seria preservada; a partir daí eles deveriam desenvolver sua própria caraterização, seus próprios conceitos. Ele chama este processo de "imitação com continuação"; pois os alunos devem continuar pelos seus próprios caminhos artísticos.
Jacques Lecoq
Jacques Lecoq é primariamente um professor, às vezes diretor, e tem o conceito mais amplo de mímica dentre os quatro. Ele chamou a sua escola em Paris de Escola Internacional de Teatro e inclui muitas técnicas diferentes do treino físico, sem pretender perpetuar a mímica numa forma definida, estruturada, convencional. Lecoq vê a mímica de duas maneiras: como uma forma artística em constante transformação, e como uma fonte de confiança para diversas formas dramáticas, para a dança, música, arquitetura, literatura, entre outras. Emboras integrantes dessas categorias profissionais se vejam atraídos por essa escola, a maioria dos alunos é constituída por mímicos, atores e diretores.
Lecoq na juventude era um atleta e paramédico para atletas; seu interesse pela mímica teve origem em um grupo de estudos, no qual foi pupilo de um notável professor de educação física. Durante uma apresentação com o seu grupo em Grenoble, Lecoq foi visto por Jean Daste que prontamente o convidou para integrar a sua companhia. Atuou como ator na trupe e foi encarregado do treino físico. Depois disso, foi para Itália onde lecionou na Universidade de Teatro Pádua e no Piccolo Teatro di Milano; após alguns anos voltou a Paris e abriu sua escola em 1956.
Essas são as origens da mímica de hoje em dia. Os quatro, formados dentro da ótica de Copeau, são diferentes em suas contribuições para a mímica: o estilo e a técnica meticulosa de Decroux, a integração da mímica com o teatro falado de Barrault, Os sketches e as abstrações simbólicas de Marceau, e a preocupação abrangente de Lecoq com o movimento.
Provavelmente a maioria dos mímicos e professores de mímica hoje em dia tem origem direta ou indiretamente nas fontes francesas. O Grande Quarteto Francês deram início a uma onda de interesse crescente pela mímica moderna, uma onda que nós estamos encantados em poder seguir e que ainda não foi exaurida.
Com a gentil permissão de Victor de Seixas,
Vejam mais no site http://www.mimicas.com/
por Andrea Pita
para o TEATRO RITUAL,
em 27/01/2011, às 16:00
Ele é do Rio e atualmente mora em São Paulo. Victor Seixas ficou durante uma semana e meia com o Teatro Ritual, tempo no qual o grupo teve contato com muitas técnicas desenvolvidas a partir de Étienne Decroux, criador da Mímica Corporal Dramática e considerado o pai da mímica moderna. Num dos intervalos do curso, aproveito para entrevistá-lo. Sempre utilizando gestos para falar, Victor diz que todo mímico, por estranho que pareça, gosta muito de falar. Que quando encontra Calado(sic!), outro mímico, que os dois brigam para poder falar.
Bom, somos todos ouvidos, Victor, pode falar à vontade.
AP: Victor, fala um pouco de como foi seu caminho na vida artística...
VS: Antes mesmo do teatro, eu era interessado por movimento. Era apaixonado por balé desde uns 11 anos, mas sem coragem...eu estava sendo educado para ser jornalista, um pensador de certa forma. Então fiz algumas aulas mas não segurei, larguei... e meus pais me colocaram na aula de inglês. Com 15 anos resolvi voltar. Mas aí eu tive um problema de saúde, fiquei quase um ano usando muleta para recuperar a perna... Segui a vida, me formei como técnico em comunicação. Radialismo, comunicação e marketing.
Durante esse período tive uma namorada que prestou para Escola de Teatro Martins Pena no Rio,acompanhei ela no processo, mas ela não passou e também acabamos terminando. Bem, anos depois, teve um dia, passando na frente desta escola com um amigo, é um casarão antigo no centro do Rio, entramos para dar uma olhada e de longe assisti um pouco de uma aula ministrada por Richard Riguetti, ele usava bastões, cambalhotas, todos vestidos de preto, achei aquilo lindo.
Resolvi entrar no curso para quem sabe perder um pouco da vergonha, daí em diante não parei...
Depois fui fazer a Escola Nacional de Circo no Rio que havia reaberto, isso devia ser em 92 e lá era bem rígido, principalmente com atores, e na sua festa de 20 anos, dei uma entrevista que meti o pau em usar animais no circo e disse que não tinha interesse em seguir carreira em circo tradicional... A matéria foi publicada no Jornal O Globo, e ficou colado no mural da escola, não fiquei muito popular com os professores... A escola nesta época fazia um exame de admissão depois dos primeiros 6 meses de aula, e os alunos tinham que conseguir cumprir com um mínimo de exercícios propostos, cambalhotas, movimentos simples no trapézio, etc, e neste teste me reprovaram, apesar de ter feito acima do que era preciso...
Na época isso me deixou bem chateado, mas no final foi o que me colocou na direção que estou hoje, porque entrei em uma oficina de circo do SATED que era realizada no Circo Voador na Lapa, lá acontecia muita coisa ao mesmo tempo, e foi onde tive meu primeiro contato com dança contemporânea e conheci um mímico que estava fazendo aulas de palhaço, o Jiddu Saldanha. Achei a forma que ele se movia, articulava fascinante, estranho, diferente... Nesta época não tinha idéia do que era mímica. Achava que era aquele jogo...aquele...
AP: De imagem e ação?
VS: É. Bom, fiz oficinas com ele e depois fui pra São Paulo. Fiquei atrás do Fernando Vieira um tempo... Na época não tinha internet, livros, eram poucos profissionais que necessariamente não eram acessíveis. Era algo muito solitário. Fiquei 9 anos assim, um workshop alí, outro lá, treinando sozinho ou com poucos amigos.
E a partir de mais ou menos de 95 comecei a assinar meu trabalho como mímico e palhaço, essa foi a única herança que carreguei do circo...
Nesse ano estreei meu primeiro trabalho solo, chamava “One clown show!”, dentro da linguagem do palhaço e mímica. Vivi quase exclusivamente deste espetáculo pelo menos 1 ano, viajando São Paulo e interior. Era raro solo de palhaço na época...
Mas chegou um momento que fiquei cansado de subir e descer escada, de parede invisível... queria mudar um pouco, mas não sabia muito para onde ir, isso era meados de 1997/98, quando internet começava a ficar mais acessível e comecei a pesquisar a história da mímica. Era engraçado, percebi que os livros de teatro não citavam a mímica, como se não pertencesse às artes cênicas. Tinha o Marcel Marceau, que era famoso, mas eu não queria mais isso, buscava algo diferente do que eu já vinha fazendo, pois como toda forma estética, esse tipo de mímica tem suas limitações. E aí descobri o Decroux, pai da mímica moderna, mas se tinha disponível poucas informações, nada em português e sempre tudo coberto por uma aura estranha, uma figura emblemática, enigmática.
Quando em 99 vi que aconteceria uma oficina de Mímica Corporal Dramática no ECUM em Belo Horizonte, com a Ana Teixeira e Stephane Brodt da companhia AMOK. Tava meio sem grana, mas consegui pagar o curso e não tinha onde ficar, aí falei com uma amiga de BH, que conseguiu um lugar com outro amigo dela, o Guilherme que gentilmente me hospedou em sua casa, e por acaso descobri depois que ele era um dos organizadores do ECUM. Mas enfim, fiquei fascinado por aquilo, havia duas turmas por dia, manhã e tarde, e eu fiz as duas, eu comecei a fazer de manhã e pedia para assistir à tarde. Por fim eles perguntavam se eu queria fazer e lá ía eu. Ficava morto. Era super-puxado, coisa de 6 horas cada turma. Mas valia a pena.
Quando voltei pra SP tava tão animado que resolvi criar um grupo de estudos. Aí fiquei tentando trazer a Ana Teixeira para sampa, mas era difícil, eu não conseguia juntar gente suficiente. As pessoas não se interessavam pela Mímica Corporal.
AP: Que engraçado porque em Campinas era uma perspectiva até relativamente conhecida nessa época. Bom, por causa do Burnier,é verdade. E depois com o Lume...
VS: É, mas nesta época, talvez fosse uma coisa particular de Campinas... Só que tava tão entusiasmado e o curso foi tão avassalador que montei um espetáculo, o M.C.C.R.E.² , (movimentos comuns e cotidianos repetidos ao extremo e ao quadrado) que estreou no Centro Cultural São Paulo. Hoje vejo o vídeo e acho uma bomba, mas acredito que foi algo bem corajoso de minha parte.
Em 2001 meu pai morreu e aí eu pensei, quando a gente quer fazer algo na vida, tem que fazer logo porque tem pouco tempo para isso. Pesquisei qual seria a melhor escola para se estudar a Mímica Corporal Dramática, mas na hora de pedir indicações todos que tinham um certo conhecimento desconversavam, algo bem estranho, mas foi o Luís Louis quem me confirmou a qualidade da escola na Inglaterra. Vendi tudo que tinha, saí todo endividado e cheguei lá com pouquíssimo dinheiro. Fui em 2001, no meio do apagão elétrico, o Brasil estava em recessão econômica, quebrado, triste, nenhuma perspectiva e sem financiamento nenhum, a libra esterlina valia 6 reais e oitenta centavos, a Escola cobrava 300 libras por mês...
Cheguei lá e tinha de arranjar tudo: casa, trabalho, nessa época até que era mais fácil que hoje por lá, até pela questão do visto. Por fim consegui fazer os 3 anos de formação e cheguei a pensar em ficar mais tempo na escola. Quando acaba o curso se decidir ficar mais um pouco, você é automaticamente convidado a ficar na companhia, mas depois de um treinamento tão intenso acabei preferindo sair e continuar estudando técnicas que completassem minha busca.
Quando saí da escola, saí quase sem voz. O clima era muito rígido. Imagina viver 3 anos só aquela realidade, a vida girava em torno da escola, as amizades, a vida social, tudo, era quase como viver em uma nova família. Mas a escola não tinha e acho que ainda não tem, um trabalho de voz adequado para aquele trabalho corporal. Eu tinha uma rigidez , uma tensão na área abdominal forte, não era algo ruim mas precisava de um trabalho de voz específico. Eu quando estudei teatro na Martins Pena no Rio, conheci só o trabalho convencional de voz, que é aquele normalmente usado pro canto lírico que usa muito o abdômen, o diafragma, projeção para fora. E eu saí da escola com abdômen muito seguro e muita tensão no pescoço, então não conseguia falar. Precisava de técnicas complementares. Acabei indo pro Dance Research Studio, onde eles trabalham sobre a técnica de Alexander .
AP: Mas você foi fazer trabalho de voz numa escola de Alexander?
VS: Voz não era o forte e o principal foco deles, na verdade era uma preocupação minha de me mover, dançar e poder falar, cantar ao mesmo tempo. Fazia mais pelo relaxamento, por um corpo mais solto. E isso me abriu, me “salvou”. Pude reencontrar os órgãos dentro do meu corpo. Cheguei com um corpo, saí com outro corpo. E principalmente me ajudou a des-neurotizar, da pressão psicológica e da rigidez quase militar da escola.
Hoje em dia não uso Alexander no processo de treino, mas foi bom ter passado por ele. É como massagem, não tenho o interesse de estudar como se faz massagem, mas gosto de fazer massagem de vez em quando.
Tem gente que precisa pegar o que lhe interessa para criar algo novo, existem vários espíritos diferentes, o meu já não, não sinto a necessidade de criar algo novo, diferente, me satisfaz conhecer, estudar algo em profundidade, neste caso a Mímica Corporal Dramática, que me foi passada com muito carinho e tenho honra de continuar esse processo, mas não acredito em coisas “sagradas” acredito em legado, em aceitar continuar e desenvolver o estudo.
AP: Mas parece que você fez um espetáculo experimentando vídeo...
VS: Tem duas frentes. Separo as 2 coisas, o Núcleo Angatu e o Projeto Mímicas. No Projeto Mímicas eu estou como educador, pesquisador, mímico corporal, compilando técnica para as próximas gerações, onde também é importante preservar e continuar diálogo com a contemporaneidade, cuidando de não tratar a Mímica Corporal como algo sagrado que não pode ser mudado. Como no Pilates, por exemplo - eu fiz Pilates depois de sair da escola de mímica – hoje o Pilates usa bola, borrachinha, anéis, mas no Pilates original não tinha isso, e no entanto isso é puro Pilates, mesmo o próprio Joseph Pilates não tendo usado. A Mímica Corporal também deve estar em desenvolvimento e dialogar com o contemporâneo. Muitas pessoas da minha geração ainda não sacaram como o mundo está diferente. E teve a primeira geração dos professores que estudaram com o Decroux, eu sou da segunda geração e terá uma terceira, minha geração tem a obrigação de deixar algo para a técnica, não apenas copiar a geração anterior. Então a gente tem que compilar, mas também dialogar com o fazer teatral atual, permitindo que a técnica cresça e continue se desenvolvendo, como no exemplo do Pilates.
Com o Núcleo Angatu nós criamos espetáculos, performances, utilizamos a Mímica Corporal mais como treinamento, formação e acrescentamos outros elementos que forem necessários. No “Darwin”, por exemplo, que é um espetáculo da companhia, tenho um trabalho de pesquisa em que não assino como Mímico Corporal, até porque se usar a palavra mímica, a platéia vai querer ficar tentando adivinhar o que acontece, que não é o caso do espetáculo. E eu mesmo não sei se é dança, teatro físico, teatro gestual, dança-teatro, posso entrar em qualquer edital desses, hoje em dia as bordas da criação estão muito ali uma em cima da outra, esses tempos de multi-formações e multi-informação deixaram todos os limites da criação muito próximos, quando não um sobre o outro, mas ainda existem as especialidades, dança é dança, circo é circo, as especialidades são bem definidas com seus treinamentos bem específicos, mas na hora de criar, esse artista não necessariamente precisa seguir definições, pode navegar, acrescentar, misturar...
AP: Eu fiz algumas aulas de mímica na minha vida. Uma oficina com a Denise Stocklos, uma aula com o Burnier, uns treinos com pessoas que estudaram com o Lume,ficava imitando as segmentações olhando as imagens da tese do Burnier... e achava que a mímica era muito dura. Me lembrava um pouco o balé clássico nesse sentido, onde você tem de ter uma postura um tanto quanto rígida e também achar os encaixes certos. Como se as pessoas tivessem sempre que correr atrás de um corpo padrão que necessariamente não teriam. Mas eu estava vendo uns vídeos, vi Decroux, vi Thomas Leabhart e percebi que eles não têm essa tensão toda, pelo contrário...
VS: Tem uma coisa que é a estética que vem junto com a técnica. Por exemplo a discussão eterna sobre palhaço e clown. Vamos analisar a história: como começou o uso do termo clown no Brasil. Na Inglaterra tinha a escola do Gaulier, e lá se fala inglês, palhaço em inglês é clown, não há mais de um termo para se definir por lá. Aí o cidadão vai estudar com ele, aprende a técnica e leva junto a estética do professor, um cara francês, europeu, nascido no século passado, o aluno fica impregnado pela estética dele que pertence a uma tradição francesa, volta ao seu país e mantêm o termo em inglês para diferenciar seu trabalho, mas no final é tudo a mesma coisa, apenas uma diferença na estética, pois o palhaço brasileiro é muito diferente do palhaço francês, são tradições e culturas diferentes. A estética quase sempre vem junto com a técnica, afinal aprendemos copiando, é algo até natural.
Na escola que fiz a técnica vinha junto com a estética. A rigidez então não está na Mímica Corporal, mas em alguns professores, nós trazemos tudo junto e temos depois que passar por um processo de apropriação.
As próprias peças de repertório são um exemplo disso, podemos encontrar muitas variações sobre esse trabalho do Decroux. Mas aí também entra outra questão que é o intérprete. O Decroux era um leão, uma voz profunda, personalidade maior ainda e isso impregnou suas peças, mas era sua estética.
Uma vez um amigo músico me disse. Eu toco Caetano, mas da minha forma, a minha interpretação sobre a obra dele, não anula a genialidade de Caetano na obra, mas se o imitasse sim, isso mataria a obra.
Isso é importante, a apropriação, não sair imitando e copiando exatamente da forma que você aprendeu, pois o objetivo disso é o treinamento e a parte importante dele é aprender a ter autonomia.
As peças e figuras de repertório não são muito interessantes como espetáculo, mas eu com uma parceira de minha companhia, a Rose Prado, fazemos um espetáculo-demonstração como forma de demonstrar o potencial e apresentar o trabalho criado por Decroux. Para sua criação estudamos as formas que aprendi na escola junto com vídeos antigos do próprio Decroux. Recriamos as peças entre os vídeos antigos e mais novos, dependendo do que encaixava melhor ao nosso corpo. Mas veja bem, agora posso fazer isso, porque estou desde 1999 estudando A Mímica Corporal, por isso me sinto capaz de fazer isso, interpretar é algo natural e necessário, mas recriar já é algo que precisa de experiência...
AP: Na mostra que vocês fazem de mímica em SP tem um momento que é voltado para o corpo brasileiro. Como é essa questão para vocês?
VS: Por enquanto é mais uma preocupação, não uma ação concreta, pelo menos ainda. Durante a Mostra, a gente sempre tenta conhecer mais o trabalho dos convidados. Tem por exemplo o George Macarenhas (Círculo de Mimos- BA). Ele tem a maior produção teórica no Brasil sobre mímica e está sempre na ativa, na prática. Vive em Salvador, dá oficina em Salvador. Aí eu sempre pergunto para ele: mas George, e o corpo baiano? E o corpo negro na mímica? Raramente se vê mímicos negros. Dei aula uma vez para um nativo-brasileiro, mas nunca realmente para alguém negro. Para George já é natural. Segundo ele, movimento é universal . Como na música, a teoria musical é a mesma base para tudo e pode ser usada por qualquer raça, qualquer credo. Tudo bem, é uma linha européia, mas nas mãos dos negros americanos nasceu o jazz... no nordeste criaram o forró...
AP: Mas no caso da mímica você tem uma técnica que pode se transformar numa linguagem. E de repente com a criação no Brasil de espetáculos pode-se estar criando novas linguagens que poderão redundar futuramente numa técnica diferente...
VS: Se não me engano, a viola caipira no interior de Minas é tocada em mi menor. Bom, aí veio no Brasil o guitarrista do Rolling Stones, viu e pegou. Hoje é mais uma opção no modo de tocar rock. Acredito que o trabalho do George vai chegar a modificar a técnica que vai ter que servir àquela cultura. Se uma técnica não serve para uma cultura, joga no lixo. A gente no Projeto Mímicas está tentando ampliar o projeto, conseguir mais verba para chamar grupos de pessoas de danças regionais, capoeira, para ter vários elementos juntos. Transmutando você está preservando. Assim aconteceu com o Pilates, que criou uma forma nova de ver a ginástica. Decroux abriu uma porta, categorizou formas de se articular com o corpo e no espaço. Ele (Decroux) antes de tudo era um anarquista, ligado a movimentos políticos, acredito que ele odiaria ver a Mímica Corporal se transformar em uma “seita”, cheia de seguidores. Por isso que foi tão importante para mim o intercâmbio com o Thomas Leabhart, através dele eu pude conhecer um Decroux filósofo, pensador, diferente do Decroux mestre que tinha conhecido por outros professores.
AP: Nem quando ele voltou de Nova York?
VS: Acho que o Decroux ficou traumatizado depois de Nova York. Tenho uma teoria de que foi pra ele um choque cultural. Logo que o Decroux saiu da Vieux Columbier,as pessoas começaram a ver e se interessar. Nova York na época tava em pleno boom cultural e olhava tudo o que acontecia no mundo para trazer para si, Decroux provavelmente chegou lá e sentiu aquele business todo. Quando voltou, mudou radicalmente, se concentrou em sua pesquisa, evitando grandes apresentações, lecionava apenas no porão da casa dele, na periferia de Paris, onde vivia e por vezes fazia pequenas apresentações no seu estúdio no porão ou na cozinha de sua casa.
As pessoas tinham que ser convidadas para assistir e tinham passar por sua palestra nas sextas feiras, e ele falava muito. Decroux depois de NY passou a desenvolver a sua Mímica Corporal como um artesão.
Por causa da Mostra, a gente vai conhecendo pessoas que tiveram contato em diferentes épocas com Decroux, daí cada um tem uma visão. Decroux era capaz de ficar estudando o braço um mês, dois meses, as vezes ficava obcecado com uma parte do corpo e pesquisava aquilo por um tempo, então você acaba encontrando alguém que estudou só 2 meses com o Decroux e para ele, a Mímica Corporal é só estudos de braços por exemplo. O Decroux que Desmond Jones conheceu por exemplo era diferente do Decroux de meus professores, que já era diferente do Decroux do Thomas... O Marcel Marceau por exemplo estudou com ele num momento em que Decroux estava preocupado com a ilusão, com a forma descritiva, e foi isso que ele levou mais adiante...
AP: Como você explica as diferenças entre mímica descritiva e mímica abstrata?
VS: Na mímica descritiva você descreve o objeto. Na abstrata você se preocupa com o estado, a relação de peso, esforço, o estudo da ação do homem quando interage com o mundo físico. Na mímica descritiva, tem a ilusão de puxar uma corda, o interno não importa, mas o que tá fora, o que está no final da corda, enquanto na abstrata se preocupa com o efeito da ação, do esforço de puxar a corda, a transcrição do meu processo emocional e mental enquanto sofro a ação de puxar a corda. É meio clichê, mas é aquela frase do movimento Balhaus absorvida por Decroux, “tornar visível o invisível”.
AP: E o que diferencia a mímica da dança?
VS: Eu gosto de uma definição de Ana Teixeira em que ela diz que Mímica é tudo o que ser humano faz quando não está dançando, ou seja, é a ação do homem no seu meio, mas você pode me dizer, a dança de hoje também faz isso! Hoje a dança é tão ampla, tão complexa , tem tantas pesquisas. Se eu digo que a mímica trabalha com peso, a dança hoje também. Se digo que trabalha com a articulação, a divisão do corpo em partes, a dança hoje também faz isso. Que só a mímica trabalha com o esforço, com a ação do corpo no mundo, também seria mentira. Então penso na essência de cada especialidade, a dança para ser dança precisa de trabalhar sobre a ação do homem no mundo? Não, a dança pode ter isso, mas não necessariamente precisa disso para ser dança. A mímica precisa. Vou pra essência para achar a diferença.
Tem gente que estuda Mímica Corporal e faz um espetáculo de dança contemporânea e tem gente que estuda Mímica Corporal e faz teatro realista...
Eu acredito também que a Mímica Corporal é uma técnica de treinamento, pode-se fazer experimentos e construir um espetáculo de teatro ou de dança com essa técnica, mas a mímica não é dança porque a dança tem signos fortes.
Outra frase que eu gosto é que a Mímica Corporal faz o ator se mover como um bailarino e bailarino ter a força expressiva de um ator.
AP: Algumas pessoas dizem que com Deburaux a mímica consegue independência. Quando você acha que a mímica adquire esse estatuto independente?
VS:
A mímica é algo natural ao homem, é uma das nossas formas de comunicação. Quando não podemos falar, por exemplo em um país que não dominamos a língua, vamos naturalmente tentar nos comunicar pelos gestos, e sempre esteve presente na história das artes, como por exemplo na Commedia dell´arte que se utilizava da mímica, pois como era apresentada em feiras livres barulhentas e também com aquele monte de dialetos da Itália, os atores acabavam se utilizando de arquétipos e do gestual. Quando comecei a fazer pesquisa de livros sobre mímica, descobri que havia mímica como matéria em algumas escolas de balé, tinha por exemplo o portrato de dor que era assim...(faz gesto colocando dorso da mão sobre a testa). A mímica estava presente no teatro umas épocas, na dança em outras, mas nunca como arte autônoma.
Isso começou na França, com os comediantes italianos em Paris. Havia os teatros nobres, oferecidos para os nobres pelo estado e os Teatros privados, que eram para a povo, nos quais os comediantes italianos se apresentavam. Uma vez houve um espetáculo em que os italianos fizeram piadas de mal gosto com a amante feia do rei. O rei, com raiva, não podendo decapitar nenhum dos artistas, que provavelmente não seria uma medida popular, colocou uma lei dracônica em que nos teatros populares não se poderia mais falar. Foi aí que esses comediantes que carregavam toda uma tradição da Commedia dell´arte, criaram um teatro sem palavras, a pantomima ganhou força como forma autônoma, mas esta performance criada pelos comediantes italianos ainda não tinha técnica, era um estilo que foi sendo copiado, algo bem intuitivo. A técnica específica para a Mímica enquanto forma autônoma só acontece com Decroux.
É importante salientar que a mímica vai além da pantomima, que é um estilo dramático que se utiliza da mímica. Como querer resumir dança apenas pelo balé clássico, que é apenas uma das formas de se dançar.
AP: Como é pra você estar convivendo com o Teatro Ritual durante esses dias?
VS: Fico feliz pelo interesse. Sou um entusiasta da mímica. O problema da Mímica Corporal é que ela não é da cultura do supermercado. Precisa de exercício regular, depende da repetição. Fico feliz que tenham interesse em treinar, em conhecer, e como sou contra reserva de informação, conto tudo, e espero que as pessoas façam bom proveito.
Acho legal que se preocupem realmente com pesquisa. Muitas pessoas adoram falar que fazem pesquisa. Mas em geral ,no fundo, só querem e se preocupam mesmo é com os resultados. O discurso é um, a prática é outra, quando é assim, normalmente querem fazer uma experimentação rápida superficial para chegar num resultado final logo.
Fico feliz de estar em contato com gente que tem pesquisa realmente. Mas mesmo sendo contra a reserva de informação não vou entregando o ouro assim tão fácil, só quando vejo que vai ser bem aproveitado, esse é meu capricho. Se o pessoal quer truques, eu não dou, e aí nas aulas eu “maltrato”. Não é para isso que me dediquei tanto tempo pesquisando e ainda sigo insistindo.
No começo era mais difícil, tinha o estigma da palavra mímica, que se fosse resultado somente da herança da pantomima clássica ainda estava bom, mas tivemos aquela coisa de sombra, algo artisticamente, se é que era artístico, de péssima qualidade.
A mímica exige muito e eu fico feliz em ver grupos de fora de SP com mais tempo para desenvolver trabalhos de qualidade, na verdade são os que mais me interessam. Na Inglaterra, por exemplo, tem poucas coisas interessantes na capital, as companhias mais interessantes e com trabalho mais consistente estão no interior, são grupos que trabalham juntos há mais tempo, que têm mais tempo para pensar, de se conhecer, de refletir, contemplar. Algo que não acontece muito nas grandes capitais, devido a loucura da rotina, é a interação entre artistas, se troca muito pouco por falta de tempo para isso, e vejo muitos grupos buscando apenas “truques”, algo que se aprenda rápido se use por um tempo e depois na mesma velocidade será esquecido...
Algumas vezes, sou chamado para resolver “problemas” para certos grupos, que resolvem fazer um trabalho mais físico em São Paulo, mas esquecem que tudo precisa de tempo e dedicação. Montam o projeto, e quando entram na sala de ensaio percebem que não sabem o que fazer com o corpo... Chama o especialista que ele resolve esse problema!
Por exemplo desta rotina louca, em São Paulo tem algumas unidades do Sesc que só contrata um vez o espetáculo, uma vez, mesmo que você tenha apresentado há dois anos atrás e leve seu projeto, eles dizem, mas você já apresentou esse aqui! Querem um espetáculo infantil novo por ano, e o que você faz com o outro? Joga fora? Isso gera essa cultura de supermercado... Além disso, se quiser ter seu projeto aprovado, você tem que ficar criando projetos mirabolantes com milhares de eventos e atividades para conseguir o dinheiro do patrocínio, se transformando mais em “homem de negócios” que artista.
Acho que o Teatro Ritual tem uma linguagem em comum,qualidades e dificuldades em comum. E isso é muito bom, e principalmente parecem saber o que querem em teatro. Com eles foi a minha primeira turma que em pouco dias de treino quase conseguimos montar uma difícil peça de estudos do repertório chamada “ A Fábrica”, de Decroux, não me lembro de ter ido tão longe com outro grupo.
para o TEATRO RITUAL,
em 27/01/2011, às 16:00
Ele é do Rio e atualmente mora em São Paulo. Victor Seixas ficou durante uma semana e meia com o Teatro Ritual, tempo no qual o grupo teve contato com muitas técnicas desenvolvidas a partir de Étienne Decroux, criador da Mímica Corporal Dramática e considerado o pai da mímica moderna. Num dos intervalos do curso, aproveito para entrevistá-lo. Sempre utilizando gestos para falar, Victor diz que todo mímico, por estranho que pareça, gosta muito de falar. Que quando encontra Calado(sic!), outro mímico, que os dois brigam para poder falar.
Bom, somos todos ouvidos, Victor, pode falar à vontade.
AP: Victor, fala um pouco de como foi seu caminho na vida artística...
VS: Antes mesmo do teatro, eu era interessado por movimento. Era apaixonado por balé desde uns 11 anos, mas sem coragem...eu estava sendo educado para ser jornalista, um pensador de certa forma. Então fiz algumas aulas mas não segurei, larguei... e meus pais me colocaram na aula de inglês. Com 15 anos resolvi voltar. Mas aí eu tive um problema de saúde, fiquei quase um ano usando muleta para recuperar a perna... Segui a vida, me formei como técnico em comunicação. Radialismo, comunicação e marketing.
Durante esse período tive uma namorada que prestou para Escola de Teatro Martins Pena no Rio,acompanhei ela no processo, mas ela não passou e também acabamos terminando. Bem, anos depois, teve um dia, passando na frente desta escola com um amigo, é um casarão antigo no centro do Rio, entramos para dar uma olhada e de longe assisti um pouco de uma aula ministrada por Richard Riguetti, ele usava bastões, cambalhotas, todos vestidos de preto, achei aquilo lindo.
Resolvi entrar no curso para quem sabe perder um pouco da vergonha, daí em diante não parei...
Depois fui fazer a Escola Nacional de Circo no Rio que havia reaberto, isso devia ser em 92 e lá era bem rígido, principalmente com atores, e na sua festa de 20 anos, dei uma entrevista que meti o pau em usar animais no circo e disse que não tinha interesse em seguir carreira em circo tradicional... A matéria foi publicada no Jornal O Globo, e ficou colado no mural da escola, não fiquei muito popular com os professores... A escola nesta época fazia um exame de admissão depois dos primeiros 6 meses de aula, e os alunos tinham que conseguir cumprir com um mínimo de exercícios propostos, cambalhotas, movimentos simples no trapézio, etc, e neste teste me reprovaram, apesar de ter feito acima do que era preciso...
Na época isso me deixou bem chateado, mas no final foi o que me colocou na direção que estou hoje, porque entrei em uma oficina de circo do SATED que era realizada no Circo Voador na Lapa, lá acontecia muita coisa ao mesmo tempo, e foi onde tive meu primeiro contato com dança contemporânea e conheci um mímico que estava fazendo aulas de palhaço, o Jiddu Saldanha. Achei a forma que ele se movia, articulava fascinante, estranho, diferente... Nesta época não tinha idéia do que era mímica. Achava que era aquele jogo...aquele...
AP: De imagem e ação?
VS: É. Bom, fiz oficinas com ele e depois fui pra São Paulo. Fiquei atrás do Fernando Vieira um tempo... Na época não tinha internet, livros, eram poucos profissionais que necessariamente não eram acessíveis. Era algo muito solitário. Fiquei 9 anos assim, um workshop alí, outro lá, treinando sozinho ou com poucos amigos.
E a partir de mais ou menos de 95 comecei a assinar meu trabalho como mímico e palhaço, essa foi a única herança que carreguei do circo...
Nesse ano estreei meu primeiro trabalho solo, chamava “One clown show!”, dentro da linguagem do palhaço e mímica. Vivi quase exclusivamente deste espetáculo pelo menos 1 ano, viajando São Paulo e interior. Era raro solo de palhaço na época...
Mas chegou um momento que fiquei cansado de subir e descer escada, de parede invisível... queria mudar um pouco, mas não sabia muito para onde ir, isso era meados de 1997/98, quando internet começava a ficar mais acessível e comecei a pesquisar a história da mímica. Era engraçado, percebi que os livros de teatro não citavam a mímica, como se não pertencesse às artes cênicas. Tinha o Marcel Marceau, que era famoso, mas eu não queria mais isso, buscava algo diferente do que eu já vinha fazendo, pois como toda forma estética, esse tipo de mímica tem suas limitações. E aí descobri o Decroux, pai da mímica moderna, mas se tinha disponível poucas informações, nada em português e sempre tudo coberto por uma aura estranha, uma figura emblemática, enigmática.
Quando em 99 vi que aconteceria uma oficina de Mímica Corporal Dramática no ECUM em Belo Horizonte, com a Ana Teixeira e Stephane Brodt da companhia AMOK. Tava meio sem grana, mas consegui pagar o curso e não tinha onde ficar, aí falei com uma amiga de BH, que conseguiu um lugar com outro amigo dela, o Guilherme que gentilmente me hospedou em sua casa, e por acaso descobri depois que ele era um dos organizadores do ECUM. Mas enfim, fiquei fascinado por aquilo, havia duas turmas por dia, manhã e tarde, e eu fiz as duas, eu comecei a fazer de manhã e pedia para assistir à tarde. Por fim eles perguntavam se eu queria fazer e lá ía eu. Ficava morto. Era super-puxado, coisa de 6 horas cada turma. Mas valia a pena.
Quando voltei pra SP tava tão animado que resolvi criar um grupo de estudos. Aí fiquei tentando trazer a Ana Teixeira para sampa, mas era difícil, eu não conseguia juntar gente suficiente. As pessoas não se interessavam pela Mímica Corporal.
AP: Que engraçado porque em Campinas era uma perspectiva até relativamente conhecida nessa época. Bom, por causa do Burnier,é verdade. E depois com o Lume...
VS: É, mas nesta época, talvez fosse uma coisa particular de Campinas... Só que tava tão entusiasmado e o curso foi tão avassalador que montei um espetáculo, o M.C.C.R.E.² , (movimentos comuns e cotidianos repetidos ao extremo e ao quadrado) que estreou no Centro Cultural São Paulo. Hoje vejo o vídeo e acho uma bomba, mas acredito que foi algo bem corajoso de minha parte.
Em 2001 meu pai morreu e aí eu pensei, quando a gente quer fazer algo na vida, tem que fazer logo porque tem pouco tempo para isso. Pesquisei qual seria a melhor escola para se estudar a Mímica Corporal Dramática, mas na hora de pedir indicações todos que tinham um certo conhecimento desconversavam, algo bem estranho, mas foi o Luís Louis quem me confirmou a qualidade da escola na Inglaterra. Vendi tudo que tinha, saí todo endividado e cheguei lá com pouquíssimo dinheiro. Fui em 2001, no meio do apagão elétrico, o Brasil estava em recessão econômica, quebrado, triste, nenhuma perspectiva e sem financiamento nenhum, a libra esterlina valia 6 reais e oitenta centavos, a Escola cobrava 300 libras por mês...
Cheguei lá e tinha de arranjar tudo: casa, trabalho, nessa época até que era mais fácil que hoje por lá, até pela questão do visto. Por fim consegui fazer os 3 anos de formação e cheguei a pensar em ficar mais tempo na escola. Quando acaba o curso se decidir ficar mais um pouco, você é automaticamente convidado a ficar na companhia, mas depois de um treinamento tão intenso acabei preferindo sair e continuar estudando técnicas que completassem minha busca.
Quando saí da escola, saí quase sem voz. O clima era muito rígido. Imagina viver 3 anos só aquela realidade, a vida girava em torno da escola, as amizades, a vida social, tudo, era quase como viver em uma nova família. Mas a escola não tinha e acho que ainda não tem, um trabalho de voz adequado para aquele trabalho corporal. Eu tinha uma rigidez , uma tensão na área abdominal forte, não era algo ruim mas precisava de um trabalho de voz específico. Eu quando estudei teatro na Martins Pena no Rio, conheci só o trabalho convencional de voz, que é aquele normalmente usado pro canto lírico que usa muito o abdômen, o diafragma, projeção para fora. E eu saí da escola com abdômen muito seguro e muita tensão no pescoço, então não conseguia falar. Precisava de técnicas complementares. Acabei indo pro Dance Research Studio, onde eles trabalham sobre a técnica de Alexander .
AP: Mas você foi fazer trabalho de voz numa escola de Alexander?
VS: Voz não era o forte e o principal foco deles, na verdade era uma preocupação minha de me mover, dançar e poder falar, cantar ao mesmo tempo. Fazia mais pelo relaxamento, por um corpo mais solto. E isso me abriu, me “salvou”. Pude reencontrar os órgãos dentro do meu corpo. Cheguei com um corpo, saí com outro corpo. E principalmente me ajudou a des-neurotizar, da pressão psicológica e da rigidez quase militar da escola.
Hoje em dia não uso Alexander no processo de treino, mas foi bom ter passado por ele. É como massagem, não tenho o interesse de estudar como se faz massagem, mas gosto de fazer massagem de vez em quando.
Tem gente que precisa pegar o que lhe interessa para criar algo novo, existem vários espíritos diferentes, o meu já não, não sinto a necessidade de criar algo novo, diferente, me satisfaz conhecer, estudar algo em profundidade, neste caso a Mímica Corporal Dramática, que me foi passada com muito carinho e tenho honra de continuar esse processo, mas não acredito em coisas “sagradas” acredito em legado, em aceitar continuar e desenvolver o estudo.
AP: Mas parece que você fez um espetáculo experimentando vídeo...
VS: Tem duas frentes. Separo as 2 coisas, o Núcleo Angatu e o Projeto Mímicas. No Projeto Mímicas eu estou como educador, pesquisador, mímico corporal, compilando técnica para as próximas gerações, onde também é importante preservar e continuar diálogo com a contemporaneidade, cuidando de não tratar a Mímica Corporal como algo sagrado que não pode ser mudado. Como no Pilates, por exemplo - eu fiz Pilates depois de sair da escola de mímica – hoje o Pilates usa bola, borrachinha, anéis, mas no Pilates original não tinha isso, e no entanto isso é puro Pilates, mesmo o próprio Joseph Pilates não tendo usado. A Mímica Corporal também deve estar em desenvolvimento e dialogar com o contemporâneo. Muitas pessoas da minha geração ainda não sacaram como o mundo está diferente. E teve a primeira geração dos professores que estudaram com o Decroux, eu sou da segunda geração e terá uma terceira, minha geração tem a obrigação de deixar algo para a técnica, não apenas copiar a geração anterior. Então a gente tem que compilar, mas também dialogar com o fazer teatral atual, permitindo que a técnica cresça e continue se desenvolvendo, como no exemplo do Pilates.
Com o Núcleo Angatu nós criamos espetáculos, performances, utilizamos a Mímica Corporal mais como treinamento, formação e acrescentamos outros elementos que forem necessários. No “Darwin”, por exemplo, que é um espetáculo da companhia, tenho um trabalho de pesquisa em que não assino como Mímico Corporal, até porque se usar a palavra mímica, a platéia vai querer ficar tentando adivinhar o que acontece, que não é o caso do espetáculo. E eu mesmo não sei se é dança, teatro físico, teatro gestual, dança-teatro, posso entrar em qualquer edital desses, hoje em dia as bordas da criação estão muito ali uma em cima da outra, esses tempos de multi-formações e multi-informação deixaram todos os limites da criação muito próximos, quando não um sobre o outro, mas ainda existem as especialidades, dança é dança, circo é circo, as especialidades são bem definidas com seus treinamentos bem específicos, mas na hora de criar, esse artista não necessariamente precisa seguir definições, pode navegar, acrescentar, misturar...
AP: Eu fiz algumas aulas de mímica na minha vida. Uma oficina com a Denise Stocklos, uma aula com o Burnier, uns treinos com pessoas que estudaram com o Lume,ficava imitando as segmentações olhando as imagens da tese do Burnier... e achava que a mímica era muito dura. Me lembrava um pouco o balé clássico nesse sentido, onde você tem de ter uma postura um tanto quanto rígida e também achar os encaixes certos. Como se as pessoas tivessem sempre que correr atrás de um corpo padrão que necessariamente não teriam. Mas eu estava vendo uns vídeos, vi Decroux, vi Thomas Leabhart e percebi que eles não têm essa tensão toda, pelo contrário...
VS: Tem uma coisa que é a estética que vem junto com a técnica. Por exemplo a discussão eterna sobre palhaço e clown. Vamos analisar a história: como começou o uso do termo clown no Brasil. Na Inglaterra tinha a escola do Gaulier, e lá se fala inglês, palhaço em inglês é clown, não há mais de um termo para se definir por lá. Aí o cidadão vai estudar com ele, aprende a técnica e leva junto a estética do professor, um cara francês, europeu, nascido no século passado, o aluno fica impregnado pela estética dele que pertence a uma tradição francesa, volta ao seu país e mantêm o termo em inglês para diferenciar seu trabalho, mas no final é tudo a mesma coisa, apenas uma diferença na estética, pois o palhaço brasileiro é muito diferente do palhaço francês, são tradições e culturas diferentes. A estética quase sempre vem junto com a técnica, afinal aprendemos copiando, é algo até natural.
Na escola que fiz a técnica vinha junto com a estética. A rigidez então não está na Mímica Corporal, mas em alguns professores, nós trazemos tudo junto e temos depois que passar por um processo de apropriação.
As próprias peças de repertório são um exemplo disso, podemos encontrar muitas variações sobre esse trabalho do Decroux. Mas aí também entra outra questão que é o intérprete. O Decroux era um leão, uma voz profunda, personalidade maior ainda e isso impregnou suas peças, mas era sua estética.
Uma vez um amigo músico me disse. Eu toco Caetano, mas da minha forma, a minha interpretação sobre a obra dele, não anula a genialidade de Caetano na obra, mas se o imitasse sim, isso mataria a obra.
Isso é importante, a apropriação, não sair imitando e copiando exatamente da forma que você aprendeu, pois o objetivo disso é o treinamento e a parte importante dele é aprender a ter autonomia.
As peças e figuras de repertório não são muito interessantes como espetáculo, mas eu com uma parceira de minha companhia, a Rose Prado, fazemos um espetáculo-demonstração como forma de demonstrar o potencial e apresentar o trabalho criado por Decroux. Para sua criação estudamos as formas que aprendi na escola junto com vídeos antigos do próprio Decroux. Recriamos as peças entre os vídeos antigos e mais novos, dependendo do que encaixava melhor ao nosso corpo. Mas veja bem, agora posso fazer isso, porque estou desde 1999 estudando A Mímica Corporal, por isso me sinto capaz de fazer isso, interpretar é algo natural e necessário, mas recriar já é algo que precisa de experiência...
AP: Na mostra que vocês fazem de mímica em SP tem um momento que é voltado para o corpo brasileiro. Como é essa questão para vocês?
VS: Por enquanto é mais uma preocupação, não uma ação concreta, pelo menos ainda. Durante a Mostra, a gente sempre tenta conhecer mais o trabalho dos convidados. Tem por exemplo o George Macarenhas (Círculo de Mimos- BA). Ele tem a maior produção teórica no Brasil sobre mímica e está sempre na ativa, na prática. Vive em Salvador, dá oficina em Salvador. Aí eu sempre pergunto para ele: mas George, e o corpo baiano? E o corpo negro na mímica? Raramente se vê mímicos negros. Dei aula uma vez para um nativo-brasileiro, mas nunca realmente para alguém negro. Para George já é natural. Segundo ele, movimento é universal . Como na música, a teoria musical é a mesma base para tudo e pode ser usada por qualquer raça, qualquer credo. Tudo bem, é uma linha européia, mas nas mãos dos negros americanos nasceu o jazz... no nordeste criaram o forró...
AP: Mas no caso da mímica você tem uma técnica que pode se transformar numa linguagem. E de repente com a criação no Brasil de espetáculos pode-se estar criando novas linguagens que poderão redundar futuramente numa técnica diferente...
VS: Se não me engano, a viola caipira no interior de Minas é tocada em mi menor. Bom, aí veio no Brasil o guitarrista do Rolling Stones, viu e pegou. Hoje é mais uma opção no modo de tocar rock. Acredito que o trabalho do George vai chegar a modificar a técnica que vai ter que servir àquela cultura. Se uma técnica não serve para uma cultura, joga no lixo. A gente no Projeto Mímicas está tentando ampliar o projeto, conseguir mais verba para chamar grupos de pessoas de danças regionais, capoeira, para ter vários elementos juntos. Transmutando você está preservando. Assim aconteceu com o Pilates, que criou uma forma nova de ver a ginástica. Decroux abriu uma porta, categorizou formas de se articular com o corpo e no espaço. Ele (Decroux) antes de tudo era um anarquista, ligado a movimentos políticos, acredito que ele odiaria ver a Mímica Corporal se transformar em uma “seita”, cheia de seguidores. Por isso que foi tão importante para mim o intercâmbio com o Thomas Leabhart, através dele eu pude conhecer um Decroux filósofo, pensador, diferente do Decroux mestre que tinha conhecido por outros professores.
AP: Nem quando ele voltou de Nova York?
VS: Acho que o Decroux ficou traumatizado depois de Nova York. Tenho uma teoria de que foi pra ele um choque cultural. Logo que o Decroux saiu da Vieux Columbier,as pessoas começaram a ver e se interessar. Nova York na época tava em pleno boom cultural e olhava tudo o que acontecia no mundo para trazer para si, Decroux provavelmente chegou lá e sentiu aquele business todo. Quando voltou, mudou radicalmente, se concentrou em sua pesquisa, evitando grandes apresentações, lecionava apenas no porão da casa dele, na periferia de Paris, onde vivia e por vezes fazia pequenas apresentações no seu estúdio no porão ou na cozinha de sua casa.
As pessoas tinham que ser convidadas para assistir e tinham passar por sua palestra nas sextas feiras, e ele falava muito. Decroux depois de NY passou a desenvolver a sua Mímica Corporal como um artesão.
Por causa da Mostra, a gente vai conhecendo pessoas que tiveram contato em diferentes épocas com Decroux, daí cada um tem uma visão. Decroux era capaz de ficar estudando o braço um mês, dois meses, as vezes ficava obcecado com uma parte do corpo e pesquisava aquilo por um tempo, então você acaba encontrando alguém que estudou só 2 meses com o Decroux e para ele, a Mímica Corporal é só estudos de braços por exemplo. O Decroux que Desmond Jones conheceu por exemplo era diferente do Decroux de meus professores, que já era diferente do Decroux do Thomas... O Marcel Marceau por exemplo estudou com ele num momento em que Decroux estava preocupado com a ilusão, com a forma descritiva, e foi isso que ele levou mais adiante...
AP: Como você explica as diferenças entre mímica descritiva e mímica abstrata?
VS: Na mímica descritiva você descreve o objeto. Na abstrata você se preocupa com o estado, a relação de peso, esforço, o estudo da ação do homem quando interage com o mundo físico. Na mímica descritiva, tem a ilusão de puxar uma corda, o interno não importa, mas o que tá fora, o que está no final da corda, enquanto na abstrata se preocupa com o efeito da ação, do esforço de puxar a corda, a transcrição do meu processo emocional e mental enquanto sofro a ação de puxar a corda. É meio clichê, mas é aquela frase do movimento Balhaus absorvida por Decroux, “tornar visível o invisível”.
AP: E o que diferencia a mímica da dança?
VS: Eu gosto de uma definição de Ana Teixeira em que ela diz que Mímica é tudo o que ser humano faz quando não está dançando, ou seja, é a ação do homem no seu meio, mas você pode me dizer, a dança de hoje também faz isso! Hoje a dança é tão ampla, tão complexa , tem tantas pesquisas. Se eu digo que a mímica trabalha com peso, a dança hoje também. Se digo que trabalha com a articulação, a divisão do corpo em partes, a dança hoje também faz isso. Que só a mímica trabalha com o esforço, com a ação do corpo no mundo, também seria mentira. Então penso na essência de cada especialidade, a dança para ser dança precisa de trabalhar sobre a ação do homem no mundo? Não, a dança pode ter isso, mas não necessariamente precisa disso para ser dança. A mímica precisa. Vou pra essência para achar a diferença.
Tem gente que estuda Mímica Corporal e faz um espetáculo de dança contemporânea e tem gente que estuda Mímica Corporal e faz teatro realista...
Eu acredito também que a Mímica Corporal é uma técnica de treinamento, pode-se fazer experimentos e construir um espetáculo de teatro ou de dança com essa técnica, mas a mímica não é dança porque a dança tem signos fortes.
Outra frase que eu gosto é que a Mímica Corporal faz o ator se mover como um bailarino e bailarino ter a força expressiva de um ator.
AP: Algumas pessoas dizem que com Deburaux a mímica consegue independência. Quando você acha que a mímica adquire esse estatuto independente?
VS:
A mímica é algo natural ao homem, é uma das nossas formas de comunicação. Quando não podemos falar, por exemplo em um país que não dominamos a língua, vamos naturalmente tentar nos comunicar pelos gestos, e sempre esteve presente na história das artes, como por exemplo na Commedia dell´arte que se utilizava da mímica, pois como era apresentada em feiras livres barulhentas e também com aquele monte de dialetos da Itália, os atores acabavam se utilizando de arquétipos e do gestual. Quando comecei a fazer pesquisa de livros sobre mímica, descobri que havia mímica como matéria em algumas escolas de balé, tinha por exemplo o portrato de dor que era assim...(faz gesto colocando dorso da mão sobre a testa). A mímica estava presente no teatro umas épocas, na dança em outras, mas nunca como arte autônoma.
Isso começou na França, com os comediantes italianos em Paris. Havia os teatros nobres, oferecidos para os nobres pelo estado e os Teatros privados, que eram para a povo, nos quais os comediantes italianos se apresentavam. Uma vez houve um espetáculo em que os italianos fizeram piadas de mal gosto com a amante feia do rei. O rei, com raiva, não podendo decapitar nenhum dos artistas, que provavelmente não seria uma medida popular, colocou uma lei dracônica em que nos teatros populares não se poderia mais falar. Foi aí que esses comediantes que carregavam toda uma tradição da Commedia dell´arte, criaram um teatro sem palavras, a pantomima ganhou força como forma autônoma, mas esta performance criada pelos comediantes italianos ainda não tinha técnica, era um estilo que foi sendo copiado, algo bem intuitivo. A técnica específica para a Mímica enquanto forma autônoma só acontece com Decroux.
É importante salientar que a mímica vai além da pantomima, que é um estilo dramático que se utiliza da mímica. Como querer resumir dança apenas pelo balé clássico, que é apenas uma das formas de se dançar.
AP: Como é pra você estar convivendo com o Teatro Ritual durante esses dias?
VS: Fico feliz pelo interesse. Sou um entusiasta da mímica. O problema da Mímica Corporal é que ela não é da cultura do supermercado. Precisa de exercício regular, depende da repetição. Fico feliz que tenham interesse em treinar, em conhecer, e como sou contra reserva de informação, conto tudo, e espero que as pessoas façam bom proveito.
Acho legal que se preocupem realmente com pesquisa. Muitas pessoas adoram falar que fazem pesquisa. Mas em geral ,no fundo, só querem e se preocupam mesmo é com os resultados. O discurso é um, a prática é outra, quando é assim, normalmente querem fazer uma experimentação rápida superficial para chegar num resultado final logo.
Fico feliz de estar em contato com gente que tem pesquisa realmente. Mas mesmo sendo contra a reserva de informação não vou entregando o ouro assim tão fácil, só quando vejo que vai ser bem aproveitado, esse é meu capricho. Se o pessoal quer truques, eu não dou, e aí nas aulas eu “maltrato”. Não é para isso que me dediquei tanto tempo pesquisando e ainda sigo insistindo.
No começo era mais difícil, tinha o estigma da palavra mímica, que se fosse resultado somente da herança da pantomima clássica ainda estava bom, mas tivemos aquela coisa de sombra, algo artisticamente, se é que era artístico, de péssima qualidade.
A mímica exige muito e eu fico feliz em ver grupos de fora de SP com mais tempo para desenvolver trabalhos de qualidade, na verdade são os que mais me interessam. Na Inglaterra, por exemplo, tem poucas coisas interessantes na capital, as companhias mais interessantes e com trabalho mais consistente estão no interior, são grupos que trabalham juntos há mais tempo, que têm mais tempo para pensar, de se conhecer, de refletir, contemplar. Algo que não acontece muito nas grandes capitais, devido a loucura da rotina, é a interação entre artistas, se troca muito pouco por falta de tempo para isso, e vejo muitos grupos buscando apenas “truques”, algo que se aprenda rápido se use por um tempo e depois na mesma velocidade será esquecido...
Algumas vezes, sou chamado para resolver “problemas” para certos grupos, que resolvem fazer um trabalho mais físico em São Paulo, mas esquecem que tudo precisa de tempo e dedicação. Montam o projeto, e quando entram na sala de ensaio percebem que não sabem o que fazer com o corpo... Chama o especialista que ele resolve esse problema!
Por exemplo desta rotina louca, em São Paulo tem algumas unidades do Sesc que só contrata um vez o espetáculo, uma vez, mesmo que você tenha apresentado há dois anos atrás e leve seu projeto, eles dizem, mas você já apresentou esse aqui! Querem um espetáculo infantil novo por ano, e o que você faz com o outro? Joga fora? Isso gera essa cultura de supermercado... Além disso, se quiser ter seu projeto aprovado, você tem que ficar criando projetos mirabolantes com milhares de eventos e atividades para conseguir o dinheiro do patrocínio, se transformando mais em “homem de negócios” que artista.
Acho que o Teatro Ritual tem uma linguagem em comum,qualidades e dificuldades em comum. E isso é muito bom, e principalmente parecem saber o que querem em teatro. Com eles foi a minha primeira turma que em pouco dias de treino quase conseguimos montar uma difícil peça de estudos do repertório chamada “ A Fábrica”, de Decroux, não me lembro de ter ido tão longe com outro grupo.
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